CONSOLO –
Achava superdivertido alguém falar em “dar o consolo” para um bebê.
Sim, aqui no nordeste (ou em parte dele, considerando sua imensidão), consolo é um dos nomes carinhosos da chupeta. Bubu, bico, chucha, cada qual chama de um jeito.
Usei chupeta até meus 7 anos de idade. Minha arcada dentária sofreu todas as consequências possíveis deste “hábito deletério”, como chamamos na Odontologia. Paciência. Não dá para voltar atrás. Chegava da escola e procurava ansiosamente minha chupeta e o meu cobertor amarelo, que finalizou sua vida mais cinza do que se podia acreditar.
Olhando bem, era um consolo realmente ter a chupeta e o cobertor ao meu lado, acompanhando-me para dormir, assistir TV, descansar.
Aos sete anos o hábito ficou para trás. Não como um passe de mágica. Foram anos de negociação com meus pais. O negócio foi tão sofrido que me marcou.
Quando nosso primeiro filho nasceu, chorando ou mamando até me consumir emocionalmente, como toda mãe de primeira viagem, Flávio saiu em direção à farmácia e voltou com 3 ou 4 chupetas numa sacola. Não acreditava naquela compra. Olhava para ele e apontava meu perfil, mostrando o desenvolvimento facial alterado pelos anos de chupeta.
Ele me disse que seria por pouco tempo.
Eu lhe disse que não tínhamos como ter certeza disso.
Ele disse que seria uma experiência apenas.
Eu disse que não achava conveniente. Preferia o choro ou as horas amamentando.
Enfim, as chupetas decoraram um lindo pote sobre a cômoda. Nunca foram usadas.
Que nosso João Victor procurasse consolo de outras formas!
Hoje, vi-me numa situação complicada. Faltava-me consolo. Lembrei da chupeta, do cobertorzinho amarelo-cinza, do colo dos meus pais. Olhei para o computador e refleti sobre isto tudo. Coloquei os fones nos ouvidos, liguei o som e comecei a orar…
Foi o meu maior consolo. O mais brando. O mais sincero. O mais singelo. Porque me coloquei ali, nas canções de adoração, no colo do Pai.
Não tem consolo maior…
Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, professora universitária e escritora