COVARCHISMO –

 Este texto parecerá uma tentativa de fazer chover no molhado, por conta da notícia de que trata a matéria ter sido divulgada pelo país à exaustão. Nem assim controlarei a revolta que se avoluma em mim, desde a difusão da imagem de Elaine Peres Caparroz (55), agredida criminosamente no dia 16 de fevereiro último.

Um encontro engendrado durante oito meses de conversas numa rede social, por pouco não resultou num feminicídio. Sucedeu, porém, em 60 pontos na boca, o nariz fraturado, maxilar quebrado, um dente arrancado, a face dilacerada por socos de um lutador de jiu-jitsu e marcas da violência sofrida por todo o corpo da paisagista.

Uma mistura explícita de covardia e machismo, algo como um covarchismo – expressão do autor da matéria -, somente admissível em mentes doentes ou pervertidas, tamanho o estrago causado – no caso, a defesa alegou problemas mentais no agressor, um bem-apessoado estudante de direito de 27 anos.

A triste realidade é que, embora com o endurecimento das leis, a violência contra a mulher não estanca. Sequer mostra sinais de abrandamento. A cada hora 500 mulheres sofrem violências físicas ou psicológicas. Uma em cada grupo de quatro mulheres padeceram algum tipo de violência nos últimos 12 meses.

Eis que, uma leitora antenada na minha cruzada virtual de respeito ao sexo belo, enviou-me interessante publicação que faço questão de compartilhar. Não sei se a notícia procede ou é fruto da criatividade praticada na internet.  Porém, a ideia bem que poderia funcionar como solução extrema para o problema em tela.

Trata-se de sentença prolatada por Juiz de Direito da Villa de Porto da Folha, da Província de Sergipe, em 15 de outubro de 1833 – quase 200 anos atrás -, por conta de agressão física sofrida pela mulher de Xico Bento por um tal Manoel Duda, que a agarrou-a e a deitou no chão, “deixando as encomendas dela de fora e ao Deus dará”.

Diz o seguinte a peça condenatória transcrita ipsis litteris, ipsis verbis, supostamente obtida no Instituto Histórico de Alagoas:

“CONSIDERO: Que o cabra Manoel Duda agrediu a mulher de Xico Bento para conxambrar com ela e fazer chumbregâncias, coisas que só marido della competia conxambrar, porque casados pelo regime da Santa Igreja Cathólica Romana;

Que o cabra Manoel Duda é um suplicante deboxado que nunca soube respeitar as famílias de suas vizinhas, tanto que quis também fazer conxambranas com a Quitéria e Clarinha, moças donzelas;

Que Manoel Duda é um sujeito perigoso e que não tiver uma cousa que atenue a perigança delle, amanhan está metendo medo até nos homens.

CONDENO: O cabra Manoel Duda, pelo malifício que fez à mulher de Xico Bento, a ser CAPADO, capadura que deverá ser feita a MACETE. A execução desta peça deverá ser feita na cadeia desta Villa. Nomeio carrasco e carcereiro.

Cumpra-se e apregue-se editais nos lugares públicos.”

Depois de meia dúzia de macetadas nos possuídos de quem praticasse tais crimes, duvido que não parassem com as chumbregâncias desautorizadas de agora. E mais: dispensaria pregar-se editais em lugares públicas, pois a propaganda via redes sociais daria o recado ligeirinho.

Em tempo: MACETE é um tipo de martelo de madeira com cabeça no formato de paralelepípedo, ainda usado por carpinteiros e escultores. Arre!!!

 

 

José Narcelio Marques Sousa – Engenheiro e Escritor

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores

 

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