Era esse, Senhor Redator, se ainda lembro, o título de um dos pontos do livro ‘Programa de Admissão’, de Haroldo Azevedo e outros professores, uma edição da Companhia Editora Nacional. Ali, nas suas páginas, estava, para nós, aqueles jovens adolescentes, a esperança de passar no exame de admissão que encerrava o curso primário e abria as portas para os quatro anos do ginasial. Depois, três anos de científico ou clássico, quando então era possível sonhar com a aprovação no vestibular.
O exemplar desapareceu, mas anos depois, já picado pela mania de livros velhos, reencontrei uma mesma edição num sebo de São Paulo. Trouxe comigo. Na capa, aquele menino de óculos lendo o livro na carteira escolar com o quadro negro ao fundo. Lembrei o detalhe da Conjunção Planetária sobre os planetas em alinhamento diante dos quatro nomes da nova geração que agora assumem os três poderes no Estado e o Tribunal de Contas. A eles o destino reserva a simultaneidade excepcional.
É possível que aos mais exigentes, só por isso, não convença ser uma renovação de valores e métodos, mas o ano de 2015 marca, certamente, um tempo quando nada diferente no exercício dos poderes. Robinson Faria, no Executivo; Cláudio Santos, no Judiciário, Ricardo Motta no Legislativo e Carlos Thompson Fernandes na presidência do Tribunal de Contas. Este, registre-se o detalhe, com a sua singularidade de ter chegado a conselheiro do TCE oriundo da carreira de procurador de contas.
Não se exclui do novo desenho a velha tese de que a juventude pode representar a renovação de idade e não de métodos. Mas, se o estilo é o homem, como queria Buffon, esse estilo pode ser mais forte do que o hábito do cachimbo. Um fato se impõe: pela primeira vez, independentemente de suas origens, os poderes não estão nas mãos dos grupos familiares tradicionais, três deles por força do voto, e um nomeado pelo executivo, mas com a credencial de ter cursado uma carreira de estado.
O que se tem, no seu conjunto, é a chegada da nova geração ao poder diante de uma sociedade que apesar da força dos costumes se ergue na consciência de seus direitos depois de mais de meio século obrigada a cumprir deveres. Uma sociedade que foi às ruas, protestou acima de partidos, ideologias e poderosos, e fixou sua voz acima dos vinte centavos que, se foram o gatilho da insatisfação, fizeram a sociedade reocupar as ruas como o mais legítimo território de conquistas.
Aos novos dirigentes, e só a eles, cabe moldar um novo sistema de relação com a sociedade formadora da Nação, sempre maior que o Estado. Quem assim não conduzir-se, e conduzir suas funções, não conquistará os diversos segmentos de uma sociedade que apesar das precariedades de uma cultura política em processo de maturação, será sempre mais forte do que a vontade individual de quem quer que seja. E, a rigor, não há novidade. Afinal, é assim no estado democrático de direito.
Vicente Serejo – jornalista e escritor
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