COMO DÓI –

Nosso filho chega de mansinho e se aninha em mim:

– Mãe, estou triste!

Sinto o coração apertar. Faço um afago em sua cabeça e digo, tentando manter a voz serena:

– Vai passar, filho. Vai passar.

Peço uma pizza, coloco na mesa alguns jogos e convoco a todos. Assim, vejo lentamente o sorriso voltando ao rosto do meu menino de 13 anos, um menino-rapaz, que está aprendendo a crescer em meio às turbulências destes dias. Entre brincadeiras, gritos de “ganhei!”, derrotas e latidos de Pretinha participando do seu jeito da reunião familiar penso como é difícil sermos pais…

Ao fim de mais um dia, deito na cama dele e, em um abraço, digo:

– Reza, filho. Não esquece de rezar. Deus te abençoe.

Aquela frase me faz retornar alguns anos, à casa de meus pais. Tenho o costume até hoje de pedir a benção, seja por telefone, seja pessoalmente. As vozes deles me respondendo “Deus te abençoe” me fazem me sentir uma fortaleza! Se Deus está comigo, venço o mundo! São meus pais que estão me dizendo e, cá para nós, eles não mentem para mim…

Nossos filhos não seguiram esta tradição de “pedir”, mas eu a oferto como um presente que recebi e que, acredito, seria egoísta se não passasse para eles. Lembro de papai chegando na casa de meus avós e a primeira coisa que o via fazer era pedir a benção deles. E, para mim, vovô já vinha com a mão estendida para eu beijá-la. Aquelas coisas que não esquecemos…

Os dias têm passado, os jornais tornaram-se mais escassos aqui. Escutamos mais sirenes de ambulâncias, recebemos mais pedidos de oração.

A todos repito com a mesma voz que usei com nosso filho:

– Vai passar, meu anjo. Vai passar! Só não esqueça de rezar. Deus te abençoe.

Que Deus abençoe a todos nós!

 

 

 

Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, Professora universitária e Escritora

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