(*) Rinaldo Barrros

É verdade. Tenho um caso de amor com a vida.

Acho o mundo fascinante. Tenho olhos parecidos com os olhos de uma criança.

Acredito que é fundamental ver o mundo com olhos de criança, como se o estivesse vendo pela primeira vez. Na verdade, a gente sempre vê o mundo pela primeira vez.

O mundo que vi há um segundo, não existe mais. Tudo se transforma permanentemente.

Quero aqui confessar que, nos meus tempos de ginásio, hoje ensino médio, e de faculdade, minhas leituras nada tinham a ver com as obrigações escolares. Eram prazeres.

No velho casarão, o Colégio Estadual de Pernambuco – onde somente fui aceito após haver sido aprovado no Exame de Admissão – havia aulas de leitura: o professor lia poemas para nós estudantes, por puro prazer. Não ia cair na prova. Nem no vestibular…

As crianças, logo que aprendiam a ler, aprendiam também o prazer de consultar os dicionários. Quantos estudantes consultam hoje os dicionários?

Aliás, aprendi com o filósofo Rubem Alves que, ao retirar a imprecisão da linguagem falada, os dicionários cometem um assassinato. Os dicionários não, os gramáticos. Os gramáticos são os anatomistas da língua. Lidam com um corpo morto.

Por isso, confesso também que estou desconfiado do formato desse Plano de Desenvolvimento da Educação, com suas “metas qualificadas”.

Apresentado como uma das grandes apostas do segundo mandato do presidente Lula, o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) poderia, de fato, atingir o seu objetivo e ajudar a melhorar a educação no país. Mas, ainda não saiu do papel.

Contudo, para que saísse do papel seria necessário superar uma série de desafios: desde redefinir de onde serão retirados os bilhões que o governo prometeu investir, até uma mudança de mentalidade, que inclui a “aceitação generalizada de uma cultura de gestão baseada em indicadores e metas”.

A propósito, o orçamento federal para 2015 foi aprovado com cortes de 69 bilhões de reais, atingindo os ministérios da Educação (9,4 bilhões), da Saúde (11,7 bilhões), tudo com uma inflação oficial perto dos 10% (dez por cento) ao mês. Tudo isso na “pátria educadora”. Uma baita de uma contradição!

Não consigo acreditar nessa possibilidade, acho muito técnica, sem alma.

Temo que essa gestão “científica” escorada apenas em indicadores e metas objetivas não seja suficiente para acordar o patropi entorpecido de miséria e exclusão. Torço para estar errado.

Aprendi que a vida humana não se define tecnicamente. Educar exige amor solidário.

Esse Plano (PDE) trouxe o tema da avaliação para o centro do debate educacional, revelando sua complexidade e ao mesmo tempo a necessidade de se ter em conta as múltiplas facetas nele implicadas, que devem ser analisadas com bastante cuidado e profundidade.

Temo que as metas sejam cumpridas mecanicamente, para mostrar serviço. Temo o resultado da fome crônica no cérebro de milhões. Temo que deficientes auditivos ou disléxicos, por exemplo, sejam considerados, objetivamente, inaptos. Temo que se aprofunde a exclusão.

Os dados quantitativos só adquirem sentido e potencial de transformação na ponta – isto é nas escolas – quando complementados com dados e estudos qualitativos, passíveis de serem interpretados e compreendidos por cada realidade escolar.

Somente alcançaremos um efeito verdadeiramente transformador e sustentável na melhoria da qualidade da educação se gestores, professores, pais e alunos colocarem suas almas nesta luta, como se fora a missão para a qual decidiram dedicar suas vidas.Estou convicto de que somente um extraordinário movimento revolucionário será capaz de incendiar os corações para cumprir esse desafio.

É preciso ter um Projeto de Nação, um caso de amor com o povo brasileiro.

Quem sabe uma nova Constituinte, com o advento do Parlamentarismo no patropi?

Para concluir, recomendo ao leitor o filme “O Sol é para Todos” (1962), dirigido por Robert Mulligan e protagonizado por Gregory Peck, no papel de um advogado.

Uma crônica sobre a juventude perdida.

(*) Rinaldo Barros é professor –  rb@opiniaopolitica.com

 

Ponto de Vista

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