COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: COISAS DOS SETE PECADOS CAPITAIS –

O QUE É PECADO

Segundo o que se encontra como definição, seria: desobediência a qualquer norma ou preceito; falta, erro. Com diria Expedito: “num é um meio vago, ou ampro”? Do ponto de vista, religioso judaico-cristão, seria qualquer desobediência à vontade de Deus, aí incluindo, também, não fazer o que agrada a Deus.

Dizendo isso e perguntando a Expedito, ele responde: Dotô, puramôrdeDeus, intão, desdi qui eu acórdo, já tô pecandu. Enfim, aqui pra nós, se não quiser pecar, “pise com cuidado”, pois a vida tá cheia de arapuca, que lhe leva ao pecado.

OS PECADOS CAPITAIS, NO TEMPO

Originalmente, os sete pecados capitais, eram oito. Isso, quando foram escritos pelo monge Evágrio Pôntico, nos anos 345-399 d.c, a fim de enumerar os principais maus pensamentos, que atrapalham a rotina de práticas
religiosas. Na sua concepção, além dos que permaneceram até hoje, havia o pecado da “tristeza”, e, ao invés da “inveja”, existia o pecado da “vaidade”.

Nos anos 540-604 d.c., o Papa Gregório, reescreveu a lista, excluindo a “preguiça” e adicionando a “inveja”, além de eleger a “soberba” como o principal pecado. O frei Tomás de Aquino, já no século XIII, anos 1225-1274, voltou a incluir a “preguiça” no lugar da “tristeza”, e, são assim, que eles que se mantem até hoje. Até o Papa Bento XVI, que foi papa de 2005 a 2013, inventou os 7 dele, na tentativa de traze-los ao mundo moderno.
Seriam eles:

– Pressa

– Manipulação genética

– Interferir no meio ambiente

– Causar pobreza

– Ser muito rico

– Usar drogas

– Causar injustiça social

Segundo li, recentemente, mas não lembro onde, até o “bulling”, era candidato a fazer parte da lista. Porém, nada indica que essa tentativa tenha gerado algo concreto, pois a relação do frei Tomaz de Aquino, é a que continua valendo, e são eles, os “7 Pecados Capitais”:

– Luxúria;

– Soberba;

– Preguiça;

– Inveja;

– Gula;

– Avareza;

– Ira.

A FORMA DE OLHAR

Estou nessa paz do Sítio Lagoa Velha, aqui em Monte das Gameleiras – onde, hoje, só se pensa em coisas boas – mas, para contrariar essa máxima, me vem à lembrança, os sete pecados capitais. Às vezes, eu penso ou vejo, a vida de uma forma “diferente”, porém, são coisas minhas. São coisas do meu pensar. Assim, como se diz que a mente desocupada é tenda do satanás, também existe aquela história do “livre pensar, é só pensar”, título dos artigos semanais que Millôr Fernandes, no Jornal “O PASQUIM”, nos tempos do humor inteligente. O fato é que, eu sempre achei, que, apesar de adjetivados, como “pecados capitais”, na verdade, seu culto ao exagero, é que lhe caracteriza, como tal. Senão, vejamos.

A LUXÚRIA 

A luxúria é o pecado associado aos desejos sexuais, o que, indiscutivelmente, como diria o meu amigo, Wilson Cardoso, “são coisas de primeiríssima qualidade”. No âmbito da botânica, luxúria consiste no viço dos vegetais, ou, com a sua seiva em estado exuberante.

Me diga uma coisa. Existe situação mais interessante e pura?

Outra coisa.

Me diga também: a sexualidade é ou não é de suma importância para a vida animal?

Ela, a sexualidade, é carregada de sensações, emoções, imaginações e sentimentos, que lhe reportam ao prazer, e dão “rumo” à vida.

No entanto, a luxúria, como termo, a partir da sua origem, na língua latina, significa: lascívia, libertinagem, concupiscência, sensualidade, e, para muitos, é classificada como vício, pois seria a satisfação exagerada e promíscua, dos desejos sexuais.

O que se torna evidente, é que, retirando-lhe os excessos,
há tudo de bonito e bom, nos atos luxuriosos.

A SOBERBA

Soberba é um substantivo, do latim, que significa elevação, presunção, orgulho.

Quem nunca se orgulhou de si mesmo ou de alguém, que lhe é caro, que atire a primeira pedra.

Porém, existe uma linha tênue entre orgulho e soberba, que se chama, arrogância.

Então, uma manifestação de orgulho excessivo, com pretensão de superioridade sobre o outro, é a arrogância, ou uma altivez exagerada, como é conhecida a soberba.

Em assim sendo, se torna uma manifestação negativa, por pretender externar menosprezo, com a intenção de
considerar os demais, seres inferiores.

O que seria o racismo, a xenofobia, o elitismo, o corporativismo, senão comportamentos exagerados de
presunção?

