João Maria do Nascimento, 60 anos, o seu João do café, como é conhecido, trabalha há 31 anos como copeiro no Hospital Albert Einstein do bairro do Morumbi, na Zona Sul de São Paulo. Ele foi diagnosticado com Covid-19 no final do mês passado, ficou 11 dias internado no hospital onde trabalha e achou que não fosse mais servir pessoas, uma de suas paixões. A outra é correr.
Bom de conversa, seu João contou que começou a correr há 32 anos para se livrar de dores nas costas, mas gostou tanto que já disputou maratonas e correu a São Silvestre. Morador de Taboão da Serra, na Grande São Paulo, ele costumava correr 15 km – distância do hospital até sua casa.
Agora, seu João quer se recuperar para voltar a correr e a servir as pessoas. O que ele não imaginava era que fosse tão querido no hospital: na quarta-feira (22), ele ganhou uma festa surpresa dos funcionários do hospital ao receber alta. Leia o depoimento:
“Comecei a trabalhar no hospital como ajudante de cozinha e depois passei a ser copeiro. Eu amo ser copeiro, gosto de servir as pessoas e me sentir útil. Fico feliz de servir as pessoas.
Moro em Taboão da Serra. Comecei a correr depois do expediente, um dia sim, um dia não. São 15 km até em casa. A maior arma do corredor é um tênis, um short, um documento. Ando só com isso, o resto deixo no hospital. Desde os 28 anos eu corro. Já faz 32 anos!
Comecei quando era mais jovem porque eu estava com dor nas costas e na coluna. O médico me disse que eu teria de ir para uma academia ou fazer uma caminhada, que era dor muscular. Comecei a andar no parque da Oscar Americano, perto do hospital, e via aqueles corredores correndo.
Comecei a correr com eles, mas como eu era inexperiente, não aguentei. Cheguei em casa quebrado na primeira vez e desisti. Mas aí um colega me falou que quando eu acostumasse acabariam as dores. Continuei a fazer caminhadas e depois voltei a correr. Já corri na USP, no Ibirapuera. Já corri maratonas, São Silvestre… Eu não paro.
Uma equipe muito boa de médicos e enfermeiros cuidou muito bem de mim e graças a Deus estou aqui para contar essa história. O que eles fizeram por mim não sei como agradecer. Estava me sentindo em casa, não faltou nada para mim. Os médicos que eu servi mandavam abraço para mim e desejos de melhoras, mas nenhum que eu servia como copeiro cuidou de mim diretamente. Lá é muito grande, tem muitos médicos.
Uma coisa que eu não esperava era a festa que me fizeram quando eu saí do hospital. O médico chegou e disse que ia me dar alta. Fui arrumando minhas coisinhas porque meu genro estava me esperando la´embaixo para me levar. Aí chegou um senhor com uma cadeira de rodas e disse que ia me levar.
Sentei na cadeira, peguei minhas coisas e quando eu saí do quarto eu não esperava aquelas pessoas, eles me chamam de João de Café, estava no cartaz ‘João do Café’. Eu baixei minha cabeça e comecei a chorar, eu não aguentei. Eu não sei como agradecer. Foi tanta alegria, eu chorei de felicidade. Foi muito lindo.
Agora vou me recuperar bem e vou voltar as minhas corridas, eu amo muito a corrida, amo muito! Dia de domingo quando eu estou de folga eu vou para o Pico do Jaraguá, Vargem Grande, 5h da manhã estou correndo por aí. Meus colegas falam que vão correr comigo, e na hora desistem (risos).
Fonte: G1