COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: COISAS DO MEU TEMPO DE CRIANÇA –

 

Tenho na lembrança, muitas coisas que se passaram, nos meus tempos de criança.

As vezes, fico comparando com o que se passa nesses tempos atuais, com as coisas das atuais crianças.

Tínhamos uma infinidade de brinquedos e brincadeiras.

Os brinquedos, em sua grande maioria, eram feitos de maneira artesanal, e as brincadeiras eram remanescentes da cultura negra e dos colonizadores europeus, em especial, dos portugueses.

Quando criança, indo para a fazenda do meu tio Alfredo, tive contato com as coisas da região agreste, mais aproximada com os municípios de Arez, Nizia Floresta e São José de Mipibú, palco das atividades que utilizaram o trabalho escravo durante o ciclo da cana de açúcar.

Valei-me, Câmara Cascudo!

VI e VIVI os costumes dos negros, remanescentes da escravidão, que procuravam reproduzir, com o artesanato, aquilo que viam na casa grande, nos engenhos e fazendas.

Nem vou falar das comidas.

Apesar da modernização, muito delas ainda será possível encontrar na região, se, por exemplo, o “camarão de Nizia Floresta”, conseguir sobreviver a sanha destruidora do atual Governo Estadual, com a desculpa de “combater” a pandemia do vírus chinês.

Voltando à “vaca fria”, como diriam os portugueses, comprávamos na feira de São José de Mipibu, bois e vacas, feitos de barro, assim como cavalos e vaqueiros que constituíam as nossas fazendas.

Às vezes, com o dinheiro curto, ou sem o próprio, inventávamos animais, confeccionados com ossos velhos, ou frutas verdes.

Não é possível esquecer os exércitos que formávamos com os soldadinhos de barro, ou de chumbo.

As nossas brincadeiras tinham tudo a ver com o sexo masculino

As meninas, por sua vez, educadas para as tarefas do lar, diferentemente do que quiseram fazer, recentemente, com a tal da ideologia de gênero, faziam com que os pais adquirissem mobílias e equipamentos de cozinha, e chegavam até a promover “cozinhados”, para os quais, as vezes, éramos convidados.

OS NOSSOS TRABALHOS MANUAIS

Como a indústria era incipiente, e, até pelo preço, nós desenvolvíamos habilidades, construindo nossos próprios brinquedos.

Fabricávamos carros de madeira e outros, feitos com latas de leite cheias de areia.

Nenhum era mais famoso que o “carro de cocão”, cujo nome nem sei de onde veio, mas sei que essa estrutura artesanal foi responsável por muitos braços quebrados, pontos na cabeça, joelhos e calcanhares ralados.

Para sua construção, usávamos taboas de caixotes de sabão, que conseguíamos nas mercearias do bairro, e colocávamos rolamentos nos eixos, que arranjávamos nas oficinas mecânicas.

Acho até que o dono da “bodega” se arrependia de ter fornecido os caixotes, quando passávamos a descer a ladeira da calçada dele, fazendo barulho e causando perigo de atropelar algum dos seus fregueses.

Para jogar “trave a trave” nas calçadas, fazíamos bolas com meias velhas, que eram as responsáveis por arrancar muita cabeça de dedo do pé, quando errávamos o chute e acertávamos o mosaico, o cimento, ou o calçamento.

As “corujas”, que construíamos de diversas formas, com palitos de coqueiro e papel celofane, era o divertimento no ar. A cola de grude era feita com goma de mandioca e a linha, surrupiávamos das máquinas de costura das nossas mães.

Hoje ninguém sabe mais o que é “coruja”. O turismo mudou o nome para “pipa”, pois era assim que se chamava no sul do país.

Lembro que construí um projetor de filme. Era uma caixa de madeira, onde tinha uma lâmpada na parte de trás, em seguida um local para a colocação da película e após uma lâmpada transparente cheia d’água que servia de lente.

As películas conseguíamos no lixo do Cinema Rio Grande.

Os dá época se lembram que muitas sessões de cinema eram interrompidas para que o operador emendasse o rolo de filme que quebrava durante a exibição.

Às vezes, encontrávamos películas de filmes proibidos para menores.

Aí, era uma festa.

O projetor era a fonte para nossas brincadeiras e também servia como instrução. A película era colocada de cabeça para baixo, pois a luz projetava a imagem, de forma inversa, na parede.

Coisa, que também nos fazia refletir e encontrar a justificativa

A TRANSFORMAÇÃO DOS COSTUMES

Lembro-me que, após o início da década de 1950, muitos brinquedos surgiram pela importação dos Estados Unidos, o que era uma grande e boa novidade.

Depois, já querendo entender de economia, vim a saber porque isso tinha ocorrido.

Com o aumento das exportações e a diminuição das importações, durante a segunda guerra mundial, o governo brasileiro conseguiu fazer uma grande reserva em dólares, o que diríamos, um grande saldo da balança comercial.

Ocorre que, após a guerra, o Governo Dutra liberou geral, as importações, chegando sua política a ficar conhecida como a “farra dos importados”, gastando as tais reservas, com coisas economicamente inúteis.

VIVI então, o tempo em que os bois e cavalos de barro, foram substituídos por brinquedos de plástico, e lembro que, materiais para escritório, antes não existentes no comércio, passaram a ser coisas comuns.

Lembro disso, pelos comentários do meu pai.

As coisas “para casa”, tipo jarras para suco, copos, pratos e taças, eram as novidades.

Na minha lembrança, ainda tenho o cheiro forte e enjoado das “toalhas de plástico”, que vieram para substituir as “toalhas de pano”, devido a praticidade para limpar.

OS BRINQUEDOS DE HOJE

Hoje, os brinquedos de características infantis, foram substituídos por outros tipos de “brinquedos”, como sejam, os smartphones e tabletes, que tomaram o lugar dos brinquedos “de mesmo”, e tornaram as brincadeiras, “coisas virtuais”.

Mesmo com a inteligência e conhecimentos dos meninos de hoje, pergunte se estariam dispostos a construir um projetor?

Simplesmente, eles não saberiam o que seria fazer um “bicho desse”, embora tenham todas as informações no Google, o que não acontecia na minha época de “construtor”.

Hoje, qual é menino que se propõe, sequer, a fazer uma “pipa”?

Muito pelo contrário. Aporrinha os pais para que seja comprada dos vendedores, nos semáforos, que antigamente a gente chamava de “sinal”.

Por outro lado, as brincadeiras sumiram.

Restaram apenas, jogos de futebol, basquete e vôlei, que ainda são utilizados nas escolas, não com muita frequência, para ocupar o tempo dos meninos, com os ditos “brinquedos”.

Sem dúvidas, tudo muito diferente das coisas do meu tempo de criança.

 

 

 

 

 

 

 

Antonio José Ferreira de Melo Economista, [email protected]

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

Uma resposta

  1. Nossa lendo esse texto me veio à cabeça o quanto de cultura e conhecimento foi ficando com o tempo e com a evolução da própria humanidade.

    Muito disso tudo poderia ter sido resguardado e acredito que teria muita serventia.

    Os tempos mudaram, assim como os brinquedos e brincadeiras também.

    Hoje já sinto uma diferença gritante entre a minha geração e a dos meus filhos. Muitas vezes, chega ser desesperador ver tanta mudança em tão pouco tempo.

    O fato é que podemos, mesmo contrariando a massa, manter e até mesmo resgatar certos costumes saudáveis de qualquer geração e cabe, justamente, á nos fazermos isso.

    Parabéns pelo texto que me vez viajar no tempo.

    😉

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