Em 2009, escrevi uma plaqueta, em forma de artigo, comentando a tese que defendi no Doutorado em Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano, na UFPR, em Curitiba, no início deste milênio, no final do ano da graça de 2000.
Descobri que a tese defendida encontrava-se (e ainda encontra-se) surpreendentemente atual. Mas, constatei também que ela despertou pouca atenção dos gestores, urbanistas, técnicos do planejamento e até de candidatos a governantes; em que pese o meu esforço de tê-la publicado em formato de livro.
Nele, o livro, falo de questões sociais, miséria e riquezas mal empregadas, educação insuficiente, fronteiras invisíveis, urbanização acelerada, espaços desiguais e uso injusto e inadequado do solo urbano. Questões que, em geral, não são enfrentadas com eficácia pelos órgãos de “planejamento”.
As autoridades municipais, invariavelmente, justificam o caos estabelecido como consequência do “desenvolvimento” da cidade. Subitamente, a metrópole subdesenvolvida passou a padecer dos desconfortos das grandes cidades. Obra do acaso? Estamos condenados a crescer cercados de desigualdades? Usurpados de serviços mínimos de saúde e educação? Com infraestrutura inadequada? Permaneceremos vitimados por problemas de ordem ambiental causados pela falta de saneamento básico e drenagem, pelas ocupações indevidas e descontroladas? Atormentados pelo trânsito cada dia pior?
Não é novidade que o nosso espaço urbano foi e continua sendo apropriado à margem da legislação, dos planos diretores, das leis de uso e ocupação do solo e isto não apenas nas áreas periféricas, mas também nos bairros ditos nobres.
O texto da tese por mim defendida esclarece que sofremos as consequências de abordagens puramente “técnicas” que se pautam, sobretudo, pela “produtividade individual”, modelo historicamente determinado de gestão urbana que resulta no atual quadro de insustentabilidade das nossas cidades.
Minha luta é tentar provar que, por trás das nossas improvisadas cidades, não existem acasos. Existe, isso sim, uma abordagem “técnica” que não dá conta da diversidade socioambiental urbana, aliada à fragilidade institucional das nossas prefeituras.
O que propomos é que o planejamento seja fundado no critério da “Produtividade Social”.
A formulação dessa tese, desse conceito integrador, conduziu-me a reflexões sobre o nosso tempo.
Lembro uma vez que um aluno perguntou-me: – “Professor, por que o senhor escreve?”
Recuperado do susto, porquanto nunca havia pensado nessa questão, respondi que escrevia para fugir à minha própria solidão.
Por que será que, como se fora um “gênio incompreendido” (nem sou gênio, nem escrevo em aramaico), continuo solitário em minhas elucubrações sobre a vida e o futuro?
Outra pergunta que me vem à mente: “para onde vai, ou já foi, o ‘livre pensamento crítico”?
A resposta imediata emergirá à mente do sarcástico: “Sei lá!”
Além de não ser uma resposta academicamente aceitável, esta resposta pode sugerir que o sarcástico é também ideologicamente um reacionário, contrário a qualquer mudança.
Há também lugar para os ressentidos, os desalentados e os oportunistas de última hora.
O fato é que o mundo gira, e os fantasmas do passado assaltam as mentes dos que vivem o presente.
Teimosamente, como queria Agostinho (354 a 430 d.C), permaneço com a Esperança (e suas duas filhas lindas: a Indignação e a Coragem) de capturar leitores críticos, até porque a tese foi escrita com a consciência de que pensar uma cidade é inscrever-se em um movimento histórico, receber a carga de uma continuidade, com a responsabilidade de compreender o presente para aumentar as chances do futuro.
Todavia, no que me diz respeito, já com a certeza de que “não há mais muito tempo pra sonhar”.
Rinaldo Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com
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