No Rio de Janeiro de 1918, a crise pandêmica da Espanhola afetou a vida agitada na capital da República. Tradicionais lojas do comércio central faliram, restaurantes e tradicionais livrarias cerraram as portas, os reflexos da Primeira Grande Guerra somaram, em sequência, à terrível enfermidade epidêmica. Médicos procuravam tratar acessos pulmonares. A vacina somente apareceu vinte anos após, a onda terrível de mortos e enfermos do pulmão só foi debelada pela reclusão até que as notícias da Revista Fon Fon e de O Globo, à época, refletissem a diminuição drástica de infectados. O pesadelo durou longos três anos até meados de 1920!
Para fazer com que as pessoas colaborassem com si e com a coletividade, a verve humorística carioca passou a funcionar, e assim se fez a distribuição da cartilha pelo governo, orientada pelo Instituto Oswaldo Cruz, para que o comportamento drástico pudesse acontecer.
CARTILHA DA SAÚDE PÚBLICA
Cartilha distribuída para enfrentar a Gripe Espanhola no Rio de Janeiro, em 1918 (Revista Fon Fon, com vernáculo da época):
Previna-se contra a gripe:
Perdigotos – Que perigo!
Se estás resfriado amigo,
Não chegues perto de mim.
Sou fraco, digo o que penso.
Quando tossir use o lenço
E, também se der atchim.
Corrimãos, trincos, dinheiro
São de germes um viveiro
E o da gripe mais freqüente.
Não pegá-los, impossível.
Mas há remédio infalível,
Lave as mãos constantemente.
Se da gripe quer livrar-se
Arranje um jeito e disfarce,
Evite o aperto de mão.
Mas se vexado consente,
Lave as mãos freqüentemente.
Com bastante água e sabão.
Da gripe já está curado?
Bem, mas não queira, apressado,
Voltar à vida normal.
Consolide bem a cura,
Senão você, criatura,
Recai e propaga o mal.
Luiz Serra – Professor e escritor