A tentativa frustrada de golpe na Turquia é na verdade, pelo que tudo indica, um auto-golpe de Erdoğan. É evidente que os serviços de inteligência do país detectaram uma movimentação militar, mas Erdoğan pagou para ver e agora pode se livrar de mais inimigos e adversários. Digamos que lembra muito a situação em que o Diabo estivesse acordado de mau humor e resolvesse fazer uma das suas, como por exemplo deixar acontecer uma confusão para ver como vão ficar as coisas complicadas. Para que a Europa se sinta ainda mais insegura, para assular as ações terroristas do Estado Islâmico, para levar tensão à OTAN, para deixar Obama uma vez mais com o queixo de estátua e nada a dizer e o Diabo não poderia ter sido mais certeiro, escolheu a Turquia. Foi o que se viu assim com essa tentativa desastrada de golpe de Estado empreendida por parte do Exército na noite dessa sexta-feira que passou. Ainda não está claro quais facções exatamente se mobilizaram, mas é possível que na sua maioria sejam lideranças laicas das Forças Armadas que estão sendo progressivamente substituídas e, diga-se, por elementos ligados ao Partido da Justiça e Desenvolvimento do quase ditador Erdoğan, que inclusive já foi primeiro-ministro entre 2003 até 2014 e a partir de então Presidente da República, pelo que podemos dizer que ele hoje é o dono da Turquia. Nessa brincadeira indigesta morreram 305 pessoas e Erdoğan, nas suas ações, já prendeu 9.000 pessoas, entre elas 7.500 soldados, inclusive entre eles 85 generais e almirantes; 8.000 policiais foram retirados dos seus postos e 1.000 presos, 3.000 integrantes do judiciário, incluindo 1.481 juízes, foram suspensos; 15.200 autoridades do Ministério da Educação perderam seus empregos, 21.000 professores tiveram suas licenças para trabalhar revogadas, 1.577 reitores das universidades tiveram que renunciar ao cargo, 1.500 funcionários do Ministério das Finanças foram demitidos, 492 clérigos religiosos e professores de religião foram demitidos, 393 funcionários do Ministério de Políticas Sociais foram dispensados, 257 integrantes da equipe do primeiro-ministro foram demitidos e 100 agentes de inteligência foram suspensos. Esses números não são definitivos, mas está muito claro que o expurgo afetou mais de 58.000 pessoas.
(Mario Roberto Melo, correspondente do Blog Ponto de Vista, em Tel Aviv)