COMPADRE ANTONIO –
Antonio Honorato de Almeida conhecido como Antonio Pé de Pato, é um homem saudável, alegre, estatura mediana, muito forte. Ganhou este apelido por ter os pés grandes e ser o zagueirão do Grêmio Recreativo Jandaíra Esporte Clube, um time de futebol lá da cidade de Jandaíra, que fica entre João Câmara e Macau e quando ele corria parecia um pato.
A sua fazenda fica em Baixa do Meio perto de Jandaíra. Região pobre, onde domina um solo muito calcário, de poucas plantações, pouca água, mas assim mesmo, ele adora sua propriedade e vive por lá.
Antonio tinha enviuvado há um pouco mais de dois anos e vinha agüentando a vida de celibato desde daí. Para minha surpresa, chegando lá, Antonio deu um grito, uma boa risada e gritou tão alto que acho que se ouviu em Macau.
– Dr. Augusto cabra da peste, arretado, você por aqui? “Tas” perdido homem de Deus?
– To indo até Alto do Rodrigues, para dar uma trabalhada por lá.
– Mas toma um cafezinho em casa de pobre, não tomas?
– Tomo sim Antonio e vou aproveitar para dar uma estirada nas minhas pernas.
– Ô Rosinha, prepara um café desses gostosos que só você minha nêga, sabe fazer.
– Ô Antonio, se mal não lhe faz eu perguntar, o amigo está de querença nova?
– O amigo num sabia não? Pois foi, estou amancebado. Num casei não, porque homem que tem juízo, só faz esta besteira uma fez na vida! Rosinha vem conhecer o doutor.
Me apareceu um mulheraço, numa bermudinha curta, mostrando parte da popa glútea rosada e um rosto angelical. Aquele pedação de mulher me fez ficar abismado e de tanto envergonhado, o nervosismo não pude disfarçar. Apertei a sua mão docemente e logo pedi licença, para poder me sentar.
Ainda encabulado depois que ela voltou para terminar o café, a conversa procurei retomar. Notei que Antonio havia percebido meu espanto, aos poucos, retornei ao normal.
– Bonita mulher Antonio, além de bonita prendada.
– Olha doutor como nós somos amigos, tenho a liberdade para lhe contar alguns assuntos que só pertencem a mim e a ela.
– Essa mulher além de bonita e prendada, é mulher de fogo alto que nem um vulcão. Pra você ter uma idéia, no dia do nosso ajuntamento, saímos daqui e fomos passar a lua que os abestalhados chamam de mel e é de outra coisa, numa cidade ali perto de Recife. Como é o nome? Esqueci; mas, é parecido com esse troço de botar no pescoço.
Pensei um pouco e matei a charada.
– Gravatá amigo, Gravatá.
– É essa mesmo, é essa danada mesmo. Chegamos no sábado de meio dia, fomos muito bem recebidos. Peguei a chave do quarto e seguimos para lá. Fazia um frio danado. Como tinha levado meu sonzinho, coloquei seu disco, disco porreta, viu? Começamos a dançar. Abri uma garrafa de cachaça para mim, ela só toma cerveja. Doutor começamos o lero – lero era um chamego peneirado, uns beijos mastigadinho, um entrançado de pernas e eu com todo carinho pilotando esse avião. Foi tanto chamego, que o tempo passou e nós num demos fé. Quanto olhei pru relógio, já ia dar seis horas da tarde do domingo.
Meio cansado acordei Rosinha e fomos até o restaurante. Chegando lá, o garçom me trousse o cardápio. Aí, primeiro as damas, passei para a Rosinha. Sabe o que a danada me disse, bem manhosa, sem nem ler o diacho do cardápio?
– Ai amoooor, você já sabe do que eu gossssto.
Aí tremi nas pernas, mas respondi também meloso.
– Saber? Saber eu sei, mas eu tenho que me alimentar, num é nêga? (Risos)
Ta certo amigo, não dê sossego a ela. Obrigado pelo café, já vou indo, até a volta.
-Até amigo, volte sempre.
Guga Coelho Leal – Engenheiro e escritor, membro do IHGRN