O ser soberbo, é um indivíduo orgulhoso e altivo, que está dominado pela arrogância, e é, também, a qualificação daquele que é mais alto ou está mais elevado que outro, vaidoso, grandioso, sublime, magnífico, belo, porém, tudo isso, dominado pelo exagero.

A PREGUIÇA

A preguiça é a falta de vontade ou de interesse em atividades que exigem algum esforço.

Antes, até chamado de melancolia, o pecado capital da preguiça, pode ser um momento de ócio nas atividades corriqueiras, uma folga do trabalho formal, ou mesmo o fato de excluir uma tarefa que não se quer realizar, naquele momento.

A preguiça, sendo passageira, pode, apenas, representar cansaço ou estresse, porém, alguns estudos psicológicos, mostram que a preguiça é algo a ser levado a sério, ao lado de outras emoções.

Portanto, há de se concordar, que a preguiça é apenas uma emoção, e seu excesso, apenas um estilo de vida ou mesmo um estado de espírito, que pode, se transformar numa doença.

Eu, não posso me considerar um preguiçoso. Nos meus setenta e sete anos, completados neste maio de 2022, não conheço mais que momentos de cansaço, quando me faltou a vontade de realizar uma tarefa, naquele momento, e isso, é bem diferente de “ter preguiça”.

É necessário, tornar diferente, a preguiça – da não realização de tarefas, pelo cansaço, e pela falta de energia
para executar algum trabalho – da simples disposição de não fazer nada.

A procrastinação e o adiamento da realização de tarefas, de forma constante, aí sim, de forma exagerada, é uma faceta da preguiça, que compromete o desempenho e a responsabilidade, para a execução das obrigações.

A INVEJA 

Ao enfrentarmos o pecado da inveja, podemos sentir uma certa dificuldade de nos posicionarmos a seu favor, devido ao corriqueiro e objetivo tratamento que esse comportamento recebe.

Porém, podemos considerar, que desejar possuir um bem, nada mais é do que um estímulo ao trabalho, como forma de conseguir recursos, que venham a possibilitar sua aquisição, diferenciando do desejo de possuir um bem que pertence ao outro.

Sendo o primeiro uma força impulsionadora, o segundo caso, seria um sentimento de cobiça da riqueza, do brilho e da prosperidade alheia, com certeza, um desprezível comportamento.

Há quem fale que a inveja, motivada pelo desgosto ou tormento de um indivíduo, que pretende possuir aquilo que pertence a outro, se assemelha, ao ciúme.

A expressão popular “dor de cotovelo”, é usada para indicar que alguém está com inveja ou ciúme do outro, pois perdeu algo ou alguém para outra pessoa.

A origem, está associada a “cotovelada”, que era uma forma de chamar a atenção de alguém, sobre algo, terminando, pelo excesso, por deixar a região dolorida.

Há quem tenha verdadeiro pavor à inveja, e contra ela procure se proteger, usando “amuletos”. Quando menino, era comum encontrar os chaveiros com o “pé de coelho” e as “figas”, estas, que, embora ligadas à tradição europeia, foram incorporadas à cultura negra.

Na casa onde nasci e me criei, na Rua Mossoró, meu pai colocou uma ferradura, logo na entrada, significando proteção, atitude que procurei repetir, nas minhas construções.

É um sinal de proteção contra maus agouros, perigos, má sorte e forças maléficas. Minha mãe tinha uma parenta, conhecida por possuir “olho mau”, ou “olho gordo”, e quando ela chegava lá em casa, evitava-se leva-la onde alguma planta apresentava características que chamassem à atenção, como seja a floração das roseiras ou a “carga” de frutos das plantas do quintal, para que não “botasse olhado”.

Quando ela se admirava da beleza, logo ao sair, a planta começava a murchar. Quando comprei a propriedade Umbuzeiro, na região de Pureza, os nativos me aconselharam plantar um pé de pinhão e uma pimenteira malagueta, o mais próximo da entrada ou na frente da casa.

O filósofo inglês, Bertrand Russell, apesar de achar que a inveja causava infelicidade, acreditava que ela impulsionava as economias. Enfim, o desejo de alcançar uma vontade, mesmo que se espelhando em alguém, sem exageros, e, para tanto, usando o seu esforço pessoal, não é um comportamento desprezível.

Os excessos, que caracterizam a inveja, é que penalizam o termo.

A GULA

Quando menino, você escutava a ameaça: “você tá muito magro, se não comer, vai apanhar”.

Apesar de que, já adulto, a coisa muda: “ou você para de comer, ou vai ter que ir ao médico”.

O ato de comer mais, apesar de já estar satisfeito, pode até estar atrelado a problemas emocionais, uma vez que não haveria mais a necessidade da alimentação, para a manutenção do físico.

Afinal, tudo pode ser consumido, desde que, em equilíbrio, e, então, que se permita, com consciência e sem excessos.

