COMO EXPLICAR O AMOR?
Veja o que o cara escreve…
“Quando lemos O banquete e o Fedro conjuntamente, podemos concluir que Sócrates, ao mostrar a melhoria causada por uma relação guiada por Eros, uma relação erótica, tem um duplo olhar: a finalidade da relação é que os envolvidos possam contemplar as coisas em sua realidade, ou seja, as coisas em si – as Formas ou as Ideias, como Platão as caracterizou. Eles, os dois do par amoroso, melhoram e intensificam o cuidado um do outro, bem como a amizade recíproca, e isso vai capacitá-los a enxergar o que antes não viam – em um sentido não corriqueiro, mas metafísico, ou seja, aquele aludido por Platão em A República, na célebre “Alegoria da caverna”. Poderão plenamente entrar em êxtase ao deparar com o Belo, a Verdade e o Bem. No percurso, produzirão bens culturais de toda ordem – de um poema às leis de uma cidade – e também terão, até para que essas coisas sejam produzidas, longas conversações filosóficas. Isso selará um amor- amizade que permanecerá mesmo quando a paixão mais diretamente ligada ao sexo, com o tempo, vier a se arrefecer.”
Nunca li a obra O Banquete, de Platão (427-347 a.C.), nem muito menos Fedro. Confesso que vasculhei alguns diálogos, destarte, nada que possa me intitular como “A matraqueadora de Platão”. Na verdade, li há algum tempo o livro “Como a Filosofia Pode Explicar o Amor” do autor Paulo Ghiraldelli Jr. Comprei o exemplar em um sebo da cidade em que residia, encontrei-o ao vasculhar títulos aleatoriamente. Naquele ambiente havia uma energia que me puxava para àquele livro empoeirado, escondido no final da prateleira de aço enferrujada.
O que mais me surpreendeu, ao iniciar minha viagem por ele, foi o viés do pensamento que repousava nas páginas que eu folheava – o pensamento filosófico, ou melhor, o entendimento sobre o tema amor que ia além do sexo, do prazer carnal… Entendimento este nem tão recente em meus dias, mas algo amadurecido e realmente primeiro em minha vida. Sensações do sentimento sentido e vivido, de um amor que surge da comunhão do corpo e da alma, da admiração do ser, em sua plenitude desde qualidades às imperfeições. Paulo Ghiraldelli Jr. Consegue “pergaminhar”, tatuar, a premissa do meu pensar, quando versa, em seus capítulos, sobre o amor, razões e vertentes. Ele escreve como se um texto lhe fosse ditado – por mim (Sei que sou uma garota para lá de pretenciosa, mas, quem dirá o contrário?).
Sobre isso, tenho dito. Não sei se antes havia me feito entender, ou se eu mesma havia me entendido. Ah! Mas tem uma coisa muito importante nisso tudo, diante do que li, passei a pensar que posso ser uma pessoa normal. O que me leva a esse impalpável pensamento? Saber que mais pessoas pensam e sentem como eu. E nada muito recente, viu! Se tomar toda essa lorota baseada no que vi e li, ou no visto e lido por aí… Sócrates que o diga!
Há séculos que pensadores entendem a comunhão dos corpos e mentes como princípio para a evolução humana. Que a sintonia, quando se entende e aceita as imperfeições (próprias e do outro) entre os seres, esta impulsiona a libertação da alma, com equilíbrio e respeito a natureza, no seu sentido mais amplo.
Gente, parem tudo! Preciso desabafar, dizer o quanto me sinto aliviada, pois, tive o despautério de pensar que essa história de sexo tântrico, era puro ex(s)oterismo. Algumas vezes pensei ser uma bruxa de vestido preto, verruga no nariz, chapéu de cone invertido e vassoura piaçava. Outras vezes, pensei ser uma fada com vestido de cetim azul, cabelos longos e loiros, munida de uma vara de condão com uma estrela brilhante na ponta. Pensei que talvez estivessem colocando alucinógenos no meu café. Ou, quem sabe, estivesse mesmo precisando de umas boas doses de Diazepam.
Daí, descobri que nos poucos instantes em que curvo minha fronte em reverencia ao ser supremo, desprendendo-me dos medos e anseios, entregando-me ao pai, em oração, tem feito grande diferença em minha vida nos últimos tempos. Diante disso, dessa singela ação, não arrisco dizer, afirmo, que a calma, refrigério e paz que tenho sentido, me faz entender de onde vem o pingo de discernimento e sabedoria que mora na minha cuca cheia de caraminholas e inquietudes, pra lá de criativa.
Equilíbrio e discernimento. Compreensão e sensatez. Amor e paz. É no que tenho pensado e buscado. Com meu jeito meio torto, eu sei… Mas, sou a louca mais racional que conheço, afinal, como bem perguntou Balzac: “Se a luz é o primeiro amor da vida, não é o amor a luz do coração?”
Depois de toda essa prosa, desejo que o candeeiro que guia sonhos e anseios nunca se apague.
Abraços!!
Flávia Arruda – Pedagoga e escritora, autora do livro As esquinas da minha existência, [email protected]