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A maioria do povo brasileiro nega a Copa do Mundo, não o futebol, não a nossa seleção. Nega a prioridade dos gastos, em detrimento dos investimentos em educação, segurança, saúde.

Se comparada às solenidades de abertura das outras copas, a do Itaquerão não chegou a ser digna do Fuleco, tatu-bola. No máximo, seria uma solenidade peba, de baixa qualidade.

Faltou-lhe a identidade. A FIFA, em nome de uma absurda globalização, despreza os costumes, a arte, a ciência brasileira. O show de abertura imaginado por um diretor italiano, Franco Dragone, e a coreografia da belga Daphné Cornez tiveram apenas a beleza da voz e gestual de Claudia Leitte. E, ainda, em vez de alguns artistas de excelência do Brasil, apresentaram-se dois americanos: a rica Jennifer Lopez e um certo e famosíssimo rapper, Pitbull, cujo nome verdadeiro é Armando Christian Perez, que, como é do conhecimento público, aos dezesseis anos, traficante de drogas, foi expulso de casa quando a atividade criminosa foi descoberta por sua mãe.

Mesmo com os estrangeiros artistas, o site governamental diz que a solenidade “homenageia a natureza, o povo brasileiro”. Seria brasileira a canção “we are one”? Por que não se ouviu a música popular brasileira, “A Garota de Ipanema”, que identifica o nosso País no mundo inteiro? Por que não o samba, a bossa nova? Por que não a amazônica vitória-régia abrindo-se em flor? Por que não mostrar um pouco das maravilhas do nosso País?

A Copa movimentou vinte e oito bilhões de reais. Destes, alguns bilhões tornaram-se lucro da FIFA, a soberana. O Governo não teve forças para conferir algum rumo verde-amarelo à solenidade.

Com tristeza, sinto que, no Brasil de hoje, é proibido sonhar. Imaginei a abertura da Copa com o balé Cisne Negro, o corpo de baile de São Paulo, respeitado no mundo, apresentando a primeira heroína do Brasil, a índia Clara Camarão, esposa do libertador Felipe. Ela comandou um grupo de mulheres guerreiras para expulsar os invasores holandeses. Minhas amigas Hulda e Dani Bittencourt, diretoras do Balé, entusiasmaram-se com a ideia. A pedido delas, escrevi o libreto da história. A mostra seria apresentada na solenidade de abertura, em São Paulo e em Natal. Mostraria a qualidade artística do País, valorizando os seus primeiros habitantes. Em uma festa de homens, seria louvor à mulher universal. O ministro Aldo Rebelo adotou a ideia e, depois, confirmou a mim e ao ministro Garibaldi Filho a aprovação da Presidente da República. O projeto foi apresentado e aprovado pelo Ministério da Cultura. Contrariando o consenso, a FIFA vetou. Dona da bola, é a mesma FIFA que manda suprimir partes dos hinos nacionais. Só que, nas arenas, o povo continua a cantar o hino completo.

A ciência do Brasil seria reconhecida por um paraplégico, dando vinte e cinco passos, auxiliado por um exoesqueleto e, no centro do campo, daria o chute inicial da partida. A criação, trabalhada durante meses pelo cientista brasileiro Miguel Nicolelis, foi relegada a um canto do estádio e visualizada, apenas, por rápidos segundos da televisão.

Onde a homenagem à natureza, à cultura, à arte, à ciência do Brasil? O povo sabe o que quer.

Diógenes da Cunha Lima – Advogado, Professor, Poeta, Escritor, Presidente da Academia Norte-riograndense de Letras    [email protected]

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