A eleição presidencial deste ano pode ser a mais apertada da nossa história politica. Até agora já são 22 pré-candidatos e existem candidaturas em profusão, tanto de direita, esquerda e centro. O momento é complicado porque os partidos estão apostando no tudo ou nada, sem deixaarem a porta aberta para se unirem mais à frente. Mesmo com o ex-presidente Lula preso, o PT ainda acredita na possibilidade de atrair apoio do PCdoB, da presidenciável Manuela D’Ávila, e do PSol, do pré-candidato Guilherme Boulos. Ambas as siglas relutam em acenar com uma união. Tanto quanto o PDT, de Ciro Gomes, e a Rede Sustentabilidade, de Marina Silva.
No centro, a divisão não é diferente e está ainda mais pulverizada. O MDB, do presidente Michel Temer, aposta em uma imagem fortalecida com a chegada de Henrique Meirelles. Mas não conseguiu atrair os partidos aliados. O DEM, o PSD, o PSC e o PRB, da base governista, vão tentar emplacar candidaturas próprias. As pesquisas eleitorais que começaram agora não estão definindo o rumo das eleições, que podem ser ainda mais imprevisível. São muitos candidatos, uma direita sem partidos fortes, uma esquerda dividida e um centro muito pulverizado. A única certeza hoje é que chegou o fim do monopólio da esquerda petista. E muitos outros pré-candidatos também pensam nas suas possibilidades, como o senador Álvaro Dias, do Podemos e o empresário Flávio Rocha (PRB), entre outros.
Os especialistas dizem que nesse cenário, o mais votado no primeiro turno não atingirá nem 30% dos votos válidos. Afirmam que é possível que uma candidatura com o discurso de abertura de mercado e a sinalização da manutenção de direitos sociais chegue ao segundo turno. Mas o cenário ainda é muito incerto. Geraldo Alckmin, pré-candidato pelo PSDB, é o mais cotado para chegar à fase final da corrida eleitoral entre as candidaturas desse espectro político. Mas os rachas dentro da própria base podem comprometer o resultado. Tal divisão pode favorecer a candidatura governista, mesmo sem o MDB ter muitos motivos para comemorar. Temer admite que a melhora na economia ajuda, mas falta uma comunicação junto à base para a montagem de uma coligação forte. As suspeitas de corrupção e a previsão de uma recuperação econômica mais lenta podem atrapalhar bastante.
A retomada de uma aliança entre PSDB e MDB é duvidosa, ao menos no primeiro turno. Por isso os outros candidatos observam a dificuldade dos mais poderosos politicamente em decolar e assim, sonham em abocanhar parte do eleitorado, com muitas pré-candidaturas do centro correndo na busca de votos. Talvez lá na frente possam montar até mesmo uma coligação. O presidente do Sebrae Nacional, Guilherme Afif Domingos, também está avaliando a pré-candidatura pelo PSD. Esse estudo de campo é natural e deverá ser feito também por muitas outras pré-candidaturas. Mas fica claro que falta uma grande liderança nacional que aglutine o centro no primeiro turno.
O ex-presidente Lula deve ser barrado pela Lei da Ficha Limpa, e com isso deixa um enorme vácuo. Falta um nome forte para combater a ascensão dos pulverizados candidatos de centro e da direita. A esquerda corre o risco de chegar sem representante ao segundo turno das eleições. PSol e PCdoB não abrem mão de candidatos próprios, embora se unam à resistência contra a prisão do petista. O PDT, focado no pré-candidato Ciro Gomes, também não. O fato é que todos os partidos de esquerda disputam para ocupar o espaço deixado por Lula. Isso torna a situação mais confusa, e grande parte dos votos de Lula se espalha entre diversas opções, inclusive a candidatura do próprio Bolsonaro.
A pulverização da esquerda e do centro também pode influenciar a direita. Bolsonaro cresceu com um discurso anti petista. Agora, com a prisão de Lula e sem partidos fortes com ele, o pré candidato pode sofrer revezes. O presidenciável, por ora, evita os debates e aposta no clamor do público e nas redes sociais como a chave para o sucesso nas eleições. Sem a expectativa de angariar muitos minutos de tevê, a avaliação é de que chamadas ao vivo na internet possam convencer eleitores. Há até a expectativa de surgir um discurso combativo ao pré-candidato do PDT, Ciro Gomes. Mas, por estar em um pequeno partido, com poucos deputados, pouco tempo de televisão e pouco dinheiro, o que vai acontecer ainda é uma icognita.