Uma simples manha de terça feira, em pleno verão. Daqui da rede estendida na varanda da casa de praia, sozinho, deitado, pensativo, vejo o céu azul e olho as nuvens, que se movem lentamente na direção leste-oeste.
Nas primeiras horas apos o nascer do sol o espetáculo ficou por conta dos pássaros. Inúmeros deles, em voos frenéticos. Orquestra de muitos sons afinados, os mais variados tipos de canto, proporcional ao numero de espécies que habitam esse pequeno santuário ecológico, de onde se pode ver sobre as falésias uma sobra do que foi outrora a Mata Atlântica.
Depois as nuvens chegaram lentas, negras e densas e rapidamente se agruparam como num bloco monolítico, derramando uma chuva abundante, copiosa. Lavou a grama, as plantas, os jardins, os telhados das casas, os paralelepípedos das ruas, mas não lavou a minha alma. Esta continuou embotada, tensa, inquieta.
Agora, já próximo do sol a pino, da hora que separa a manha da tarde, as nuvens negras se afastam e se amontoam no horizonte longínquo, compactas, mas já bem distantes. Dando lugar aqui ao brilho do sol sobre a tela esverdeada do mar.
Ao longe ouço o som de uma musica e dos belos acordes de um violão correto e sensível, vindos de uma casa vizinha. A piscina em forma de meia lua e com água transparente, reflete o azul do céu e convida a um mergulho. Penso sobre essa possibilidade. Talvez ela me faca o bem que a chuva não fez.
Levanto-me da rede e caminho em direção à borda de mármore branco. O sol queima a pele, mas a brisa ameniza com o vento batendo forte no meu rosto. Olho para o leste e vislumbro novas nuvens negras. Ainda distantes, mas bastante ameaçadoras.
Resolvo dar o meu mergulho, para aproveitar o tempo enquanto o sol brilha. Paro de refletir. Por conseguinte, de escrever. Vou mergulhar. Ao longe, vindo do mar, o estrondo de um trovão. Peço a Deus que a chuva permaneça no oceano. Pelo menos por alguns minutos. Porque agora, por enquanto, aqui, só eu, o sol, a piscina e a minha alma pensativa.
Nelson Freire – Economista, Jornalista e Bacharel em Direito