CONVERSA COM O VENTO –
Hoje eu caminhei pela praia e, enquanto eu estava por lá, o vento que passeou ao meu lado contou-me um monte de coisas… Durante o tempo em que estive pisando a areia da praia, senti o sol tocando a minha pele, afagando o meu âmago, trazendo, juntamente com o frescor da brisa, a sensação de liberdade… Assim, em êxtase, pensei, vi, visualizei, em puro devaneio, os tempos de outrora quando eu acordava com o seu cheiro, quando as madrugadas em seus silêncios costumavam conversar comigo, fazendo-me revelações que guardo nos segredos escritos nas prosas e versos de minha alma.
Hoje a saudade parece não caber em mim. O sopro dos ventos me trouxe o cheiro das lembranças suas. O céu desenhava os vultos de seu olhar e até jurei ter visto seu sorriso carinhoso. Lá no alto do morro, de areias coloridas, pude ler as frases de amor que um dia juramos e cambaleei um pouco, enquanto descia, nas areias da praia, ao andar sem prumo, com o sol escaldante da manhã, que me fez delirar, reviver sonhos e vibrar pela saudade que insistia em me levar até você.
Senti uma leve onda molhar meus pés, lembrei o seu olhar desconcertante, penetrando meu ser sem filtros e nem barreiras, com livre acesso em mim. Senti a água salgada benzer os segundos de mergulho em você, renovando-me e me fazendo sentir um prazer imensurável. Senti o vento me abraçar como se em seus braços estivesse.
Os passos iam ficando pelo caminho, as marcas se apagavam com os restos de mares, das ondas fracas que se afundavam na beira da praia; a orquestra tocava as canções de uma saudade, hipnotizada ao som do violino. O vento, como vareta, deslizava sobre as rasas águas que enfeitavam as areias da praia deserta.
Depois de uma longa caminhada, sem deixar rastro para trás, era hora de voltar. O sopro dos ventos, agora mais forte, empurrava-me gritando ao meu ouvido; mostrava-me sua força revelando minha necessidade de resistir e vencer os furacões contrários… Quanto mais eu era empurrada, mais firme tinha que me manter para enfrentar, de frente, os ecos dos sibilos que cruzavam os galhos das palmeiras, emudecendo o canto dos pássaros, que parecia me castigar, pois passava-me lições, reclamações, conselhos… Dizia ele que a vida é agora, que o sonho é possível, basta não ter medo de sonhar… De repente ele, o vento gritou: Céus! E só assim eu pude entender que não dá mais para voltar, que é preciso seguir, apagar as pegadas que pisotearam os chãos da alma e construir novos caminhos, com novos passos…
O meu lugar preferido é…
O lugar onde vivo tem guardados de memórias, saudades e sonhos. É bem ali, dá para chegar ligeiro, basta fechar os olhos e perambular pelas lembranças.
Nos achados dos guardados de minhas lembranças tenho me deleitado na beleza desse encontro de almas, tão raro de sentir e viver.
O meu lugar preferido é no recanto dos pensamentos que me ligam a você. É lá, nas minhas lembranças e saudades, que eu encontro o melhor lugar do mundo.
Flávia Arruda – Pedagoga e escritora, autora do livro As esquinas da minha existência, flaviarruda71@gmail.com
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