COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: COISAS E FIGURAS DE NATAL – Antonio José Ferreira de Melo

COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: COISAS E FIGURAS DE NATAL –

COISAS DE EMÍLIO SALEM

O médico e meu amigo, Emílio Salem, era uma grande figura.

Pessoa muito inteligente, tudo que ele fazia era bem feito, até contar piadas.

Ele criou uns tipos interessantes, mas, infelizmente, apesar de ter ouvido muitas vezes, não consegui decorar.

Acho que eu me preocupava, mais em rir, do que prestar atenção aos detalhes.

A narrativa de Emílio, já era uma graça.

Tentei me lembrar de suas brincadeiras e contar algumas, mas, para isso, e para ajudar a memória, tive que contar com a ajuda dos amigos.

Para escrever esse artigo recorri à memória de José Dantas, Dequinha, mas, parece, que nós nos lembrávamos das mesmas figuras.

O ORDENADOR DO CAOS

Para utilizar as figuras de Emílio, vou iniciar falando do “ORDENADOR DO CAOS”, que não tinha nada de chato e era sim, muito prestativo.

Para personificar essa figura, Emílio dizia ser o seu amigo, Luiz Antonio Porpino, o “Marechal Porpa”, que se desdobra para ajudar os amigos e, as vezes, nem tão amigos assim, mas que ele entende que pode auxiliar.

Veja como são as ironias da vida.

Emílio estava passeando na Espanha, quando, em Madri, no “El Corte Inglés”, uma grande loja de departamentos, teve um ataque fulminante, do coração, e faleceu.

Sabe-se das dificuldades, em situações como essa, para cumprir os trâmites burocráticos, necessitando o acionamento de Embaixadas, preparação e liberação do corpo, etc.

Por ironia do destino, sabe quem providenciou o traslado do corpo de Emílio, da Espanha para o Brasil?
O “Marechal Porpa”.

O FALSO OCUPADO

Entre as figuras que Emílio criou, estava o “FALSO OCUPADO”.

Era aquele cara que não faz nada, vive dizendo que tem muito o que fazer, anda com pressa, e não se detém para conversar, pois não tem tempo.

Emílio dizia até, que o falso ocupado vivia com o sovaco suado, de estar correndo de um canto para o outro, na sua falsa pressa.

Era, na verdade, o retrato de um chato.

O FALSO ECLÉTICO

Outra figura que EmÍlio criou, foi o “FALSO ECLÉTICO”.

Pessoa contestadora, que emitia opinião sobre tudo.

Dizia Emílio, que se um técnico da NASA viesse descrever uma nave, essa figura dizia: “não amigo, não é assim não”, a asa não é como você descreve.

Então, sem entender de nada, contestava a narrativa do técnico.

O FALSO ECLÉTICO tinha a mania de dizer: “se fosse assim era bom”, mas, a coisa não é como você diz.

E então, discorria a sua própria teoria.

Às vezes, para ser mais contundente nas suas observações, falava: meu amigo, você precisa ver “fulano”, ali sim, sabe das coisas…

E por aí ia.

Um outro chato.

A ÚLTIMA FARRA COM EMÍLIO SALEM

Como eu não me lembro mais de outras figuras, vou contar esse episódio.

Numa noite de bebedeira saímos: Eu, Emílio, Xenofanes, que também chamam de Xinoca, e Zé Dantas, o Dequinha de Dóris com as respectivas mulheres.

Nessa noite, Emílio resolve acordar um seu amigo, que, embora eu não fizesse parte do círculo de amizade dele, onde cabia um, cabiam todos.

A FARRA

Acordado o “anfitrião”, e nós, já instalados, com bebida, gelo e tira gosto, falávamos sobre tudo o que era assunto.
Não havia tipo e nem ordem.

De preferência, os que fossem engraçados, e, entre eles, surgiram histórias ocorridas na Lagoa do Bomfim, onde o anfitrião revelou possuir uma granja.

Sendo eu conhecedor de cada palmo de suas margens, estranhei a informação sobre a localização informada, pois a pessoa que eu sabia como proprietário, tinha uma conduta nada masculina e agenciava garotas, que gostavam de fazer divertidos programas.

Portanto, sempre que ele repetia a localização da sua granja, o meu GPS mental, identificava como a “granja do veado”.

Insistindo para que ele repetisse a localização, em determinado momento, ao olhar para Emílio e Xinoca, percebi o gesto para que eu mudasse de assunto.

Foi o que eu fiz, de imediato, entrando em temas incontroversos.

Os dois, depois, me esclareceram.

A propriedade era mesmo dele, só que o “veado” era um seu parente, na verdade, seu cunhado, que, frequentemente, usava o espaço e levava umas meninas para fazerem programas na lagoa.

Não restou nenhum problema, e depois, quando comentávamos o caso, eu me lembrava:
O MUNDO É PEQUENO, E EM BOCA FECHADA NÃO ENTRA MOSQUITO, como me ensinou papai e mamãe.

Essa foi a última farra que fizemos juntos.

Dias depois, Emílio foi para a Espanha e de lá viajou para sua eterna morada, sem se despedir de nós.

Emílio fez e faz muita falta.

Era um grande companheiro, e essas eram COISAS DE EMÍLIO SALEM, que até sua despedida, foi diferente de tudo.

 

Antônio José Ferreira de Melo – Economista – antoniojfm@gmail.com

 

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores
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