AB DALTON MELO DE ANDRADE

Dalton Mello de Andrade

             Quando leio os jornais do dia, acompanho os malfeitos que nos perturbam, os ataques, mais das vezes merecidos mas muitas vezes exagerados, aos governos e políticos, me vêm a lembrança assuntos dos quais participei. Nem sempre o que se diz e se faz representa a realidade.

Quem está na chuva é para se molhar, diz o velho ditado. Foi o meu caso, quando aceitei ser Secretário de Educação no Governo Cortez Pereira. E não fui inocente. Já sabia dessa possibilidade, especialmente num momento de política um tanto acirrada. Mas, há criticas positivas, que você pode e mais das vezes deve aceitar, e há as negativas, que só procuram desgastar o criticado.

            Para quem é bem intencionado, que quer dar o melhor de si pela comunidade, as criticas muitas vezes são injustas e, algumas vezes, justas, mas não entendidas. Passei por essa experiência, e comento apenas duas que me permanecem na memória. Uma, critica positiva, importante, e que me deu a chance de mostrar abertura e flexibilidade, reconhecer e corrigir o erro e, no contexto, descobrir amigos que intervieram para ajudar. E como ajudaram, mesmo sem ter um relacionamento estreito comigo. Mas, depois disso, se tornaram amigos de infância.

            O primeiro caso foi mais grave. Era um processo iniciado para o aumento dos professores – sempre com seus salários defasados – e que buscávamos corrigir. O cálculo era feito por hora/aula, Tínhamos, como acho que ainda hoje há, professores que não eram em tempo integral e recebiam por hora. Um grupo interno fez os cálculos necessários, preparamos a mensagem à Assembléia Estadual, que foi encaminhada pelo Governador.

            Um deputado mais atento, não me lembro quem, fez as contas e descobriu que alguns professores iriam ganhar menos do que estavam recebendo, e fez um estardalhaço, com razão. Refizemos nossas contas e ele tinha razão. Fomos procurados pelo Presidente da Assembléia, Moacyr Duarte e, com a ajuda de técnicos do Tribunal de Contas, cedidos por Romildo Gurgel, corrigimos o problema e reenviamos a proposta, agora acertada. E aprovada.

            Moacyr, me vendo angustiado, me deu uma lição que não esqueci. Dalton, disse, você é novo nessas lides e tem que se acostumar, para deixar de sofrer. Tem que criar um “couro grosso”, que o proteja das criticas, mesmo justas. Eu, macaco velho, tenho o couro tão grosso que até as farpas mais violentas resvalam e não me atingem.

            Aprendi, pois a segunda critica, injusta, me atingiu, mas muito menos. Os colégios do Estado não tinham uniformes padronizados. Cada escola tinha o seu próprio. Saia ou calça azul marinho, camisa ou blusa branca; saia ou calça verde, camisa, blusa, branca; todo branco; e alguns nem uniformes tinham. Um aluno que saía de uma para outra escola, muitas vezes, era obrigado a comprar nova farda. Um absurdo.

            Resolvi padronizar e, como a maioria usava o azul, optei por essa cor. Houve reclamação (sempre há). O jornal da oposição, sempre ácido, insinuou que a mudança era para apagar a lembrança da esperança verde de Aluízio, o que nem sequer tinha passado pela minha cabeça. Respondi como devia e mantive minha decisão. As razões da padronização e da economia das famílias foram deixadas de lado pelos críticos. Com o couro mais grosso, isso ainda me afetou, porém bem menos. No final, o jornal parou de me azucrinar e até a me apoiar em outros momentos. Briga de família.

            Essa foi uma experiência que muito me ensinou e que, hoje, me leva a pensar duas ou mais vezes antes de aceitar tudo o que dizem os periódicos. O velho grão de sal.

 Dalton Mello de Andrade – Ex secretario de Educação do RN

 

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