COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: COISAS DO SETOR PÚBLICO ESTADUAL – Antônio José Ferreira de Melo

COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: COISAS DO SETOR PÚBLICO ESTADUAL –

O início de minha vida profissional, foi marcado por uma coincidência, surgida de uma oportunidade.

Me candidatei a um concurso para auxiliar de pesquisas da Assessoria de Planejamento Coordenação e Controle do Governo do Estado, cujas provas aconteceram no mesmo local e quase no mesmo horário da última prova do meu vestibular para a Faculdade de Economia.

Consegui fazer as duas e passei nas duas.

Paralelamente, como eu estava procurando emprego, Arturzinho, que vem a ser Artur Ferreira, meu primo e meu amigo, uma vez que tinha acesso ao sistema político e administrativo do Governo Aluízio Alves, com a sua habitual impaciência, conseguiu me indicar para várias repartições.

As minhas nomeações foram publicadas no “bacurau” – que, ao final, eu conto o que era, para conhecimento dos mais novos.

Diante das várias opções publicadas, fomos pedir a opinião do Governador Aluízio Alves e ele disse: é melhor você assumir o emprego para o qual fez o concurso, pois fica na sua área de formação, que seria a de economia.

Foi pra lá que eu fui e foi a minha escola de vida profissional.

A ASSESSORIA

A Assessoria de Planejamento Coordenação e Controle – APCC, funcionava no Palácio do Governo, onde estavam instalados o Gabinete do Governador, a Casa Civil, a Assessoria Jurídica e a Assessoria de Imprensa.

Nessa época, a estrutura administrativa do Governo do Estado resumia-se ao essencialmente necessário.
Isso, porque foi antes do “inchamento” da máquina pública, quando os governos foram “adotando” pessoas, para acomodar correligionários.

Para que se tenha uma ideia, o Planejamento Estadual cabia em duas salas e, se apertasse, cabia numa só.

Hoje, segundo dizem, não cabe em dois grandes prédios.

Nós trabalhávamos, mas também nos divertíamos.

A ADMINISTRADORA GERAL DO ESTADO

SEVERINA, que se intitulava ADMINISTRADORA GERAL DO ESTADO, era uma “sem juízo”, que andava com uma faixa, tipo essas de misses, onde, se não me engano, estava escrito: IMPERATRIZ.

Provavelmente, quem mandou confeccionar se baseou no fato de que ela se dizia prima da rainha da Inglaterra. Portanto, de sangue nobre.

Ela era grande frequentadora do Palácio e, quando chegava na Assessoria, destinávamos um de nós, que estivesse menos ocupado, para a função de datilógrafo, para que ela ditasse suas “determinações”.

Caso contrário, não conseguíamos trabalhar.

Como durante o expediente ela “visitava”, à pé, todas as repartições do Governo Estadual e não tinha “tempo” de tomar os banhos necessários, colocaram nela o apelido de “bacalhau”, coisa que lhe deixava irada.

As vezes, nós achávamos que SEVERINA não era de todo doida, mas ninguém queria trocar o seu juízo pelo dela.

Ela nutria uma paixão pelo Ajudante de Ordens do Governador e tinha ciúmes de uma das secretárias do gabinete.

Uma vez escutamos um grande barulho e pensamos que o piso do Palácio estava vindo abaixo.
Severina, num momento de raiva, jogou um cinzeiro contra a secretária que ela “detestava”, e atingiu um espelho que cobria toda a parede.

Imagine o desastre.

Severina reinou, sendo a “Administradora Geral”, por vários governos, mas não sei como foi o seu final de vida.

SEU DJALMA

Tínhamos um funcionário, como “contínuo”, de limitados conhecimentos, inclusive sobre as coisas da administração que devia saber, e, as vezes, botávamos ele para “bestar”.

Uma dessas vezes, mandamos que ele fosse apanhar umas folhas de “carbono pautado”, coisa inexistente, dizendo que elas eram muito importantes para concluirmos um trabalho para o Governador.

Ele só deveria voltar, depois de conseguir o material em alguma repartição do Governo do Estado.

