Flávio Rezende*
– Para Jeane Bezerril –
Cumprindo um dia de trabalho no Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da UFRN, onde contribuo com minhas atividades jornalísticas, vejo mais uma vez uma jovem pregando cartazes nos espaços reservados para divulgação de atividades acadêmicas e culturais.
Ela é vista exercendo seu ofício de pregadora de cartazes culturais em todos os cantos e recantos da cidade. Praticamente a totalidade dos artistas, de todas as áreas, produtores culturais e empreendedores deste setor, conhecem a figura de Jeane Bezerril.
Sempre sorridente, com uma mochila nas costas contendo a matéria prima para o perfeito desempenho do ofício que elegeu para sua vida, trabalha os três expedientes e, posso garantir, sabe como ninguém onde tem mural, como melhor fixar o cartaz e, respeita os lugares proibidos para seus impressos.
Jeane é o tipo de pessoa que deve ser reconhecida e ser homenageada nestes muitos eventos culturais, recebendo por sua labuta diária, um troféu, um diploma, uma citação num desses regabofes da vida.
Se até o momento ela esteve invisível aos organizadores destes eventos e, as entidades culturais da cidade, homenageio esta querida figura com o presente escrito, reconhecendo em seu trabalho cotidiano, uma das melhores contribuições para o cenário cultural da cidade.
E a injustiça com Jeane Bezerril, pode ser estendida a tantos outros, que em diversas áreas, fazem e acontecem, não recebendo, no entanto, os louros advindos destas festas que anunciam os mais importantes e os melhores do ano.
Assistimos através da mídia, a generosa distribuição de comendas, medalhas, troféus a um monte de gente, principalmente políticos, jornalistas e gestores, muitos dos quais, altamente mal avaliados pela população no desempenho de suas funções, mas, para os eleitores dos merecedores de homenagens, parece que o cargo vale mais que o mérito pessoal, tornando patente e patético que em alguns casos, o elogio é uma espécie de moeda de troca, como que numa mensagem cifrada onde se lê, toma de cá e me dá de lá.
Em todas as áreas circulam heróis esquecidos, batalhadores, pessoas que realmente enobrecem uma profissão, uma atividade, um esporte, mas, nem sempre ocupam as posições de relevo e, por isso e só por isso, não entram nas listas dos melhores, passam a margem das escolhas, não ficando invisíveis, ainda bem, aos olhares e avaliações daqueles que conseguem perceber no cotidiano da vida, o verdadeiro valor daqueles que anonimamente trabalham de fato, para o perfeito existir da área em que atuam.
Para Jeane Bezerril, que simboliza neste escrito estes anônimos e incansáveis trabalhadores, minha medalha, minha comenda, meu troféu com letras escritas e originárias, do fundo do meu coração agradecido por seu meritório e importante trabalho.
Flávio Rezende – É escritor, jornalista e ativista social em Natal/RN ([email protected])