COMO PASSES DE MÁGICA –
Um dos primeiros fenômenos da tecnologia a me causar surpresa e admiração foi o rádio. Sim, o transmissor que, desde muito tempo, era presença marcante na maioria dos lares. Como criança, me recordo do encantamento produzido por aquele aparelho que, além de “tocar” músicas, transmitia notícias, jogos de futebol e programas de auditório. Tenho nítida lembrança da curiosidade em saber dos nossos pais como era possível caber tanta gente dentro daquele pequeno e inocente rádio Semp, o primeiro que entrou lá em casa, comprado pelo meu jovem e orgulhoso pai. Em nossa ingenuidade, tínhamos dificuldade de entender a maneira como aconteciam aqueles “milagres” que só o tempo explicaria para nós, ou para mim, pelo menos, que sempre fui meio “burrinho” com essas coisas da tecnologia.
As dúvidas e a admiração foram ainda alimentadas por uma conquista da comunicação surgida nos anos 1950; era uma tal radiofoto, orgulhosamente anunciada e exibida nos jornais que consistia na reprodução de uma fotografia através de ondas de rádio. Ai, meu Deus, como é que pode ser isso? – dialogava com os meus adolescentes botões, sem entender como uma foto poderia viajar de longe, mandada e trazida pelo rádio, e ser impressa nos jornais com tanta nitidez. Imaginem espanto maior ainda quando o jornal O Globo, em junho de 1959, divulgou, alardeando com orgulho, o que seria a primeira radiofoto a cores da América Latina.
Em outra ocasião, falei sobre meu primeiro contato com um já então corriqueiro e banal telefone, bem antes do uso das teclas, quando os números das chamadas eram ainda discados, e também como tinha me surpreendido com a eficiência de um telégrafo, habilmente manuseado pelo amigo Francisco “Chico” Rodrigues, o melhor telegrafista a serviço da Rede Ferroviária. E isso tudo já nos idos de 1970, imaginem. Atuava na Rádio Cabugi, nos anos 1960 e testemunhava o trabalho de produtores, locutores e técnicos de som com a missão de realizar um singelo programa diário ou semanal; eram muitas folhas de textos produzidos em máquinas datilográficas, e eventuais seleções das músicas a cargo dos indispensáveis discotecários. Hoje sabemos que tudo isso pode ser feito por um só profissional, que nem tem necessidade de comparecer à emissora porque muitos programas são elaborados e apresentados remotamente.
Atualmente, continua meu espanto, embora me seja mais fácil assimilar o funcionamento e como ocorrem esses milagres modernos. Minha proverbial “burrice” consegue entender que a disseminação dos práticos e úteis computadores, smartphones, smartvs e até inocentes lâmpadas de LED é fruto do domínio dos cientistas e especialistas, que aprenderam a utilizar a chamada Física Quântica, sem cujo conhecimento não seriam possíveis tantas conquistas e tantos avanços tecnológicos. No uso das TVs, há muito estão consagrados os controles remotos, com teclas cada vez mais reduzidas. Um simples toque com a ponta dos dedos é capaz de nos colocar diante de informação abundante, bastando ter à mão esse microcomputador – já mencionado – chamado smartphone. E ainda persiste o uso dos familiares notebooks, embora a maioria das suas funções exista no telefone celular – “aparelhinho” tirânico, mas indispensável até, hoje inserido em nossas vidas como mais um membro, ou, talvez, um sexto sentido do nosso corpo.
Tamanhos avanços têm melhorado a qualidade da vida e facilitado a aquisição do conhecimento, sempre disponível em variadas plataformas, para informação e consulta. Então, é conveniente louvar e estimular essas conquistas, desde que sejam utilizadas para o bem e o progresso. Só assim, habituados a esses novos tempos, iremos esquecer que um dia, abismados e incrédulos, tenhamos visto as primeiras transmissões de televisão em cores como se fossem passes de mágica.
Alberto da Hora – Escritor, músico, cantor e regente de corais
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