COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: COISAS DO INTERIOR, COISAS DO RIACHO SECO, DO FEIJÃO E DO MILHO:
RESQUÍCIOS DOS TEMPOS – TRADIÇÃO
Desde menino, criado na região do litoral e do agreste potiguar, VIVI, os costumes do povo de Arês, Nísia Floresta, São José do Mipibu e adjacências.
Era comum, que os proprietários de terras tivessem “moradores”, e que esses se dividissem entre os que se dedicavam à agricultura e os que preferiam o trato dos animais.
Os primeiros, eram os que moravam na propriedade, e se constituíam em plantadores, agricultores ou, simplesmente, trabalhadores.
Os outros eram os vaqueiros, que se dedicavam aos trabalhos com o gado bovino e também com as “miunças” ou “miúças”.
Dependendo da escolha do dono da fazenda, um “eleito”, responderia pelos grupos, e era denominado “capataz”, à imagem dos antigos “feitores” dos escravos, que foram presentes na região.
RESQUÍCIOS DOS TEMPOS – O ADMINISTRADOR
Porém, na região do Mato Grande, onde possui a minha Fazenda Diamantina, entre os moradores era escolhido o “administrador”.
Essa, foi uma figura, que não teve origem nas tradições regionais.
Ela, foi criada pelos empresários, que contaram com os incentivos fiscais, resultantes da política governamental que pretendia o desenvolvimento do Nordeste, decorrente das ações da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE.
Foi a época em que as fazendas beneficiadas, eram tratadas como empresas agrícolas, e, evidentemente, possuíam a figura do “administrador”.
Como imaginar, no Brasil, uma empresa sem um administrador?
O dono, somente, “manda”, e “gasta”, por ser o portador do talão de cheques.
Daí, tantos insucessos.
Relembrando. Os incentivos fiscais, conhecidos como os benefícios do Sistema 34/18, foram assim designados por referirem-se ao Artigo 34 do Decreto nº. 3.995, de 14 de dezembro de 1961, e as alterações introduzidas pelo Artigo 18, do Decreto nº. 4.239, de 27 de junho de 1963, que criaram e regulamentaram os incentivos para as inversões no Nordeste
A SUDENE, era responsável pela aprovação e fiscalização da aplicação dos recursos, de acordo com os planos traçados para o desenvolvimento regional, e o mecanismo permitia a concessão de estímulos fiscais e financeiros, principalmente, a projetos industriais e agropecuários.
Quem viveu a época, se lembra da importância dos “fiscais da SUDENE”
Sem comentários.
Possivelmente, assunto para depois.
COISAS DO RIACHO SECO
O Riacho Seco, se situava na região onde existia a fazenda Zabelê ou Portela, grande indústria de plantação e beneficiamento do sisal, ou agave, e que muito influenciou o comportamento do povo local, uma vez que, constituída de proprietários portugueses, para lá, trouxe costumes exógenos.
Para que se tenha uma ideia, os trabalhadores enfrentavam o sol e o forte calor da região, vestidos com diversas camadas de tecido, a exemplo das regiões desérticas, fato incomum no Nordeste, onde o costume é o de que, quanto menos roupa, melhor, para enfrentar o calor.
Quando Vi pela primeira vez, só comparei com os “tuaregues” que usam véus, em forma de turbantes, deixando apenas os olhos descobertos, cuja função é a de proteger do forte sol do deserto e das rajadas de areia.
VIVI os costumes da região do Mato Grande, e VI a grande diferença do que conhecia, pela minha vivencia no litoral e agreste potiguar.
REFLEXOS
Quando cheguei lá, o meu irmão, João Ferreira, já era proprietário no Município de João Câmara, na região do Mato
Grande, e cuja fazenda se situava nessa área, conhecida como “Riacho Seco”.
João Joca, era o seu “administrador”.
Trabalhando na Fazenda São Luiz, ele tinha lá os seus costumes, ligados à região.
Fui apresentado a um deles, que não tinha nada a haver com o dos portugueses.
Convidado para visitar a fazenda, na hora do almoço, foi colocado na frente de cada um, um prato com um “coculo” de feijão e farinha e no meio da mesa uma tigela com o salgado.
Eu não conseguiria comer todo aquele feijão e farinha, e falei: amigo velho, vamos diminuir essa quantidade de comida.
João Joca falou: “tá cum fastio”? Aqui tem que comer para poder ter “sustança”.
O volume era o que interessava, assim, um costume diferente do agreste, que valorizava a qualidade, contando ainda, com a diversidade.
OUTRA DO ADMINISTRADOR JOÃO JOCA
Essa eu OUVI de João Ferreira.
No sábado, João Joca ia para a feira de João Câmara, e comprava os mantimentos da semana, para alimentação de sua família.
