Bruna Freire
Em tempos de crise econômica e de adequação nos orçamentos das famílias brasileiras, acho que vale a pena refletirmos sobre algumas perguntas.
Até que ponto o consumismo influencia na felicidade das pessoas? O que move as nossas escolhas de consumo? Elas são a concretização de um sonho, uma conquista pessoal? São uma forma de agradar alguém? Esse alguém é realmente importante? São para mostrar algo à sociedade? A quem de fato precisamos agradar? Os bens adquiridos são necessários e fazem parte do nosso projeto de vida? Estamos abrindo mão de alguma prioridade e de um sonho maior para adquiri-los? As aquisições nos darão apenas uma alegria passageira e superficial ou terão influência real no nosso dia a dia e na nossa felicidade?
A satisfação das pessoas com o consumo vem de diferentes formas. Algumas se sentem felizes usando uma roupa nova a cada fim de semana; outras se sentem bem usando uma roupa com uma boa qualidade e durabilidade, não se importando tanto com a diversificação; outras gostam da exclusividade. Uns adoram viajar, outros gostam de dirigir carros velozes ou confortáveis; alguns não gostam nem de um nem de outro, mas acham que precisam das duas coisas para terem status e se sentirem socialmente aceitos. Há, ainda, os que querem o melhor produto para se sentirem ou mostrarem que são melhores e mais importantes do que os outros.
Não se pode ter tudo. As escolhas, na minha opinião, devem ser feitas após a pessoa indagar se aquele bem ou serviço efetivamente terá influência no seu conforto e felicidade pessoal, e se a sua aquisição não está afastando a realização de um sonho ou projeto de vida mais importante. Essa viagem me deixará feliz? Eu preciso e serei feliz em um apartamento desse tamanho e nesse local? Eu preciso dessa bolsa e ela influenciará na minha felicidade? A bolsa, o relógio ou o carro de 100X Reais me deixarão verdadeiramente mais feliz do que os que custam X Reais, ainda que tenham praticamente a mesma qualidade e beleza? Caso a resposta seja positiva, acho que vale a escolha e a aquisição.
Penso, porém, que não há nada mais lamentável, ultrapassado e cafona do que fazer escolhas pensando em “agradar” ou mostrar algo a pessoas que nem se importam com a gente e que, por sua vez, só estão preocupadas em mostrar algo a outras pessoas que também não se importam com elas. A esse respeito, vale a transcrição de um trecho que acho fantástico do livro 11 Segredos para a construção de riqueza, de Mark Ford: “Muitos extrapolam. Compram o que não precisam com um dinheiro que não têm para provar aquilo que não são a pessoas de quem nem gostam”.
Acredito que o consumo tão somente como fonte de poder e de status não tem limites e dificilmente gera felicidade. As pessoas compram cada vez produtos mais caros e a satisfação normalmente dura muito pouco, pois logo aparece algo mais caro ainda que faz com que o anterior deixe de ser interessante.
Em entrevista à revista Época Negócios sobre as angústias da elite que frequenta o seu consultório, o renomado psiquiatra e escritor Flavio Gikovate afirmou que o consumismo da elite brasileira é desespero e fonte de infelicidade. Pela relevância, cito o seguinte trecho: “Em países de Terceiro Mundo – e, intelectualmente, aqui é quase Quarto Mundo –, a elite só piorou nesse tempo. É uma elite medíocre, ignorante, esnobe. Na Europa e nos EUA, o exibicionismo da riqueza é muito menor. Na Europa, as pessoas consomem qualidade, não quantidade. Elas têm uma bolsa cara, mas não mil bolsas, para fazer disputa. Aqui há um comportamento subdesenvolvido e medíocre. E totalmente competitivo. As festas de casamento e de 15 anos são patéticas. A próxima festa tem de ser maior. Isso é sem fim. É sofrimento, é infelicidade. A quantidade e o volume com que as pessoas correm atrás dessas coisas é desespero.”
Na minha opinião, as pessoas devem primeiramente procurar autoconhecimento, buscando compreender e definir os seus sonhos e projetos de vida. Em seguida, devem guiar o seu consumo de forma que as aquisições se encaixem nesses propósitos e que contribuam verdadeiramente na construção e concretização da felicidade. Direcionar o consumo pensando em satisfação momentânea é desperdício. Direcionar o consumo pensando em satisfazer a sociedade é burrice.
Bruna Freire – Advogada