COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: COISAS DOS BARES DE ANTIGAMENTE –
A TENDA DO CIGANO
O BAR
A TENDA era um ajuntamento de bebedores brincalhões.
Todas as tribos se reuniam lá, sem problemas.
Vez por outra uma confusão, mas, sem grandes consequências.
Valdemar e o Cigano eram os proprietários.
Ali, começávamos a beber no início do dia, bebíamos durante o dia ou terminávamos as noites bebendo.
Não tinha grandes diferenças.
Os tira-gostos e as bebidas de qualidade, faziam parte do cardápio da TENDA DO CIGANO, e até hoje falamos da cerveja estupidamente gelada e do inigualável caldo de feijão à cavalo, sem esquecer a linguiça com cebola e a carne de sol.
Recentemente alguém me falou que um bar serve um caldo do mesmo padrão e, inclusive, no mesmo tipo de cumbuca de barro, mas ainda não fui lá, pois não me lembro onde fica.
Se alguém que me falou, estiver lendo esses escritos, me diga de novo, pra a gente ir lá.
COMPONENTES/PARTICIPANTES
A presença feminina era fato muito raro e o ambiente era constituído de grandes notívagos e tocadores de violão, que, para ali convergiam e se encontravam.
Dos violonistas, uns entendiam a noite como uma brincadeira e outros se achavam muito mais importantes que a noite.
Dos primeiros fica difícil nomina-los, mas vamos dar exemplo: Carlinhos Vagner, Expedito, Ivan Trindade e Mirabeaux. Vozes e violão.
Como importantes vamos exemplificar com a imagem de Gil Barbosa.
Gil, um grande violonista, era um chato, quando resolvia tocar.
Nesse caso, tínhamos que ficar em silencio e, ainda mais, prestando atenção, comportamento que tolhia a liberdade, o que divergia daquele, que gostávamos de adotar.
Porém, pela sua capacidade de converter acordes, em sons que deliciavam os nossos ouvidos, nos sujeitávamos.
Era a hora das melodias.
Tudo isso, fazia parte da TENDA.
AS BRINCADEIRAS
Tudo era permitido, e a noite transcorria na felicidade do momento.
Às vezes, já na madrugada, passava o vendedor de cuscuz, com o seu tabuleiro, feito de chapas de alumínio.
Era o cuscuz “Café da Mata”.
Comprávamos o tabuleiro completo de cuscuz, comíamos um ou dois, e fazíamos uma guerra com o restante, arremessando uns contra os outros.
Fazia parte das brincadeiras.
OS TRANSTORNOS
Como nem se pensava que um dia ia surgir essa tal de Lei Seca, muitas vezes, nem sabíamos como chegávamos e muito menos como saíamos de lá.
Uma coisa era certa.
Chegávamos em casa, ou levados pelo álcool ou pelos amigos alcoolizados.
Ainda hoje, brinco com o meu amigo, o Neguinho Luzenildo Porpino, lembrando uma história.
Numa dessas madrugadas, com o dia já nascendo, ou já nascido, ele, completamente embriagado – ao ponto de não conseguir ligar o carro – e eu, um pouco menos bêbado, fui lhe levar em casa.
Ao chegar lá, a mulher dele aparece na sacada, e diz: “TAMBÉM, VOCÊ NÃO TEM VERGONHA, SE JUNTA COM TODA ESPÉCIE DE GENTE E CHEGA EM CASA NESSA SITUAÇÃO”.
Como eu não tinha feito o curso do Itamarati, falei pra ela: “É POR CONTA DESSAS COISAS, QUE EU DISSE PRO PESSOAL, QUE NÃO IA TRAZER ESSE CORNO PRA CASA”.
Ficava só nisso mesmo. Não havia consequências.
UMA SITUAÇÃO INUSITADA
Quando casei, me acomodei com a minha nova situação e me afastei da “TENDA”.
Porém, numa tarde de sexta feira começamos a beber e me esqueci de ir pra casa. Ou melhor, não me lembrei que tinha que ir pra casa, e terminei na TENDA.
Na madrugada, me lembrei que era casado.
E aí?
Imaginei que se chegasse em casa, normalmente, ia arranjar um problema.
Então, juntei o sanfoneiro e o menino do triângulo, e resolvi fazer uma serenata pra minha mulher, pra tentar “consertar” o tal problema.
Morava no Edifício Salmar, e cheguei com essa presepada: primeiro tocando na lateral do prédio e depois colocando o “regional” do elevador.
No primeiro momento, acordei todos do edifício. Só via o pessoal colocando o pescoço nas sacadas para ver o que estava acontecendo.
Depois, entramos no elevador e ficamos tocando forró pra cima e pra baixo, até que minha a mulher resolveu encerrar a apresentação do conjunto.
Abriu a porta do elevador, me “convidou” para entrar em casa e mandou os músicos embora, colocando o “empresário” pra dormir.
Acordei em paz e vivi em paz, pois ela sabia, que minhas presepadas, não tinham maiores consequências.
Tempos de segurança, liberdade e felicidade.
Antonio José Ferreira de Melo – Economista – antoniojfm@gmail.com
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