COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI: PADRE EYMARD L’ERAISTRE MONTEIRO – Antonio José Ferreira de Melo

COISAS QUE EU VI, OUVI OU VIVI : PADRE EYMARD L’ERAISTRE MONTEIRO –

Nos tempos da minha infância, Padre Eymard L’Eraistre Monteiro era dono do Ginásio São Luiz.

Para muitos, ele tinha um gosto excêntrico: a arquitetura da torre do colégio parecia um pombal e a farda dos alunos, de cor vermelha e branca, originou o apelido de “galos de campina”.

Porem, muitos dos doutores da nossa terra passaram pelas suas carteiras. O Padre e depois Monsenhor Eymard era um educador exigente e também um escritor, conhecedor das coisas do Rio Grande do Norte.

Ele tentou ser inovador para a educação dos seus alunos. Conta-se que após uma viagem à Europa, montou uma banca de revistas e “confeitos”, sem que tivesse alguém para vigiar. Colocou o sortimento e uma caixinha com moedas de pequeno valor, para que os adquirentes das mercadorias pudessem, eles mesmos, passar o “troco”.

Foi uma experiência decepcionante. No final do dia, não tinha nem a mercadoria e nem o dinheiro do troco.

Nas atividades em prol da religião existe um grande marco de sua atuação em Natal, que foi a construção da Igreja do Padre João Maria, na Rua 2 de Novembro, antigamente conhecido como “Alto do Juruá”.

A igreja foi feita com doações de fiéis ou não, que atendiam aos seus insistentes pedidos.

Luiz G. M. Bezerra tinha um armazém de madeira de construção e contribuía com as obras. Padre Eymard, através do seu programa radiofônico, registrava a contribuição: “agradeço ao senhor Luizinho Bezerra que me mandou uma ajuda para a construção da Igreja. Muito obrigado, seu Luizinho. Gostei muito da sua madeira. Mande mais”.

Como tudo nesse país muda de nome, a Igreja do Padre João Maria também mudou. Hoje se chama: Igreja Matriz da Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes.

Ele fazia festas no Ginásio, abertas ao público, e numa delas fomos com o intuito de “bagunçar”. Coisa de crianças da época, com 10 ou 11 anos de idade.

Era tempo de São João e começamos a soltar bombas às escondidas.

Estava distraído quando ele me pegou pelo braço para me “expulsar do recinto”. Apesar de jurar que não faria mais, ele não aceitou a promessa, dizendo: “com moleque se faz assim e essa é a Lei daqui”.

Junto com os seus “vigias”, me levou até o portão e me expulsou do colégio, sob as vaias dos meus próprios companheiros de bagunça.

Nos idos de 1975 ou 1976, já passando dos 30 anos de idade e estando no cargo de Secretário de Planejamento da Prefeitura de Natal, me reencontro com o Padre Eymard.

Ele estava vendendo o prédio do colégio e precisava das certidões de Prefeitura. Como tinha construído, quase tudo, sem licença, teria que regularizar as obras e pagar as multas respectivas.

Coisas normais para atendimento da Lei daqui do Município.

Embora o ocorrido à época da minha infância já estivesse esquecido pelo tempo, pedi à fiscalização que fosse muito cuidadosa na aplicação das penalidades.

Mesmo que ninguém soubesse do fato, eu não queria sentir que era vingança.

Padre Eymard recorreu ao Governador Tarcísio Maia, ao Senador Jessé Freire, ao Presidente da Assembleia Legislativa e, obviamente, ao Prefeito, além de outros menos votados, tentando não pagar pelos seus erros.

Quando procurado, eu informava o óbvio: não tinha como dispensar as multas, pois não podia agir diferente do que era exigido aos menos abastados moradores dos bairros pobres e era impossibilitado de descumprir a Legislação Municipal.

Após múltiplas tentativas infrutíferas, Padre Eymard veio ao meu gabinete.

Avisado pela secretária, e como não podia ser diferente, educadamente fui recebe-lo e o convidei a entrar e sentar.

Em pé e demonstrando muita raiva, depois de dizer que não sabia o porquê da minha má vontade para com ele, injustamente, saiu batendo a porta com toda a sua força.

 

Antônio José Ferreira de MeloEconomista

 

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

 

 

Ponto de Vista

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  • Oi boa noite, gostaria de saber mais sobre a vida do Padre EYMARD L"E MONTEIRO, sobre o instituto padre João Maria que ficava localizado onde hoje é o corpo de bombeiros na AV Alexandrino de Alencar. Minha falecida avô foi uma das crianças abandonadas nesse "orfanato" e contava história muitos tristes sobre as freiras e esse tal "padre". Queria muito resgatar a história desse instituto.

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