O segundo ano de pandemia de Covid-19 no Brasil teve seus momentos ruins e catastróficos, mas também trouxe um fio de esperança com o avanço da vacinação. O país chegou a bater quatro mil mortes diárias no primeiro semestre, mas chegamos ao fim do ano com mais de 65% dos brasileiros completamente vacinados.
Em algumas cidades, como São Paulo, 100% dos adultos já completaram o esquema vacinal. O número de internações e mortes também vem caindo. Novembro foi o mês com menos mortes desde abril de 2020 – o começo da pandemia.
Em junho, quando o Brasil bateu 500 mil mortes, o portal g1 entrevistou mais de 100 especialistas sobre a pandemia no segundo semestre. Perguntamos sobre o percentual de vacinados até o fim do ano, sobre vacinação em crianças com mais de 12 anos, sobre o abandono de medidas não farmacológicas e se o Brasil teria um novo período com média acima de 2 mil mortes.
Agora, no final de 2021, conversamos com três infectologistas que participaram dessa reportagem e tiveram análises certeiras sobre o cenário que vivemos no segundo semestre. Agora, eles apontam qual deve ser o foco de atenção em 2022. Podemos pensar no fim da pandemia? Além deste tópico, eles analisam:
- Vacinação em massa em 2022
- Como minimizar as aglomerações
- A possibilidade de vacinação anual
- A importância de uma comunicação clara e vigilância constante
- O surgimento de novas variantes
“O Brasil caminha bem, mas pessoas muito radicais ainda atrapalham muito. Precisamos de união e de força para continuar combatendo o vírus em 2022. Ainda estamos no momento de sobreviver. A pandemia não acabou”, alerta a infectologista Helena Brígido, vice-presidente da Sociedade Paraense de infectologia e Mestre em Medicina Tropical.
O infectologista da PUC-Rio Fernando Chapermann lembra que o coronavírus não vai sumir. Por isso, é muito importante o controle e medidas de bloqueio. “Em casos de surtos, precisamos bloquear o vírus. Precisamos de vacinação em massa.”
Vacinação em massa deve continuar
Para os especialistas, a vacinação é fundamental para frear e acabar com a pandemia. Para Charpemann, a única coisa que mudou o cenário no país foi a vacina. O Brasil termina o ano com mais de 65% da população totalmente vacinada.
“Precisamos manter a população vacinada, mesmo que a imunidade seja ‘limitada’, já que o vírus escapa. Se a população ficar totalmente vulnerável [sem vacina], o vírus voltará com força e uma nova onda pode chegar”, alerta Helena Brígido.
Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil terá 354 milhões doses em 2022, sendo:
- 134 milhões adquiridas em 2021
- 120 milhões de doses da AstraZeneca
- 100 milhões de doses da Pfizer
“Quem foi vacinado precisará de dose de reforço. Quem tomou duas doses, precisará de três, quem tem três precisará de quatro. Precisamos de doses, sejam iniciais ou de reforço”, completa a infectologista.
Fernando Chapermann concorda quea vacinação em massa é a chave para evitar números alarmantes em 2022. “Se eu tivesse que propor uma situação, focaria em quatro pilares: vacinação mista, proteção 100% das pessoas mais frágeis (com mais de 60 anos e doentes crônicos), manteria a CoronaVac no programa de imunizações e montaria tendas para atender pessoas com sintomas de gripe [fazendo testes para saber se é gripe ou Covid-19]”.
É hora de minimizar aglomerações
Para Brígido, falar em “evitar” aglomerações já não funciona mais. Agora, o foco deve ser minimizar essas aglomerações.
Já sabemos como funciona a contaminação do vírus: ele se propaga pelo ar. Sendo assim, é importante avaliar os riscos. Máscaras continuam essenciais, distanciamento físico também, assim como optar por espaços abertos.
A infectologista sugere um exercício: chegou em um local lotado? Procure outro. O restaurante está cheio? Sente em uma mesa afastada. E na hora da conversa, um item é essencial: a máscara.
“Precisamos ter consciência, saber onde estamos inseridos e o que fazer. Preciso saber em qual ambiente estou para saber como lidar. A carteira de vacinação em certos ambientes é importante, porque estamos falando de saúde pública”, completa.
Vacinação anual?
Ainda não sabemos se a vacinação contra a Covid-19 será anual, mas, assim como a gripe, estamos falando de um vírus. “O vírus não vai desaparecer. Teremos que atualizar a vacina, assim como a da gripe. A que eu tomei ano passado não será igual a desse ano”, explica Chapermann.
Para o infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, a vacinação no futuro vai depender do momento da pandemia.
“No período pós-pandêmico, não há sentido em ficar vacinando toda a população. Teremos, provavelmente, uma vacinação de grupos vulneráveis, algo semelhante com o que a gente faz na gripe. Até lá [o período pós-pandêmico], precisaremos manter altas taxas de proteção. Revacinar quem perdeu proteção, ampliar o número de vacinados, vacinar crianças“, explica Kfouri.
Comunicação clara e vigilância constante
Para evitar fake news que assustam a população, a comunicação dos órgãos municipais, estaduais e federais deve ser clara. “Os governos são fundamentais. Vemos cidades inteiras protegidas, que fizeram a vacinação em massa e estão indo bem. Agora é o momento de conscientizar a população”, diz Brígido.
Chapermann ressalta que a pandemia mostrou como vivemos em uma bolha. “Grande parte da população ainda não pegou a informação. Precisamos de informes mais claros: está com febre, dor de garganta e tosse? Procure ajuda”.
Além disso, é importante manter a vigilância constante e também o sequenciamento genético, que ainda é deixa a desejar no país. “Se a pessoa testar positivo, ela deve ser isolada. Também precisamos frisar a importância da higiene, etiqueta respiratória. Se você está gripado ou com febre, não circule, não vá para o trabalho”, completa o infectologista.
As variantes preocupam?
Em dois anos de pandemia, cinco variantes foram classificadas como de “preocupação”: alfa, beta, gama, delta e ômicron. A gama, que surgiu no Amazonas, foi responsável por milhares de mortes no Brasil. Já a delta, que fez estrago em muitos países, foi mais “leve” no país.
O surgimento da ômicron, no final deste ano, botou o mundo em alerta. Ainda não é possível dizer se ela fará estragos no país. Fabricantes de vacinas estão trabalhando e fazendo estudos para entender o impacto dessa nova variante nos imunizantes e cientistas seguem acompanhando a evolução da ômicron. Até agora, não se sabe se ela provoca mais casos graves e hospitalizações.
Vale lembrar que os vírus mutam a todo tempo e a vacinação é uma das chaves para evitar novas variantes de preocupação no Brasil e no mundo.
Fonte: G1