COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: NATAL UMA CIDADE ÓRFÃ

Na minha época de setor público, quem assumia um cargo tinha, antes de tudo, que entender do riscado, para poder se dedicar a solucionar os naturais problemas da pasta, e, ao enfrentá-los, se deparava, muitas vezes, com situações inimagináveis e até engraçadas.

Sempre procurei atender àqueles que procuravam a solução para os seus problemas, prestando a assistência técnica disponível, ou, no mínimo, dando a merecida atenção.

Isso, incluía o meu atendimento pessoal, que algumas vezes conseguia satisfazer, e, muitas outras, não.

Fazia parte.

Porém, nem tudo se resumia a problemas e fatos hilários. Era necessário ter “jogo de cintura” e “saber”, para enfrentar as “arapucas” que a política armava.

Diga aí, uma coisinha difícil de fazer…

Embora com pouca idade, aprendi que o poder que nos dão, a gente deixa na cadeira, como se deixa um paletó. Caso encontre quando voltar, veste-se outra vez.

Aprendi também, e, principalmente, a conviver com o poder, dos outros.

Naquela época que assumi a Secretaria de Planejamento de Natal, o Prefeito da Capital não era eleito. Era escolhido pelo Governador do Estado, como hoje ele escolhe os Secretários de Estado.

Além disso, os Secretários do Governo do Estado, se sentiam superiores ao Prefeito e até queriam exigir obediência.

Isso, uma condição difícil de engolir, até para nós, seus auxiliares.

Certa vez, o dirigente de uma entidade da Administração Indireta Estadual, que eu já esqueci o nome, queria que a Secretaria de Planejamento aprovasse um projeto hipotético, para uma área inexistente.

Não se resumia apenas a uma consulta prévia. Era aprovação mesmo!

Diante da nossa negativa, teve o desplante de “enredar” ao Governador, o que nos obrigou a desnudar o seu interesse.

Tínhamos que usar a desconfiança e, mais ainda, a precaução.

Num final de tarde, recebi a visita inesperada e sem justificativa, do jornalista Agnelo Alves.

A Tribuna do Norte era um jornal de oposição, porém, Tarcísio Maia, o Governador, era poupado, enquanto Vauban, o Prefeito, apanhava mais que couro de
pisar fumo.

Agnelo, bom de papo, conversou muito e, entre outros questionamentos, perguntou quais dificuldades eu sentia como Secretário de Planejamento da Capital. Eu lhe disse: NATAL É ÓRFÃ.

Ele, demonstrando surpresa, pergunta: porque?

E eu respondi: veja bem, Mossoró tem os Rosados que brigam por ela. Caicó, Currais Novos, enfim, o Seridó, têm os Medeiros, os Dantas, os Costas e por aí vai.

Natal, só tem quem brigue para tomar o que é dela e não tem ninguém para lhe defender.

Agnelo perguntou se podia usar aquela imagem e, é claro, lhe respondi que sim.

Passado tanto tempo, não me lembro bem, mas acho que Agnelo escreveu um artigo com o título: NATAL UMA CIDADE ÓRFÃ.

Sobre a orfandade de Natal, eu me lembro da conversa.

Porém, até hoje, e pior, depois da sua morte, não sei e nem saberei quais motivos levaram Agnelo ao agradável papo daquele dia.

 

Antônio José Ferreira de MeloEconomista

 

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