valerio mesquita

Trata-se de um tema que vem sendo comentado com frequência, há décadas. Recrudesce sempre nas proximidades das eleições para a Câmara Federal, aqui no Rio Grande do Norte. Áreas para instalação são apontadas e em seguida tudo fica no mesmismo. Seria trágico, se não fosse cômico, se investigar esse disse-me-disse de ZPEs no agreste, no seridó, no vale do Assu, no oeste ou na área da grande Natal. A reprise desse assunto no calendário eleitoral pelos políticos responsáveis, além de confundir e enganar o povo – fazendo-o de estúpido – redunda em agressão à lei eleitoral, aos bons costumes, pela falsidade ideológica com que é impingido um investimento de ordem publica/privada sem uma discussão ampla dos grupos investidores com as classes produtoras do Rio Grande do Norte e governo do estado.

Essas zonas não significam o que alguns estão pensando. São as zonas de processamento de exportação do Rio Grande do Norte. Um empreendimento muito parecido com o faraônico projeto que sediou aqui alguns jogos da Copa do Mundo, destruindo o patrimônio público e metade do bairro de Lagoa Nova. Compreendam-me bem: não quero com isto que suponham que sou contrário às ZPEs. Mas, sim, à propaganda enganosa de infligir à coletividade a imagem de vítima de um capricho político vicioso e eleitoreiro. Alguns municípios – li na imprensa – disponibilizaram glebas desapropriadas com o dinheiro público, sem nenhum planejamento ou debate técnico sobre o assunto.

São procedimentos açodados onde o tráfico de influência e a captação subliminar e ilícita de votos estão tão explícitos quanto as irregularidades de ordem contábil com afronta à moralidade pública. Esses artifícios curiosos e episódicos contam com a cumplicidade de alguns ministérios ligados a partidos aliados que atuam nos estados. O critério de escolha não parece técnico nem seletivo. Há um dono, um foco, um aparelho transformador, destinado a converter situações e imprimir resultados. A expectativa nossa é de que as zonas não se transformem em burlas para premiar confrarias, pelo tratamento vago, vadio e vazio, em vez de avançar sistemicamente nas negociações com os grupos estrangeiros, os quais nem ao menos se tem ideia de onde vêm. A ZPE é tratada como tema abstrato, oferecendo apenas um factóide publicitário que transparece como recompensa material em troca de voto. O receio reside na preocupação coletiva que essas regras facilitem a perpetuação da corrupção e do fisiologismo. O próprio capitalismo selvagem no mundo transformou-se num assombroso vampiro na Ásia explorando a classe proletária.

A implantação das zonas de processamento de exportação deve sair do palanque político para o auditório dos debates com os verdadeiros agentes produtivos do estado. Que as coisas não sejam decididas com festa do dinheiro público como se desenha na volta anual de cada pleito. Que as zonas representem, na agenda do crescimento do emprego, melhor e maior credibilidade e não uma zorra implementada e operacionalizada por ministérios comprometidos com os interesses partidários e não com os objetivos da integração nacional.

No popular, zona é um vocábulo comum que inspira boas recordações. Casas de recursos e pousadas de lazer e divertimento. Não existem mais. Imperava nelas a servidão humana das mulheres. Mas, reservavam o prazer. E funcionavam bem porque processavam e exportavam o pecado, o mais antigo meio de comércio e indústria da humanidade. O bairro da Ribeira em Natal e Ponte Negra são as ZPEs mais citadas dos bons tempos, às margens das águas fluviais e marítimas. A expectativa do articulista é de que os “corredores de exportação” de hoje, não fiquem apenas na saudade e no consumo dos pecados políticos: através de atos, fatos, omissões e oportunismos.

Valério Mesquita – Escritor – [email protected]

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