COPO STANLEY – Barbara Seabra

COPO STANLEY –

Lá chego eu para mais um dia de trabalho. Carrego uma caneca de chá de hibisco com gengibre, limão e sem um grama de açúcar. Sim, é daqueles chás que tomo e torço a boca a cada gole, mas viciei nele e continuo tomando quase todos os dias.

Uma colega de trabalho para na minha frente e diz:

– Um copo Stanley! Como você é chique.

Parei olhando a minha caneca térmica companheira de todos os dias sem entender o significado da frase. Dou um sorriso sem graça, pergunto como está seu dia. E sigo em frente. Alguns minutos depois eu abri o aplicativo da Amazon quando, como num passe de mágica, aparece a sugestão para mim: Copo Stanley: $ 311! Dizem que os celulares estão assim, induzindo-nos. É verdade! Esta foi uma prova!

Olhei curiosa para o tal copo, que nem sabia de sua existência até cinco minutos antes.

O que ele tem de tão especial para custar esta pequena fortuna?

Não achei nada. Ele não aquece sozinho o meu chá de hibisco nem resfria sozinho meu chá mate com limão. Aliás, nem mesmo bate o chá para criar a espuma gostosa que amo. Ele é simples, apenas com o nome da marca e só. Algumas cores fofas. A letra numa fonte bonita. Pronto. Expus como ele é e me surpreendo com o preço.

O que leva um copo térmico a ficar famoso e ser cobiçado por várias pessoas sem oferecer nada além do que outros iguais oferecem? O que leva este copo a ter um preço cinco ou seis vezes superior aos demais? Luxo? Marketing? Não entendo.

Sei que minha caneca térmica foi presente que ganhei de dois alunos. Ela não é uma Stanley, mas carrega meus chás sem açúcar e feitos com amor para onde vou e me dão uma alegria imensa, mesmo torcendo minha boca quando as papilas gustativas percebem o azedo do limão. Carrego a caneca de um lado para outro, feliz por ter sido lembrada por eles e sabendo que a função de professor não acaba nas salas de aula, nas provas corrigidas, nem nos trabalhos passados. A gente deixa um pedacinho nosso em cada aluno que passa por nossas salas (virtuais ou físicas), assim como muitos alunos nos deixam marcas que carregamos para nossa vida.

 

 

 

Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, Professora universitária e Escritora

Ponto de Vista

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