COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: COISAS DO RECIFE DOS ANOS 60, O APARTAMENTO DO DERBY E SEUS DESIGUAIS UNIDOS –

 

O APARTAMENTO DO DERBY

Nos anos 50 e 60, a nossa UFRN ainda começava a dar os seus primeiros passos e era comum a reunião de diversos estudantes, que alugavam imóveis e formavam as famosas “repúblicas”, em Recife, para poder ter acesso ao curso superior.

A nossa “república” se situava no Bairro do Derby, em apartamento pertencente ao Deputado Adelmar de Costa Carvalho, que somente foi alugado pelo prestígio do Senador Dinarte Mariz, amigo do proprietário. Caso contrário, não seria disponibilizado, pois se tratava de um edifício “familiar” e estudantes não eram “bem vistos”.

Sim, ainda tem mais, “oficialmente”, o número de inquilinos era 4 e enquanto estive por lá, os 8 eram: João Ferreira, Cláudio Procópio e Eduardo Maia (falecido recentemente), que ocupavam um dos quartos. Eduardo Mariz, de saudosa memória, e Edgard Dantas outro e eu, Muriel e Tulio Fernandes o terceiro.

EXEMPLO DAS COISAS DE CADA UM

MURIEL

Muriel saía para a faculdade e depois se envolvia nas brincadeiras com a sua turma, indo, muitas vezes, dormir na casa dos colegas.

Pelas suas ausências continuadas, dificilmente estava no apartamento quando a lavadeira passava para pegar a roupa suja e, como consequência, terminava sem roupa limpa para vestir.

E agora? das duas uma. Ou “tomava emprestado”, sem o dono saber, ou “escolhia” uma das roupas sujas para vestir.

Na segunda hipótese cheirava o sovaco da camisa e a que estivesse menos fedorenta era a escolhida.

Não posso deixar de contar outra de Muriel, que tem muitas.

À época, o “Recife Velho”, era onde se encontravam os cabarés e também os “recursos”, que eram os motéis daquela época, e se localizavam nos velhos sobrados.

Muriel e um de nós foi tentar uma aventura por lá e, após conseguirem as companhias, saem os dois pares, combinando o local de se encontrar, ao final da “noitada”.

Terminando o “serviço”, Muriel vem para o ponto de encontro, e devido ao estado etílico, como sempre, adormece.

Quando chega o outro par, a mulher que chegava pergunta para a outra: como foi? E ela apontando para Muriel, dormindo na calçada, diz: “num” tá vendo? A outra então fala: também neguinha, tu vai sair com um traste desse…

TULIO

Além do seu comportamento metido a esnobe, Túlio também era pintor, cujos quadros doava como agrados?

Um desses quadros perguntei a quem era destinado e ele falou que era para uma linda moça com quem estava iniciando o namoro.

Dias depois da obra concluída, precisando fazer uma ligação telefônica para Natal, fui no apartamento de uma das velhas solteironas que morava no prédio. Assim que entrei, dei de cara com o quadro na parede da sala.

EDUARDO MARIZ E EDGARD DANTAS

Os companheiros de quarto, Eduardo Mariz, estudante de medicina e Edgard Ramalho Dantas que cursava geologia, não guardavam nenhuma identidade.

Eduardo era organizado e vaidoso. Frequentando a melhor sociedade Recifense, andava na moda, e dispondo de melhores condições financeiras que os demais, era o único a possuir automóvel.

Edgard era exatamente o inverso. Embora fosse uma das figuras mais inteligentes de sua geração era tão relaxado e tão descuidado, que o chamávamos de “Todo Leso” – na época não existia o bullying.

Edgard, muitas vezes, saía para a aula e não voltava por vários dias, pois esquecia que tinha excursões programadas às áreas de mineração. Quando chegava na Faculdade os colegas falavam: vamos viajar agora para Currais Novos. Ele coçava a cabeça e dizia: é mesmo? Então vamos. Viajava com a “roupa do corpo”, para escavar solo, extrair pedras etc.

Em uma dessas viagens “de surpresa”, Edgard tinha “tomado emprestado” de Eduardo, sem ele saber, um par de meias de “ban-lon”, último lançamento. Com os seus coturnos do Exército e as meias de Eduardo foi para a aula que durou uma semana. Chegando de volta ao Recife, foi para casa, tirou as meias e as jogou debaixo da cama, tomou um ligeiro banho – pois não era fanático – e saiu.

Eduardo, retornando da Faculdade, ao entrar no quarto, se espanta com o mau cheiro reinante no ambiente. Escandaloso, como era, chega na sala onde estávamos, reclamando da sujeira e pergunta a Nicinha, nossa “Governanta”, pelas meias que faziam conjunto com a camisa nova, pois queria usar numa festa do Iate Clube e não estava encontrando.

Nicinha foi em busca de retirar o mau cheiro e procurar as meias. Ao passar a vassoura debaixo da cama encontra um lixo e quando vem passando com o achado, Eduardo diz: o rato podre vem aí. Aproximando-se pede que ela veja o que é uma bola preta. Em meio a surpresa, conclui: vejam, são as minhas meias novas “de ban-lon”.

Este não foi o primeiro e nem o último caso dos “empréstimos” à Edgar, que tinha em Muriel um grande concorrente.

Nós éramos assim: desiguais, mas unidos.

NICINHA

Nicinha era a nossa “governanta”, porem, para todos do seu relacionamento, dizia que trabalhava num apartamento de idosos. Na época, chamava mesmo de velhos.

Uma mulher nova, que não era de se jogar fora, mantinha com alguns dos seus patrões um “alegre” relacionamento, um fortuito “namoro”, sem que isso se constituísse em assédio.

Nos seus verdadeiros namoros ela não era lá tão fiel quanto deveria ser, e o seu namorado mais recente, tinha as suas desconfianças.

Num final de semana ela dá uma desculpa para não acompanha-lo e atendendo a outro convite, se manda para um forró ou baile.

Como o mundo é pequeno, dá de cara com um amigo do namorado e não precisa dizer que a informação foi logo repassada.

Rimos muito quando ela nos mostrou a “carta” de rompimento da relação. O namorado traído falava das decepções amorosas e concluía com a frase de uma música de Nelson Gonçalves, conhecida como de “roedeira”: SEGUE O TEU CAMINHO MARIPOSA.

Ríamos muito, e ela também.

Antônio José Ferreira de MeloEconomista

 

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