Há exatamente dez anos, quem diria que uma pichação com os dizeres “sua hora vai chegar doutor”, escrita no muro de um colégio, causaria tamanha comoção. O doutor em questão, era o ditador Bashar al-Assad que de imediato mandou prender e torturar cerca de quinze menores de idade. Este foi o estopim para guerra que devastou a Síria.
Naquele mês de março de 2011, onde se vive a primavera aqui na região, deu-se início a uma grande onda de protestos, que clamava por mais direitos e menos autoritarismo. Entretanto, a medida que as manifestações foram se espalhando, a repressão tornava-se mais brutal. O governo sitiou cidades onde os atos eram mais fortes e meses depois, militares deixaram o exército para formar milícias que atuavam contra o governo.
Então, aquele quinze de março de 2011 marcava o início dessa guerra cruel e sanguinária que provocou a fuga de 6 milhões de sírios para países vizinhos e uma grande parte para o continente europeu. Aliás, O Mar Mediterrâneo foi também foi palco de guerra, porque muitas vidas foram perdidas no deslocamento dos refugiados em embarcações precárias, gerando muitos naufrágios. Um desses naufrágios ficou marcado como símbolo do drama dos refugiados, onde uma criança, Aylan Kurdi, de apenas três anos foi encontrada numa das praias da Turquia.
Hoje, a Síria se transformou numa colcha de retalhos. O movimento islâmico HTS controla parcialmente a área de Idlib, a oeste do território, que se encontra atualmente sob domínio turco. Os curdos controlam a região noroeste, enquanto do nordeste a leste resíduos de grupos jihadistas ainda resistem. Milícias iranianas atuam no sul, provocando constantemente Israel.
O que salvou a permanência de Bashar al-Assad no comando do país, foi o apoio político e militar contínuo da Rússia e do Irã. Este ditador sanguinário de 55 anos, é alvo de várias investigações por crimes de guerra e contra a humanidade, mas aparentemente, continua inabalável. Assad segue aplicando a estratégia aprendida com seu pai, Hafez. Depois de chegar ao poder por meio de um golpe de Estado nos anos 1970 , Hafez al-Assad estruturou um regime apoiado no partido único Baas, num aparelho repressivo bem organizado e num Exército fiel às ordens da família. Bashar herdou essa estrutura.
A grande pergunta é o que será da Síria, que hoje tem apenas 17 milhões de habitantes e cerca de 80% da população vive abaixo da linha da pobreza?
Mário Roberto Melo – (Correspondente do Blog Ponto de Vista, em Tel Aviv, Israel)
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