Anos sessenta, havia tido uma eleição muito acirrada, em que Aluizio derrotou Djalma Marinho e Dinarte Mariz. Mas com pouco tempo depois, Dinarte candidatou-se a senador e foi eleito. A festa da vitoria foi na Praça Pio X à noite e começaram logo cedo pela manhã os preparativos.
A nossa turma de estudante tinha por hábito se reunir depois das onze horas na esquina do Cine Rio Grande, para assistir o desfile das moças que saiam dos vários colégios, principalmente Colégio das Neves, Colégio da Conceição, e o Externato São Luiz ou Colégio de Padre Eymar.
Naquela época tinha como costume pintar o “cartaz” dos filmes em grandes placas de madeira e papelão e colocavam nos postes para servir de chamadas para os diversos cinemas da cidade. No Cinema Rio Grande tinha um senhor magro, alto, cabeleira cheia, conhecido por Vilinha que era quem pintava estes cartazes. Pois bem, na bilheteria tinha uns ferros grossos que serviam para orientar as filas e eu e mais dois amigos estávamos sentados nestes ferros assistindo os preparativos da festa da vitória de Dinarte. Alguns homens soltando foguetões e um sistema de som anunciava o grande momento. O palanque montado para a Rua Deodoro. Eu observando tudo, quando um foguetão falha e o cidadão solta o dito cujo no chão, deixando o “danado” de frente para a bilheteria do cinema que era na Rua Açu. Observando aquilo notei um deslocamento de ar, poeira e fumaça feito um tubo se deslocando em nossa direção. Entendi que era o foguetão, dei um grito, empurrei os dois amigos e me joguei no chão. O bicho vinha em vôo rasante bateu no meio fio entrou pela janela da bilheteria e estourou na sala de espera onde Vilinha pintava. Amigo (a) foram três pipocos que parecia que o cinema estava caindo. Nisto Vilinha abre a grande porta de ferro do cinema, com os cabelos todos arrepiados, um olho olhando para a Zona Norte o outro para a Zona Sul, a camisa toda aberta melada de tinta, segurando o pincel, olhando para a gente berra.
– Quem foi o “fela da puta” que soltou essa bomba no pé do meu ouvido? Dito, caiu sentado de zonzo.
Precisamos chamar o SANDU (alguém se lembra?) para socorrê-lo.
A Praia de Cotovelo era muito tranquila, é tanto que fiz minha casa sem muro na frente e sem portões. Inspirei-me nas casas da Redinha. Pois bem, tinha uma senhora que vendia tapioca, e como Alzira gosta muito, ela logo cedo pela manhã começava a gritar na janela do nosso quarto. Um belo dia de domingo, estava dormindo em uma ressaca feladaputista, quando o diacho desta senhora inventa de gritar na janela do quarto.
– Olha a tapioca, Dona Maria acorda para comer tapioca, está bem quentinha. Levantei-me emputecido, abri a porta e gritei – pode parar de gritar, hoje não queremos tapioca e ainda largo minha mulher por causa das suas tapiocas, à senhora ouviu?
– Ouvi sim, não precisa gritar. Mas se o senhor largar sua mulher vai arranjar uma “bem mais pior” do que a sua. Largue para o senhor vê – sentenciou.
Ouvindo aquilo dei uma gargalhada, entrei peguei uma gelada para rebater a ressaca.
Estava no Aeroporto de Ezeiza em Buenos Aires quando as várias senhoras resolveram ir para o Free Shop, aliás, me espantei, mulher não gosta de fazer compras não é? Pois bem alguns maridos resolveram acompanhá-las certamente para fiscalizá-las nas despesas, mas como confio na minha resolvi não ir e preferi beber uma cervejinha em uma lanchonete. Fui bem atendido pela garçonete, era uma moça jovem e bonita, e como não tinha com quem conversar, fiquei olhando para o tempo. Para minha surpresa, ela veio até onde eu estava e perguntou qual o motivo de está tão triste. Olhei para ela e respondi em “portunhol”
– Estoy triste porque murió mi mujer que estaba solo en nel mundo, quieres casarte conmigo e irse a vivir en el Brasil?
– Si, si, estoy contigo, responde ela
Pedi a despesa, pois sabia que quando Dona Moça chegasse já ia gritando – vamos, vamos já estamos atrasados (Por que toda mulher é assim atrasa e a gente leva a culpa?) Pois bem, paguei a despesa e fiquei esperando a ordem de debandar. Quando Dona Moça chega e dá as ordens, me levanto olho para ela que no gesto discreto, olha para mim e abre as duas mãos como quem diz – e agora? Eu vim e ela ficou. Mas ainda escrevo um romance – Meu amor portenho.
Olha gente pelo amor de deus não diga a Alzira que escrevi isto, ela não sabe de meus amores secretos.
Guga Coelho Leal – Engenheiro e escritor