Trinta pacientes em tratamento de hemodiálise da região do Alto Acre, interior do estado, tiveram que viajar em canoas de Epitaciolândia a Brasiléia para que não tivessem seus tratamentos interrompidos. Eles foram transferidos nessa segunda-feira (26).

O Acre enfrenta uma cheia histórica em 2024. Em todo o estado, mais de 11,5 mil pessoas estão fora de casa, dentre desabrigados e desalojados, segundo a última atualização nesta terça (27). Além disto, 17 das 22 cidades acreanas estão em situação de emergência por conta do transbordo de rios e igarapés. Ao menos 23 comunidades indígenas no interior do Acre também sofrem com os efeitos das enchentes.

Os pacientes vivem nas cidades de Epitaciolândia (distante 4,5 km de Brasiléia) e Xapuri (mais de 70km de distância da cidade fronteiriça) e fazem tratamento em Brasiléia (mais de 230 km da capital acreana). Com a interdição do principal acesso à cidade, foi necessário utilizar canoas no transporte para garantir que as pessoas pudessem voltar para suas casas.

A situação é mais um reflexo da enchente do Rio Acre na região. Na noite de domingo (25), a Ponte Metálica José Augusto que liga Brasiléia e Assis Brasil ao restante do Acre, pela BR-317, foi interditada por causa do alto nível do rio, isolando as cidades.

Na tarde de segunda, o nível do rio atingiu a marca de 14,28 metros, ficando próximo a marca histórica de 2012, quando chegou a 14,55 metros e bem acima da cota de transbordo de 11,40 metros.

A Clínica do Rim de Brasiléia é a unidade de referência para os quatro municípios da região do Alto Acre, Assis Brasil, Brasiléia, Epitaciolândia e Xapuri.

Segundo o coordenador da Regional de Saúde do Alto Acre, Pablo Araújo, não seria viável encaminhar os pacientes para a capital. “Não dava para transferir para Rio Branco porque poderia causar uma superlotação lá, porque a hemodiálise é uma coisa programada. Por isso, mesmo com a cheia, a gente conseguiu transportar os pacientes”, explicou.

O aposentado Milton da Silva Machado foi um dos pacientes transferidos e lamentou a situação. “É um momento difícil porque têm pessoas até com mais complicação, até para se locomover, agora tá todo mundo nessa situação”, disse.

Enchente em Brasiléia

Na noite do domingo (25), a prefeita da cidade, Fernanda Hassem, anunciou a interdição da ponte que faz fronteira com a Bolívia e Peru devido à elevação do rio.

“Brasiléia nesse momento pede socorro às nossas autoridades do governo federal e do governo estadual. A situação é muito grave. De 11 bairros que nós temos, 9 estão alagados. Há pontos de isolamento também na zona rural”, diz a prefeita.

Em Brasiléia, há 1.540 pessoas desabrigadas e 1.256 pessoas desalojadas que foram atingidas em nove bairros. Doze abrigos foram preparados para receberem os necessitados. 138 indígenas adultos e crianças estão nestes abrigos.

De acordo com a prefeitura, a população do município sofre com a quarta alagação em 11 anos e com isolamento da única ponte de acesso ao restante do Brasil e por onde chega mercadoria, suplementos, medicamentos e combustível. A Ponte Metálica José Augusto é de mão única que liga também ao município vizinho Epitaciolândia.

Diante desse cenário em Brasiléia, a prefeita decretou no sábado (14), situação de emergência e teve o reconhecimento da Defesa Civil Nacional e do Governo Federal nesta segunda-feira (26).

O fechamento da Ponte Metálica José Augusto, de mão única, que liga também ao município vizinho Epitaciolândia, o acesso ao município de Assis Brasil também fica prejudicado, já que é necessário passar por Brasiléia para chegar à localidade. O acesso à fronteira com o Peru também está impedido.

Fonte: G1

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