José Narcelio Marques Sousa
Não se trata de nenhuma tara, maldade, crueldade ou algo do ramo como insinua o termo. Falar em crudívoro é como falar de vegetariano, carnívoro, mamífero, lactovegetariano, vegano, celíaco (intolerante a glúten), frugívoro (comedor de frutas) ou ovovegetariano, pessoas adeptas de quaisquer dessas filosofias alimentares. O crudivorismo ou “alimentação viva” é uma doutrina alimentar em que os alimentos são de origem agrícola, mas, consumidos crus.
Ser crudívoro é abster-se de carboidratos, glúten e lactose. Desde já, adianto não ser um crudívoro nem manter qualquer pretensão de sê-lo algum dia. O pouco que aprendi foi num bate-papo com adeptos dessa alimentação esdrúxula. Mas vamos e venhamos, concordando ou não é interessante nos inteirarmos de como funciona a dieta… Ops! Desculpem-me! Quero dizer a doutrina alimentar.
Nesse catecismo nada pode ser cozido ou desidratado para evitar a perda de nutrientes. A base da alimentação são frutas frescas, sementes, vegetais, grãos germinados ou brotos de trigo, arroz, cevada, centeio, aveia, lentilha, ervilha, grão de bico e algas. Nada de utilizar condimentos.
Na visão científica os alimentos crus são ricos em enzimas. As enzimas, por sua vez, são as responsáveis pelo transporte dos nutrientes às nossas células. Daí se afirmar ser a alimentação crua uma alimentação enzimática – ao cozermos os alimentos destruímos suas enzimas.
Então eu pergunto: não será mais um modismo de ocasião? Na verdade todos esperam obter de uma alimentação equilibrada o bem-estar para uma vida saudável ou um corpo sarado e sadio para dele se orgulhar. Mas, não é também este o objetivo das dietas, retomar o perfil perdido e as medidas de antigamente? Não é à toa que em nome da forma perfeita surge a cada temporada uma fórmula mágica para o corpo perfeito.
Quem não ouviu falar das dietas da sopa, das proteínas, do homem das cavernas, da mastigação, do ovo cozido, da Lua, do limão ou da papinha de neném? Todas vão e voltam numa facilidade incrível provocando o efeito sanfona no corpo do indivíduo. Isso mesmo, o vai e vem de emagrecer e engordar.
Passar a vida inteira comendo alimentos crus deve ser uma dureza. O indivíduo depois de haver provado seus pratos prediletos cozidos, assados ou refogados, suspender repentinamente a rotina para enveredar pelo crudivorismo não é fácil. E nada de dizer que a boa gastronomia não é um dos prazeres da vida, porque esse papo não cola.
E quanto aos riscos de intoxicação ou contaminação por substâncias tóxicas contidas no cultivo dos vegetais? Sim, esse negócio de usar vinagre, lavar com esponja ou deixar de molho em água é balela, pois não retira coisa alguma dos agrotóxicos dos alimentos. Entendo que a melhor opção para mim é continuar integrando a classe dos onívoros: comer um pouco de tudo com ou sem condimentos, e assando, cozinhando ou refogando os alimentos, quando for necessário.
Em tempo: ao concluir este texto li nas páginas amarelas da revista Veja, desta semana, entrevista com o filósofo americano Alan Levinovitz, que disse o seguinte: “Comer não é somente um hábito para ser saudável e manter o peso. É também divertir-se com amigos, desfrutar cultura e história. Não podemos transformar os alimentos em remédios”.
José Narcelio Marques Sousa – é Escritor e Engenheiro civil – [email protected]