Logo que chegava em casa, já mandava a mulher fazer o cozido e o torrado das carnes, para o acompanhamento do “feijão branco”, aquele do “coculo”.
Na hora do almoço, o ritual era o mesmo que já foi descrito. Um prato cheio de feijão “macáçar” e farinha para cada um, e tome lá mocotó, charque, carne seca e os demais “salgados”, no meio da mesa.
João Ferreira, vendo aquele “estrupício”, falou para o seu empregado: rapaz, é por conta disso que você reclama que o “salgado”, não dá para semana toda.
Você devia dividir as carnes, e, dessa maneira, não iria faltar.
Resposta de João Joca: “Dotô João”, eu sei lá se na segunda feira eu “tô” vivo”?
Era a sua cultura. Era a sua filosofia de vida.
O FEIJÃO-MACÁÇAR OU FEIJÃO-DE-MACÁÇAR
Aproveito a dica do feijão, para transmitir algumas informações, que aprendi.
Várias denominações são usadas para esse feijão branco: “feijão de corda”, “feijão-macáçar” ou “feijão-de-macáçar” e “feijão fradinho”.
Encontra-se também, a denominação “feijão macassar”, sendo essa última, resultante da designação, na língua inglesa, do nome de cidade e estreito da Indonésia, porém não há registro de que esse cultivar seja originário de lá.
Segundo relato sobre sua origem, o mais provável é que os primeiros colonizadores tenham trazido de Madagascar.
Finalmente, registra-se “feijão-macáçar” ou “feijão-de-macáçar”, como as denominações corretas.
Porém, independente do nome, é importante registrar que, quando ele é colhido antes de amadurecer, constitui-se na famosa iguaria, tão apreciada no Nordeste Brasileiro.
O feijão verde.
AS VEZES, O GOVERNO AJUDA
Essa eu VI e OUVI.
Lembro-me, muito bem, que o “feijão verde” dos nossos estados vizinhos, não tinha a cor totalmente verde, como o do nosso Rio Grande do Norte.
Era “mesclado”.
Portanto, o melhor feijão macáçar, do Nordeste, era o do Rio Grande do Norte, e tinha explicação.
Devia-se pois, ao fato de que, o Governo Federal, através do Ministério da Agricultura, num determinado período, distribuiu sementes selecionadas para os agricultores.
Como é costume do sertanejo guardar as boas sementes para o próximo inverno, essa seleção se perpetuou, no nosso Estado.
Veja, como é importante, uma política administrativa correta, e, às vezes, tão simples, e um comportamento inteligente, muitas vezes, herdado dos costumes e comportamentos de ancestrais, que são perpetuados pela educação.
AS VEZES, TEMOS QUE NOS AJUDAR, AJUDANDO
Isso me fez lembrar de um exemplo de comportamento, que VI, num desses vídeos da internet, que querem nos fazer refletir.
Sabemos que os Estados Unidos, primam pela política da competitividade, premiando os mais bem sucedidos.
Uma dessas competições, dizia respeito a produção das espigas de milho mais bonitas do País, e o repórter foi entrevistar o ganhador, já pela quinta vez, perguntando qual o segredo do seu sucesso.
O fazendeiro falou que, para isso, compartilhava com os seus vizinhos, as suas melhores sementes.
O repórter, sem entender, pois os vizinhos estavam entre os seus competidores, pede uma explicação.
O fazendeiro fala, que o vento espalha o polem, e se os vizinhos tiverem um milharal de baixa qualidade, os ventos vão espalhar polem de baixa qualidade, e o milho dele vai resultar ruim.
Daí, somente poderá lograr bons resultados, se também, os seus vizinhos, tiverem bons resultados.
Nada mais lógico, porem pouco praticado.
O POLEM DA VIDA
Transportando.
Conclui-se, que a vida, só será melhor, se as pessoas que estão ao nosso redor, também tiverem o melhor, para que o vento possa espalhar o bem, de forma que a “colheita”, não seja menor do que poderia ser.
Comparando.
Após o período das administrações petistas, o FMI afirmou que o Brasil estava no grupo dos lanternas em “ranking de capital humano”.
Imagine quanto tempo vai exigir para sua reabilitação, uma vez que é coisa que mexe com o comportamento, com a educação e com o aprendizado.
É preciso uma política muito mais complexa, que, simplesmente, a distribuição da semente selecionada do feijão e do milho.
Daí, estarmos vendo o que vem ocorrendo no País, incluindo, além do legislativo, a mais “alta corte” – que não merecem ser nominados em maiúsculas – que reagem, cada um a seu modo, às medidas honestas e moralizadoras do Poder Executivo Federal.
Pense.
Antônio José Ferreira de Melo – Economista, antoniojfm@gmail.com
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