CRISE MORAL –
Corrupção, globalização da miséria, desigualdade crescente, desemprego estrutural (desaparecimento de profissões), privilégios absurdos, impunidade, indiferença ao sofrimento de milhões de seres humanos, preconceito em relação a minorias, violência, criminalidade, ausência do Estado nas periferias das metrópoles, maltrato e selvageria com os animais, consumismo sem controle (reproduzido em grande escala pelo shopping center, um mundo de ilusões), degradação do meio ambiente (desmatamento, poluição do ar, oceanos e rios), exploração econômica desumana, especulação e guerras, por interesse financeiro; entre outros filhos da ganância, orgulho e egoísmo. São características cruéis da crise contemporânea. Crise moral da humanidade.
Ensina o pensador, educador, Hippolyte Leon Denizard Rivail: “Se não se consagra um tempo suficiente para estabelecer com solidez o fundamento de uma casa, o edifício será construído rapidamente; mas se ele cair, será necessário recomeçá-lo e o tempo empregado será maior do que se não tivesse sido tão apressado no início”.
Ou seja, a chave está em construir sobre terreno firme e não sobre areia movediça.
Isso vale tanto para educar uma criança como uma nação, ou a humanidade inteira.
Em outras palavras, a solução dos problemas socioeconômicos está no aperfeiçoamento moral das grandes massas populacionais, pela conscientização dos indivíduos desde sua infância.
“É pela educação, mais do que pela instrução, que se transformará a humanidade” (Obras Póstumas, p.384); “pois, se pela instrução se desenvolve a inteligência e o conhecimento; pela educação se forma o caráter”.
O que estamos vivendo, convivendo, à luz do paradoxo da modernidade?
Cogito sobre a condição humana no atual contexto ocidental, tropical.
O medo ameaça. Todos temos medos.
Eduardo Galeano ensina: “Se você amar livremente, terá AIDS; se fumar terá câncer; se comer vegetais e carnes, será intoxicado, e terá infarto; se respirar, será contaminado; se beber, terá acidentes; se pensar, terá angústia; se falar a verdade, terá desemprego; se fugir do que não pode mudar, terá solidão; se duvidar das normas, enlouquecerá…”
Por outro lado, os maravilhosos avanços na área da Tecnologia da Informação – celular smartfones em primeiro lugar – tem obcecado e gerado dependências preocupantes.
Pela primeira vez na história da humanidade, temos uma dependência coletiva atingindo gravemente milhões de pessoas. Perigosíssimo!
Temos a possibilidade concreta de enlouquecermos aos milhões, com transtornos ligados à ausência de sono restaurador, ansiedade, perda da noção de tempo, desligamento da realidade, dupla personalidade, entre outros.
Por essas e outras é que, de vez em quando, sou tomado por uma tristeza imensa e profunda, pouco entendida pelos que me cercam ou pelos poucos que ainda se dão ao trabalho de ler o que escrevo.
Na sociedade (líquida, fragmentada) do espetáculo, onde tudo é descartável, o que está valendo não é a fantasia ou a imaginação; o que vale é o “show” acompanhado do escândalo, de querer destruir tudo que tenha valor duradouro, ou tradição.
Editam vídeos ofensivos, destroem símbolos, expõem intimidades, agridem por intolerância; e desumanizamo-nos todos a cada dia.
Cá no meu canto, fico assuntando como foi que os seres humanos conseguimos andar para trás. Desconfio que a casa moral da humanidade foi construída apressadamente, sobre areia.
Será?
Rinaldo Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com
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