COMPRAS NO PARAGUAI –
O momento ainda é de meia quarentena virótica, e o repouso caseiro faz atiçar os neurônios para quem gosta de relembrar sua vivência em tempos idos e vividos.
Fiz algumas viagens pelo Brasil e fora dele. Conheci Europa, França e Bahia. Mundo maravilhoso e cheio de coisas boas, e outras nem tanto; de costumes, culturas, comportamentos bem distintos e enriquecedores; vale a pena viajar. Como é bom! Como faz bem!
Em meados da década de 1970, no auge do momento febril e de ebulição das boas e baratas compras no Paraguai, ocasião que contaminou todos aqueles que tinham sede em adquirir bons produtos a preço de “banana”, usando a famosa Lei de Gerson; assim, picado pela mosca azul paraguaia, investi em uma excursão até o país fronteiriço. Aproveitaria também para conhecer e desfrutar da beleza de uma das 7 Maravilhas do Mundo Moderno: as famosas Cataratas do Iguaçu: deslumbrantes e encantadoras.
De ônibus, cheguei ao Paraguai pela Ponte da Amizade, inaugurada no dia 27 de março de 1965 pelos presidentes Castelo Branco e Alfredo Stroessner.
Logo na entrada, em sua zona de fronteira, localidade conhecida como Puerto Presidente Stroessner – Ciudad del Este, já se percebia nitidamente o agitadíssimo comércio; nada a dever ao fuzuê da rua 25 de março, na cidade de São Paulo, em véspera da Festa do Natal.
Ofertas a mil, vendedores abraçando os clientes nas ruas, as calçadas cheias de mercadorias; de tudo tinha e tudo brilhava aos olhos.
A minha maior cobiça, o meu maior foco, era visitar as casas de bebidas. Queria, porque queria, comprar uísque, muito uísque, barato e bom.
Entrei em uma casa especializada e logo fui colocado diante de uísques das mais finas qualidades, com preços muito convidativos. Comecei a admirar e a namorar com a família dos Johnnie Walker, havia rótulos de todas as cores. Depois de muito admirá-los, declinei para o Black Label. Comprei tudo o que podia, sem me lembrar de uma possível e viável fiscalização no ônibus, na passagem de volta pela ponte.
No retorno, ao passar pela fiscalização, não deu outra, parada do ônibus e rigorosa abordagem nas mercadorias. Como o bom cabrito não berra, antes de embarcar os uísques na minha bagagem, pedi a alguns companheiros de viagem para dividir as minhas muitas garrafas; contei com a colaboração das algumas religiosas (freiras), que embarcariam também no mesmo ônibus levando pouquíssimas encomendas. E assim foi feito, passagem livre, deixando curiosos e muito curiosos os fiscais aduaneiros com relação a tantos litros de uísque nas bagagens das irmãs de caridade. Festa no Convento!? Aniversário do Bispo!?
O segundo episódio da vantajosa viagem ao Paraguai se deu já em Natal, quando do aniversário do meu filho. Muitos convidados, muita alegria e muito uísque solto, bom e barato nas mesas; uma boa e vantajosa economia colhida da viagem “maravilha” ao Paraguai.
Aniversário rolando solto, bom e animadíssimo papo, muitos convidados; só que em determinado momento comecei a observar que o uísque estava “boiando” nas meses. E os convidados pedindo insistentemente cerveja. Tentei testar a mistura de álcool e iodo paraguaia e a danada não descia de jeito nenhum, nem a pau, quase me sufoca ao tentar deglutir. Morto de vergonha, puto da vida, lembrando da trabalheira e do risco em trazer às escondidas garrafas de uísque, fui aos poucos e na surdina retirando as garrafas das mesas e trocando pela cervejinha gelada tão pedida e desejada.
Tive que derramar toda mistura etílica, o falso uísque Paraguai, no esgoto, acompanhada de muitas boas risadas, pagando pela desejada e não concretizada usura gersiana.
Moral da história: esmola grande cego desconfia; laranja madura na beira da estrada tá bichada ou tem maribondo no pé; cavalo dado se abre a boca, sim; uísque do Paraguai bom e barato, nunca mais.
Berilo de Castro – Médico e Escritor, [email protected]