CONFISSÕES DE UMA STALKEADORA DESILUDIDA… –
Há alguns dias, venho me remoendo por causa de um episódio que mexeu com a minha sanidade digital. Tudo começou com uma visita inocente ao mundo do Instagram. Entre uma foto de comida e outro meme engraçado, me deparei com a postagem de um antigo conhecido. A última vez que o vi pessoalmente, ele estava com a namorada e seus três enteados. O que me chamou a atenção, na verdade, foi a postagem recente dele com outra pessoa, acompanhada de uma legenda que indicava um romance. Intrigada, iniciei uma investigação virtual digna de Sherlock Holmes.
Comecei minha navegação pelo perfil do amigo, vasculhando cada retrato em busca de pistas. De buliçosa, me tornei uma investigadora nata, estava me achando. Mas, para minha surpresa, não encontrei nada que confirmasse minhas suspeitas, além daquela foto da tal portagem, claro. Desconfiada e meio doida, decidi então investigar o perfil da antiga namorada. Para meu espanto, não havia nenhum vestígio da existência desse relacionamento, se é que algum dia houve. Tudo rebolado no mato, e eu lá bestando, feito boboca.
Aquela situação me deixou meio lesa (lesa, para as bandas de cá, é a mesma coisa que abestalhada). Teria euzinha criado em minha mente uma história que nunca aconteceu, um casal que nunca existiu? Estaria eu avexada do juízo? Talvez eu devesse marcar uma consulta com o psiquiatra, iniciar a terapia tantas vezes adiada. É, acho que ando com o quengo mole, afinal, como poderia desaparecer da memória algo que parecia tão real, tão apalpável? Por onde ficaram as memórias compartilhadas, os aprendizados e os momentos vividos juntos? Seria tudo aquilo apenas nada, parte de um amor líquido à la Bauman, que se dissipa no ar sem deixar rastros?
Eu tenho dificuldade em viver/ver amores rasos e efêmeros, tudo bem se são passageiros, na verdade, isso não importa, pois não se trata do tempo de duração, mas sim do que se viveu, de preservar as memórias afetivas, de aprender e sentir gratidão pelos ensinamentos da vida, mesmo que tenham causado desconforto ou dor. Afinal, cada relacionamento tem seu valor e merece ser lembrado, seja para evitar repetições ou para se transformar em saudade.
Cada relacionamento, mesmo os mais breves, contribui para a nossa jornada, moldando quem somos e nos ensinando algo valioso. Lembrá-los nos permite revisitar momentos felizes com carinho e gratidão, fortalecendo nossa autoestima e nos motivando a buscar novas experiências significativas.
As vivências, inclusive as dolorosas, nos ensinam sobre os nossos limites, valores e desejos, nos guiando em direção a relacionamentos mais saudáveis e gratificantes. Penso que, para que não cometamos os mesmos erros, é preciso não os esquecer, deixá-los como referência daquilo que não queremos mais em nosso caminho. Sem falar que, quando apagam as fotos do Instagram, dá nó no juízo de certas pessoas. Pense num troço sem futuro, foi essa minha breve vida de STALKEADORA, tô fora!
Flávia Arruda – Pedagoga e escritora, autora dos livros: As Esquinas da Minha Existência e As Flávias que Habitam em Mim, [email protected]