Na verdade, a gula reflete a falta de domínio próprio e do autocontrole, e, entre os sete pecados capitais, está associada ao desejo de comer e beber de maneira exagerada.

A AVAREZA 

Pão-duro, apegado, amarrado, mesquinho, miserável, mofina, sórdido, sovina, tacanho, usurário, unha de fome,
e, por aí, vai.

Apesar dos termos dedicados, a determinadas figuras, a avareza não é uma exclusividade humana.

É esse instinto, que leva o cachorro a enterrar e esconder o osso, para comer depois, e, sozinho.

Mas a consciência do egoísmo e da avareza, não são exclusivas do ser humano.

Assim, há duas formas de avareza:

1 – aquela necessária à sobrevivência, comum a todos os
seres vivos.

2 – aquela e a que trata da acumulação, sem uma
finalidade específica.

Os avarentos, sentem necessidade de acumular e guardar, além de possuírem a dificuldade de compartilhar, não sendo apenas o medo de perder, mas, também, o apego excessivo aos bens materiais e ao dinheiro.

A IRA

É difícil querer entender a ira como uma virtude, uma vez que, de pronto, parece ser um pecado.

Porém, não se deve esperar, de alguém que almeje um lugar no pódio da vida, um excesso de passividade.

Evitar que a fome de justiça, se torne em sede de vingança, amiga irmã, da ira, não é fácil.

Daí, merece avaliar a ira como uma virtude a ser cultivada ou um pecado a ser evitado?

Como diferenciar a ira da raiva?

O que nos causa ira?

Quem nunca se irritou, alguma vez, com alguém ou com alguma coisa?

A ira deixa de ser uma virtude, para se tornar um pecado, quando sua motivação é errada e o efeito é excessivo.

Pela natureza humana, ofendemos os mais frágeis que nós, mas nos ajoelhamos, frente àqueles que têm mais
autoridade que nós.

Isso, prova, que a ira não é uma reação involuntária de nosso temperamento, mas algo provocado pelas reações
naturais, resultantes do nosso temperamento ou dos nossos temores.

Enfim, a Ira é a manifestação de raiva ou de fúria, e é um exemplo, claro, da falta de paciência, ou seja, uma manifestação intensa ou exagerada, de indignação.

CONSULTA À FILOSOFIA

Constata-se, sem dúvida, que é a falta de moderação, que se constitui no exagero e que leva ao pecado. Por outro lado, é a generalização de conceitos, que possibilita a particularização de situações, que neles não se enquadram, ou se enquadram mal.

Com William Shakespeare, aprendemos que “Há mais coisas entre o céu e a terra do que pode imaginar sua vã
filosofia”.

De seu personagem Hamlet, escutamos: “Ser ou não ser, eis a questão”

Segundo Platão, Sócrates esteve presente no Templo de Apolo em Delfos, onde o oráculo afirmou que ele era o
homem mais sábio que existia. Porém, Sócrates assim respondeu: “Só sei que nada sei”.

Defensor do autoconhecimento, Sócrates se dedicou a tentar entender a sua própria natureza, sendo dele a expressão: “conhece-te a ti mesmo”.

O processo de autoconhecimento, muda a forma como uma pessoa interage com o mundo e com as outras pessoas, abrindo a possibilidade de conhecer e aprender coisas novas.

É mais importante nós nos conhecermos, termos noção de quem nós somos, que dar importância ao que as outras pessoas pensam sobre nós.

Diante disso, muitas vezes, somos julgados pecadores, por estarmos sendo medidos pela régua alheia e pela relatividade dos outros, uma vez que os excessos variam em sua quantificação.

CONSULTA AO FILÓSOFO

Para concluir as minhas dúvidas filosóficas, resolvo ligar para o filósofo Expedito, e vou logo perguntando: Expedito, o que você me diz, sobre os 7 pecados capitais?

E ele responde “na tampa”: Dotô tudo isso é só intolerança. Si nois respeita as vivênça dus outro, véve tudo numa boa.

Nada na vida fais máu, si a genti fizé dentro das midida e du respeito.

É só num tê izagêro.

Tá certo, Expedito. Obrigado pela contribuição.

Tenha uma boa noite.
Sem ter mais o que dizer, fico calado, mas não desligo o telefone.

Então escuto Expedito falar: taí, Ismeralda, as veis, eu penso qui o Dotô Antonio tá meio “gira”.

Vim falá im pecado capitais, numa hora dessa, já pensou?

Mim leva logo, prá ôtros pensamento.

Ô amô, vamos vê a cuma é a LUXURA?

KKKK, KKKK, saem os dois na gargalhada, e eu escuto

Ismeralda dizer:

Ói Expedito. Sem izagêro.

 

 

 

 

 

 

Antônio José Ferreira de Melo – Economista, [email protected]

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *