COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: COMO SÃO AS COISAS DA VIDA –

 Costumo dizer que, na vida, o dia de amanhã não nos pertence.

No máximo, de noite, ao deitar, podemos fazer o balanço daquele dia, ainda inconcluso, e, portanto, sem contabilizar o período de tempo que falte até que ele se encerre.

ENVELHECER FELIZ.

Antigamente os casais nasciam e morriam juntos, pois uns, eram até acasalados pelos pais, ao nascer.

Nem tinham o direito de namorar. Era pra casar e pronto.

Quando um nascia, os pais já diziam: fulana, a que nasceu agora, vai casar com o meu filho cicrano. Era assim. Já premeditavam o casamento.

Às vezes, morriam juntos mesmo. Quando um morria, o outro, pelo choque da inevitável separação, morria também.

Diziam que era de tristeza.

E o danado, pelo que se tem notícia, é que, a grande maioria dos casamentos, dava certo.

Nesses tempos de antigamente, não havia separação.

Acho até, quer o amor era muito mais prático, do que sentimental.

Lembrando um fato: a mulher pergunta. Fulano, você vai querer alguma coisa com eu hoje?

Ele responde: nãooo.

E ela fala: então, vou lavar só os pés.

Porém, hoje é diferente.

Tenho um amigo que diz já ter tido nove casamentos, sendo dois, no cartório.

Concordo, que assim também, já é demais.

COISAS DA VIDA

Por falar nesse assunto, lembro agora, que certo dia, encontrei o meu Xará Toinho, cujo sobrenome não identifico, por razões óbvias, em função das particularidades da conversa.

Colega do Colégio Marista, sempre alegre, disposto a contar uma piada ou uma história, sempre, de bom humor, e sempre de bem com a vida.

Como é natural, quando passa um tempo sem se encontrar, fala-se do que fez, do que deixou de fazer e, não pode deixar de falar, da vida conjugal e dos filhos.

Ele tinha o que contar, e dele eu OUVI.

Tendo se separado da mulher, e passado um tempo, encontrou uma “ex”, que também tinha se separado, começaram a namorar e terminaram se juntando.

Porém, ela na casa dela e ele na dele.

Me disse ele: Xará, tai, uma solução interessante, que a gente encontrou.

Você vive junto, sem estar junto.

As chateações de cada um ficam com cada um e somente se divide os momentos alegres, que somados trazem felicidade para os dois.

Toinho tinha dois meninos já casados e morando nas suas casas, um, inclusive, no exterior, e a mulher, que não me lembro do nome, e também não importa, tinha dois meninos e duas meninas, ainda novos que moravam com ela.

COISAS DA SITUAÇÃO CONJUGAL E O MODUS VIVENDI

Como já foi dito, era cada um com o seu cada qual.

Porém, como os filhos da mulher ainda eram pequenos, Toinho tinha assumido a responsabilidade da manutenção de tudo, pois o marido da mulher e pai das crianças, sumiu, quando ele começou o namoro.

Mas isso não se constituía em problema. O dinheiro era suficiente para manter a situação.

Toinho era uma alegria só.

O fato é que, estavam no começo, e tudo era maravilhoso.

Era amor novo.

Pareciam coisas de namorados.

COISAS DA SITUAÇÃO PÓS CONJUGAL

Tempos e tempos depois, passeando pelo “Grande Ponto”, volto a me encontrar com Toinho.

O bom humor e a felicidade eram a sua constante.

Perguntei: e aí, como vai a vida das famílias, ou seja, a dele com a mulher, e as dos 6 filhos.

Ele fala: nem te digo. Mudou tudo.

Como assim? Pergunto eu.

Depois daquele tempo, quando nos encontramos, a vida foi mudando.

Não parecia mais namoro. Já parecia coisa de “velhos embirrentos”. Só vivia de discussão.

Também acabou a liberdade dos passeios e o romantismo.

Começaram a aparecer os aniversários dos filhos e netos nos fins de semana, no domingo a mulher só podia sair depois da missa das sete e ainda inventou o “Terço da Libertação”, “Terço dos Mistérios”, ou coisa assim, nas quintas feiras e sextas feiras.

Na época em que ela topava tudo, a casa da praia de Barra de Maxaranguape era a alegria dos fins de semana.

Agora, ficou abandonada.

Ela passou a dizer que tinha medo dos assaltos, que não ia expor os filhos e os netos, e nem tampouco, ia sozinha comigo.

Pronto. Não fomos mais lá.

Os “amigos do alheio” – era assim que se denominavam os ladrões de antigamente – se aproveitaram do abandono, e depois dos utensílios domésticos, levaram as portas e janelas da casa.

Ficou só o esqueleto.

UMA HISTÓRIA PARECIDA DA CASA DE PRAIA

Quando Toinho falou da história da casa da praia, me lembrei, então, de Gotardo Emerenciano, que é outro cara que possui uma verve agradável, e sempre está de bom humor.

Não é de se espantar, que Mução seja filho dele.

O pai dele o Dr. José Emerenciano foi um dos mais antigos veranistas da Praia da Redinha e possuía uma casa na área do Maruim.

Me encontrando com Gotardo – isso faz tempo – conversamos sobre amenidades e dentre elas as coisas da Redinha de antigamente.

Foi quando lhe perguntei. Gotardo e a casa da Redinha?

Ele falou: roubaram.

Então perguntei. Levaram o que?

Ele disse: a casa.

Como assim?

Respondeu ele: Toinho, levaram TUDO.

Deixaram só o terreno e o cajueiro. KKKKK.

AS COISAS DO PÓS CONJUGAL DE TOINHO

Voltando ao meu Xará Toinho.

Segundo ele, pra completar, depois que os filhos da mulher “tomaram destino”, ela foi morar na sua casa.

Aí, então, começou a “desarrumação total”.

Os seus momentos sozinho, que aproveitava para fazer o que lhe “dava na telha”, foram para o espaço.

Perdeu também a privacidade, com a qual tinha se casado, e, além do mais, agora tinha que dar satisfação de tudo.

Segundo ele, parecia interrogatório numa audiência de custódia, assumindo ela, o lugar de juiz.

E tem mais. Tudo o que dissesse poderia resultar em provas contra ele, que ela, mais cedo ou mais tarde, cobrava.

Se acordava cedo, tinha que justificar.

O que foi que houve? Deu formiga na cama? Perguntava ela.

Se demonstrava sono quando ela se acordava, tinha que arrumar uma justificativa para o cansaço.

“Humm”, que moleza é essa? O que é que andou fazendo que está tão “cansadinho”, dizia ela em tom de galhofa.

Quando estava usando o computador para pesquisar as notícias mais recentes, ver as entrevistas de Bolsonaro, as “mutretas” dos deputados e senadores ou as “tramenhas” dos ministros do STF, ela passava e olhava com o rabo do olho, para “curiosar”, e dizia: levanta daí, menino. Vai passar o dia com o rabo sentado nessa cadeira?

Recebendo como resposta que estava vendo as notícias do dia, ela falava: por que não vai ver os noticiários da televisão?

Me disse então ele: “homi”, o pior é que se ela me visse olhando a TV, dizia: essa poltrona vai terminar afundando de tanto você ficar aí sentado, “vidrado” nessa televisão.

Vai fazer outra coisa!

Mas, meu amigo, falou Toinho, como se quisesse soltar uma bomba.

A coisa não para por aí.

Sabe esse bichinho aqui?

Fala apontando e se referindo ao celular.

Se tocasse, ela perguntava, quem é? Quando terminava a ligação, ela dizia: o que foi? Tava falando baixinho por quê? Era pra eu não ouvir?

Se eu estivesse olhando o zap, ela dizia: parece até que não tem mulher em casa, só vive olhando essas mulheres nuas que esses seus amigos mandam! Aliás, você manda também, que me disseram.

Pegando embalo, ela dizia. Olhe, eu soube que “fulana” também manda mensagens pra você. Isso é porque você dá o cabimento. Se fosse eu que recebesse mensagem de algum homem, você não ia gostar.

Velho, diz Toinho, isso é só uma amostra. Fala, encenando com as mãos.

E diz mais, perguntando: você imagina o que é o inferno? Pois é muito melhor do que a vida que eu passei a ter.

Resultado? Chegamos a um acordo. Cada um “pro” seu lado, antes que o coração cansado não resistisse.

OS “FINALMENTE”

Depois dessa experiência, diz ele: como me relaciono bem e tenho um bom círculo de amizades, sempre estou com alguma coisa para fazer.

Pergunto: e quanto aos relacionamentos femininos?

Ele responde, dando uma grande risada: somente, de “curta duração”. Negócio de comprometimento, “tô fora”.

Como eu falei que não tinha o que fazer, estava só de bobeira, só gastando o tempo, encerra o assunto e me convida para beber uma cerveja, num canto qualquer, e conversar besteira, porque dessas, segundo ele, “eu já cansei”.

E fala assim: agora, já posso chegar em casa com cheiro de bebida e ninguém vai perguntar: você não disse que ia chegar cedo? Onde tava bebendo? Com quem? Porquê?

Como se precisasse motivo para beber. Para beber, o que se precisa, é vontade.

Me lembrei de um amigo, que já acorda com vontade. Mas, assim, também, já é demais.

Como no Grande Ponto não existia mais a Confeitaria Cisne, a KIXOU, ou o Dia e Noite, fomos pra Confeitaria Atheneu, relembrar as coisas do colégio, falar dos sucessos na profissão, que nunca tínhamos conversado, coisas das preferências de cada um e por aí foi.

Quando estávamos nos despedindo, ele me disse: “taí Xará”, veja como a gente se engana. Eu pensava que para envelhecer feliz, a felicidade só existiria, se fosse à dois.

Hoje, tenho certeza, que sozinho, é que eu vivo feliz.

Diante de tudo que OUVI, eu disse: é verdade.

 

VEJA COMO SÃO AS COISAS DA VIDA.

 

Antônio José Ferreira de Melo – Economista, economista [email protected]

 

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

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