COMEÇANDO DO ZERO –

Há pouco tempo, pouquíssimo mesmo, começamos mais um ano, uma etapa de lutas, desafios e vitórias. O nosso tempo nesse planeta não deve, no entanto, ser medido pela quantidade dos dias que passamos, mas pela qualidade das emoções que somos capazes de dedicar a eles.

Às vezes, a vida nos pede calma, para trabalharmos as ideias e ações com tranquilidade. Fazemos planos, operamos nossa parte, esperando pelo melhor.

Em outros momentos, somos guiados a ter mais paciência, a agir com zelo e um certo grau de cuidado.

Somos levados a conduzir, diariamente e vitaliciamente, por onde andemos, uma vida de mais amor, de caridade, de solidariedade e perdão.

E tenho duas coisas a dizer sobre isso: agir com e para o bem não nos torna tolos, tampouco são atitudes fáceis.

Ser “do bem” requer inteligência, acuidade, diligência e disciplina constantes, pois as vias que conduzem o Homem Bom são estreitas e repletas de obstáculos. O caminho da retidão certamente é o melhor, mas não é para os fracos, para os medrosos e menos ainda para aqueles que não entendem que todo plantio é livre, por conseguinte toda colheita é obrigatória.

Existe uma bela fábula que nos fala sobre o assunto: Certo dia, um jovem chegou perto de seu avô para pedir um conselho. Momentos antes, um de seus amigos havia cometido uma injustiça contra o jovem e, tomado pela raiva, resolveu buscar os sábios conselhos daquele ancião. O velho olhou fundo nos olhos de seu neto e disse: “Eu também, meu neto, às vezes, sinto grande ódio daqueles que cometem injustiças sem sentir qualquer arrependimento pelo que fizeram. Mas o ódio corrói quem o sente, e nunca fere o inimigo. É como tomar veneno, desejando que o inimigo morra.” O jovem continuou olhando, surpreso, e o avô continuou: “Várias vezes lutei contra esses sentimentos. É como se existissem dois lobos dentro de mim. Um deles é bom e não faz mal. Ele vive em harmonia com todos ao seu redor e não se ofende. Ele só luta quando é preciso fazê-lo, e de maneira reta. Mas o outro lobo… Este é cheio de raiva. A coisa mais insignificante é capaz de provocar nele um terrível acesso de raiva. Ele briga com todos, o tempo todo, sem nenhum motivo. Sua raiva e ódio são muito grandes, e por isso ele não mede as consequências de seus atos. É uma raiva inútil, pois sua raiva não irá mudar nada. Às vezes, é difícil conviver com estes dois lobos dentro de mim, pois ambos tentam dominar meu espírito.” O garoto olhou intensamente nos olhos de seu avô e perguntou: “E qual deles vence?” Ao que o avô sorriu e respondeu baixinho: “Aquele que eu alimento.”

Nunca é fácil começar com o pé direito, dar o primeiro sorriso, pedir desculpas e recomeçar do zero quando nos sentimos injustiçados, magoados ou abandonados. Mas, se ninguém der o primeiro passo, se não estender a mão para levantar o outro, se não abrir os braços para um carinho amigo, nunca sairemos do lugar, não mudaremos nosso plantio e não faremos uma boa colheita.

Com tudo isso em mente, reconsidere as palavras e ações mais duras, limpe o quadro das mágoas e comece a escrever o livro do amor.

 

Ana Luíza Rabelo Spenceradvogada ([email protected])

As opiniões contidas nos artigos/crônicas são de responsabilidade dos colaboradores

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