COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: COISAS DO PERÍODO NATALINO –
O período natalino é marcado pelas confraternizações, dos amigos de trabalho, da cachaça, da família, e, por aí, vai.
O espírito é o da alegria, é o de transparecer a felicidade, tudo, decorrente das tradições, baseadas na comemoração do nascimento de Jesus, que, as vezes, é o último a ser lembrado.
Os assuntos, certamente, variam de acordo com a constituição do grupo, relembrando tempos passados e ocorrências, cujas marcas ficaram, e que, agora, são descritas, muitas vezes, carregadas pelo exagero, para lhes dar um contorno mais relevante.
Nesses dias de agora, estivemos comemorando o Natal, e, na nossa reunião familiar, Flavia Regina, a minha filha, falava sobre quem eram os menos ou mais românticos, dos presentes, me classificando entre os mais.
Fazendo uma avaliação pessoal, de mim mesmo, concluí, que eu até já fui mais romântico.
Pensando bem, a vida vai nos machucando, e a gente vai ficando com menos sensibilidade, para as coisas do romantismo.
Ficamos mais frios, e isso me faz lembrar de uma namorada que arranjei, já nos meus tempos de viuvez.
Conversando com ela e falando no meu filho Flávio Henrique, tecendo elogios ao seu temperamento e de como ele reagia aos problemas que encontrava, classifiquei-o, como uma pessoa fria.
Passado um tempo, aumentaram os nossos desentendimentos, e, quando do desenlace do namoro, ela apelou e insistiu para que o mesmo continuasse, e eu, me mantendo firme, lhe disse que era melhor terminarmos.
Diante do insucesso, se lembrando da história, ela falou: você diz que Flavio Henrique é frio. Frio é você!
O jeito, foi terminarmos o namoro, mas, sob uma grande rizada.
Voltando ao assunto, de minha parte, concluo, sem entender de psicologia, que, talvez, a redução do romantismo, seja uma espécie de defesa natural do comportamento humano, para evitar o abestalhamento da velhice.
O fato é que, a velhice nos faz mais sisudos, e isso nos leva a rir menos, o que não é bom, e até me faz lembrar o título de uma sessão da revistinha “Seleções”, que dizia “rir é o melhor remédio”, e que trazia histórias engraçadas.
Portanto, para não perder a oportunidade de rir, vou contar a passagem de Expedito pelo Sítio Lagoa Velha, nesse período Natalino.
EXPEDITO, O SEU SOBRINHO, E AS HISTÓRIAS ENGRAÇADAS
Nesse Natal, recebi a inesperada e agradável visita de Expedito e do seu sobrinho, que resolveram vir, até o Sítio Lagoa Velha, para me fazer uma surpresa.
Obviamente fiquei muito satisfeito com a visita, pois, há dias não conversava com ele.
Apesar de ser a sua preferência, falar sobre a política do nosso Brasil, por motivos óbvios, tal assunto, foi cortado das conversas.
A possibilidade da desgraça, fazia o tal assunto, desprezível.
De bom, e atual, falamos sobre as chuvas, que segundo ele, há prenúncios de bom inverno, no Seridó, para 2023.
Quanto as suas conquistas amorosas, relembramos algumas, e alguns fatos pitorescos, que não se apagam, embora as figuras, passem a ser, apenas, “retratos” guardados nos álbuns, hoje, nos “pendraives”.
Falamos sobre o hábito de beber uma lapada de Cachaça Extrema, na hora de um bom cozido de mocotó, um picado de porco ou de uma charque gorda com feijão de corda, sem esquecer de um torrado de arribaçã com farinha seca.
Como o IBAMA não estava na escuta, lembramos também de um mocó ou mesmo um preá ou uma nambu, torrados ou assados na brasa.
Em se tratando de Cachaça Extrema, guardada na “friza”, para as noites frias do Seridó, Expedito disse, que sua companhia dos dias de hoje, se chama Cristina, com quem está namorando, “prá vê in qui vai dá”, pois, “pricisa si aquetá”.
Das coisas de Expedito, já tivemos a oportunidade de rir, porém, o seu sobrinho, tem umas “passagens” hilárias, que iniciei a conhecer, quando foi dada, a ele, a oportunidade de falar.
Vou procurar lembrar de algumas.
A NAMORADA QUE FUGIU PELA ESCADA
Para começo de conversa, o sobrinho de Expedito, se chama Leovigilio, cujo nome, por ser esquisito, hoje não é mais usual, porém, contrasta com o seu espírito moderno, alegre e descontraído.
Expedito explica que esse nome foi invenção dos pais dele, que se chamavam Leonorina e Vigilio.
Segundo Leovigilio, que passei a chamar de Leo, a maioria de suas peripécias, ocorreu em seu tempo de “liso”, que não lhe permitia os encontros amorosos nos motéis, tendo que recorrer ao que mais fácil, se apresentasse.
Não me lembro a ordem dos assuntos, mas vou começar relatando esse.