O pobre do Djalma só chegou no final da tarde, esbaforido, e sem o “papel carbono pautado”, que, obviamente, seria impossível conseguir, pois não existia.

Para conhecimento dos mais novos, as folhas de “papel carbono” eram colocadas entre as folhas de “papel ofício”, e serviam apenas para a obtenção de cópias do documento que estava sendo datilografado.

As cópias, tipo “xerox”, ainda não tinham sido inventadas.

ACONTECÊNCIAS NO PALÁCIO DO GOVERNO

“Tororomba” era uma morena que fazia “caridade”.
Se fosse hoje, seria classificada como uma “garota de programa”, e era muito íntima de uma das autoridades do Governo.

Por conta disso, era “habitué” das salas do Palácio e conhecida de todos.

Ela tinha uma particularidade: possuía dois grandes “airbags”.

Certa vez, no final da tarde faltou energia e estava tudo escuro. Claudio Burrão em pé, no batente da porta, conversava com ela.
Vim por trás dele, dei um beliscão em Tororomba e corri.
Pulei a janela e entrei pela porta principal do Palácio, de forma a demonstrar minha inocência, pela ausência.

Ela estava fazendo um barulho danado e Burrão tentava justificar que não tinha sido ele. Sem sucesso.

 

O ANIVERSÁRIO DA AMANTE

Uma autoridade governamental, com gabinete no Palácio, que no Governo de Aluízio se chamava Palácio da Esperança, possuía uma amante, coisa que, segundo diziam, era do conhecimento recente de sua “braba” esposa.

No dia do aniversário “do encosto”, notamos, eu e Burrão, desde o início do expediente, a presença da esposa traída acompanhada da empregada dela, na praça André de Albuquerque, vigiando os passos do “infiel marido”.

Eu não tinha essa intimidade toda com o marido infiel, mas sabia o tamanho do rebu que ia acontecer. Embora contrariando a opinião de Burrão – que queria ver a “desgraça” – resolvi contar a ele o que estava ocorrendo.

Liguei pelo interfone, lhe esperei fora da sala e falei: não tenho nada a ver com a vida do senhor, mas sua mulher, desde o início do expediente, está aí na praça, provavelmente, lhe pastorando.

A reação dele foi de grande e engraçado espanto, mas me agradeceu pelo aviso.

Soube depois, pelos motoristas, que não houve o encontro amoroso de comemoração e, graças a mim, o Governo escapou do escândalo.

OS “ACEÇORES” DO GOVERNO

Como Gerenciávamos o Fundo de Participação dos Estados – FPE e o Fundo Especial – FE, recebíamos os secretários, prefeitos e políticos – interessados no destaque de recursos – e fazíamos uma avaliação prévia, uma vez que a decisão era do Governador.

Um Secretario, com dificuldades na escrita, apesar de sua patente, desejava fazer um pleito para a sua secretaria.

Orientamos que fizesse um ofício dirigido ao Secretário da Assessoria de Planejamento, para que pudéssemos dar um parecer, antes de ser encaminhado ao Governador.

Ele escreveu, ACEÇORIA e eu falei. Secretário, me permita: é com S. Ele escreveu ASEÇORIA. Eu voltei a orientar: tem outros S e ele finalizou ASSSESSSSORIA. Então, pedi. Se o senhor não se incomoda, me dê que eu datilografo.

Resolvido o problema.

AGORA, A HISTÓRIA DO BACURAU.

Antigamente, tudo era possível para quem tinha o poder na mão.

Porém, Aluízio Alves, mesmo Governador, tinha um prazo limite, para fazer nomeações, em função das eleições.

Chegando a data limite, no apagar das luzes, saiu uma edição normal do Diário Oficial e ao “apagarem-se as luzes”, ou seja “no escuro”, saiu uma edição extra do DO, que não circulou normalmente, com um “porrilhão” de nomeações, entre elas, as minhas.

A oposição denominou a edição extra do Diário Oficial, de “BACURAU”.

POR QUÊ?
PORQUE BACURAU É UM PÁSSARO DE HÁBITOS NOTURNOS.
NÃO SAI DURANTE O DIA.

 

Antônio José Ferreira de MeloEconomista – antoniojfm@gmail.com

 

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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