CONSERVAÇÃO DE VIADUTOS TAMBÉM NÃO DÁ VOTOS –
Essa tese serve para a capital da República, mas pode servir para outros municípios. Eu moro a um quilômetro do local em que desabou o trecho de viaduto no Eixão Sul de Brasília, bem próximo do futurista edifício do Banco Central. Embaixo desse viaduto, havia a Galeria dos Estados, um espaço com estacionamento e, ao lado, espalhavam-se cadeiras e mesas de um restaurante onde se faziam eventos regulares. Por um triz não ocorreu uma tragédia de proporções.
Esse grave sinistro deixou alerta para a negligência dos governos para com as estruturas de edificações e viadutos que, quase sempre, são relegados por priorização de verbas. O perigo hoje é justamente a falta de manutenção e vistorias, antigamente a culpa recaía sobre a questão do cálculo estrutural, o que hoje é significativamente raro. Lembro-me no Rio de Janeiro do desabamento do Viaduto Paulo de Frontin, que veio abaixo em 1971, enquanto um caminhão betoneira de 2.5 toneladas, carregando oito toneladas de cimento, atravessava o vão do trecho da Haddock Lobo. O peso excessivo fez a construção colapsar, com as vigas e o concreto precipitando sobre os carros que estavam retidos no semáforo. A cena do desastre foi impressionante, onde via um trecho de 122 metros do elevado, sobraram apenas as colunas. Vinte e nove pessoas morreram imprensadas em maioria dentro seus carros.
A queda do trecho de viaduto em Brasília fez com que muitos lembrassem, na capital, que um engenheiro da UnB já havia alertado para os danos estruturais e ferrugem à vista nos cabos de ferro justamente nesse trecho da Galeria dos Estados. A obra fora erigida junto da construção de Brasília, portanto há 57 anos. A peculiaridade da Capital é que o modelo arquitetônico é relativamente imobilizado, em que prédios e vias de deslocamento se mantém estruturalmente sem modificações no formato. É o chamado Plano Piloto, de concepção de Lúcio Costa e Niemeyer.
Em geral nas demais cidades, como Natal, novos trechos de viadutos são construídos, prédios são revitalizados, no entanto, tal qual uma cidade litorânea, há a questão da maresia, e as estruturas mais antigas devem, rigorosamente, ser fiscalizadas. Como está acontecendo em Brasília, em que moradores estão denunciando por diferentes mídias, com fotos esclarecedoras, outros trechos não conservados da cidade, tal providência cidadã precisa ser sadiamente imitada na capital potiguar, não só como autoproteção, mas como alerta ao governo para que priorize também a conservação de edificações e vias públicas. Mesmo que signifique uma invisibilidade eleitoral no campo do imediatismo populista. Antes que a catástrofe aconteça, ou sobrevenha um susto monumental, que venha catalisar a população, como tal ocorreu em Brasília.
Luis Serra – Professor e escritor
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