Numa tarde de amor, levou a “suplicante”, que apanhou na hora da entrada do colégio, para o apartamento em que morava junto com os seus pais, pois, naquela hora, eles se encontravam no trabalho.
Porém, não contava, que eles retornariam mais cedo e, ainda mais, trazendo como companhia, a sua avó materna, que, obviamente, não concordaria com aquele encontro amoroso.
Sendo um apartamento pequeno, não havia como dar escapatória à “vitima”, sem que não passasse pela sala, onde a avó e os pais conversavam, esperando a hora do jantar.
Também, não poderia esperar que toda a visita se consumasse, pois a menina deveria chegar em casa, no horário logo depois de “acabar as aulas”.
Diante desse quadro, mesmo no aperreio, Leo conseguiu “bolar” uma escapatória.
Sendo o seu quarto no primeiro andar, por sorte, como estavam fazendo serviços de pintura, havia uma escada do pintor, e foi por ela que a jovem amante conseguiu escapar.
Sufoco grande.
O ENCONTRO NO APARTAMENTO DA NAMORADA
Esse sem dúvida, foi mais complicado e arriscado.
Visitando Natal, conheceu uma linda ninfeta com quem passou a namorar.
Sendo ela de “classe alta”, encontravam-se nas tardes, pois a mãe não lhe deixava sair “de noite”, e o local dos namoros, era o salão de recepção do seu luxuoso edifício, que, além de confortáveis sofás, ficava longe do olhar dos “curiosos”.
Uma certa tarde, como os “amassos” iam progredindo, ao “esquentar as orelhas”, como disse ele, a garota lhe convidou para darem prosseguimento no seu quarto, o que seria possível, pois os seus pais não estavam em casa e nem a empregada.
Negócio proposto, negócio aceito.
O fato é que esqueceram que a hora passa, e, lá pras tantas, ouvem o som da televisão, que foi ligada na sala.
Resumindo. Os pais tinham chegado e estavam assistindo a TV.
Escapar, com a utilização de escada de pintor, como no outro caso, seria impossível, uma vez que o andar era dos mais altos do edifício.
Resultado da ópera. A ninfeta foi para a sala, “distrair” os pais, e ele, se arrastando por trás do sofá, conseguiu chegar na cozinha e sair pela área e elevador de serviço.
Como conheci esse prédio de apartamentos, onde ocorreu o fato, pude imaginar, como o caso se passou.
A NAMORADA DERRETENDO NO SOL
Depois de uma farra grande, de bebida, Leovigilio e a namorada do dia, vão dormir no apartamento dos pais dele, que estavam viajando.
O fato é que os dois estavam completamente embriagados, e, quando chegaram no destino, ela, dormindo um sono profundo, não conseguiu acordar e ele estacionou o carro na frente do prédio e subiu.
No entanto, os pais dele tinham chegado, e como mãe é mãe, a dele, preocupada, pois já clareava o dia e o filho não chegava, olhando da varanda, viu a chegada do casal e se recolheu ao quarto, para que ele não lhe visse, quando subisse ao apartamento.
Horas depois, já ao meio dia, como não acordassem para comer alguma coisa, Leonorina bate na porta do quarto, e quando ele abre, a acompanhante não se encontrava lá.
Ela, não resistindo a curiosidade, pergunta pela namorada e ele bate com a mão na testa, como que surpreso, e diz: por amor de Deus, ela ficou no carro e deve estar no sol.
Correm até lá, e encontram a coitada se derretendo em suor, como que desmaiada, e já, quase respirando com dificuldade.
Um grande susto e a célebre promessa de não repetir.
FINAL DE NOITE
Como Monte das Gameleiras está ficando moderna, paramos as conversas e resolvemos ir beber um vinho no Restaurante Delícias da Josy, cuja dona, além de ser uma pessoa bonita e muito agradável, tem uma cozinha muito boa, uns tira-gostos excelentes e também, sobremesas deliciosas.
Aí, o papo rendeu.
Tivemos que ligar para Niel e pedir que trouxesse um reforço de Cachaça Extrema, que é a preferida de Expedito.
Foi assim, que terminamos os papos, sem que antes, Expedito ligasse para Cristina, para fazer as suas declarações de amor.
Voltamos para o Sítio Lagoa Velha, escutando Fagner cantando “Festa da Natureza”. E Expedito repetindo, com sua voz desentoada:
Chegando o tempo do inverno
Tudo é amoroso e terno
No fundo do pai eterno
Sua bondade sem fim…
Como Leovigilio estava calado, perguntei se tava tudo bem, e se ele estava satisfeito com as coisas de Monte das Gameleiras.
Então, foi quando ele disse, que apesar da noite ter siso excelente, lamentava que a ajudante de Josy, apesar de bonita, era casada.
Como ele soube disso, eu não sei.
No Sítio Lagoa Velha, nem precisaria de escada.
Porém, nem tudo é perfeito no período natalino.
Antonio José Ferreira de Melo – Economista -antoniojfm@gmail.com
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