Zé de Rosa não era de reclamar. Era muito econômico e vivia dentro das “quatro linhas” do dinheiro do seu salário de ferroviário. Família grande, com esposa e cinco filhos, aguardava com ansiedade o décimo terceiro.
Quando saía o pagamento, esse dinheiro já tinha destino certo. Junto com a esposa Elza, os dois compravam calçados novos, para eles e os filhos, e cortes de tecidos para que ela, que era costureira, confeccionasse as roupas que eles vestiriam nas festas de natal e final de ano.
Do dinheiro do décimo-terceiro, não sobrava um “tostão”. Além de calçados e tecidos, Zé ainda gastava com presentinhos de Natal, que costumava dar a alguns familiares.
Não tinha para onde correr. Terminava o final de ano “liso, leso e louco”.
Fazia tudo para não dever a banco. Conseguia esse propósito, com muito sacrifício, até o final de novembro.
Quando entrava dezembro, tudo se desmantelava novamente, por causa das “despesas natalinas”, que desequilibravam suas poucas finanças.
Zé de Rosa era mais um pobre brasileiro “da Silva”, assalariado, que via tocha todo final de ano. Só entrava o ano novo devendo muito. Já estava ficando careca e não conseguia se aprumar.
A luta contra o consumismo, o delírio provocado pelas propagandas da televisão, e a tentação do pagamento em “parcelinhas”, oferecidas pelo cartão de crédito, que se arrastaria durante todos os meses do ano seguinte, levavam Zé de Rosa a um dilema: “Dever ou não dever.” E a roda-viva, de compras de final de ano, levava Zé de Rosa à depressão.
Mal entrava o novo ano, vinham as obrigações com IPTU, matrícula dos filhos em colégios, e material escolar.
Desesperado, no ano que passou, resolveu fazer uma lista de compras prioritárias, para as crianças pobres da sua própria casa: seus filhos.
Se continuasse dando “festas” à família toda, como costumava fazer, mesmo tendo recebido o décimo- terceiro, seria obrigado a contrair dívidas para pagar em parcelinhas.
Resolveu encarar a esposa e abrir o jogo. Teriam de conter os gastos. Afinal, eles tinham cinco filhos para sustentar. Aliás, esta cena acontecia todos os anos, religiosamente.
Ao entrar o novo ano, Zé de Rosa sempre “caía na real”. Observava que o custo-benefício dessas festas de final de ano não compensava. Materialmente, só tinha prejuízo. Como ele aniversariava uma semana depois do Natal, nessa noite, todos se justificavam, dizendo que só lhe dariam a lembrança de Natal no seu aniversário.
Lógico que o mais importante não era a troca de presentes e sim o calor humano, que toma conta das pessoas na mágica Noite de Natal. Mas ele não podia mais “abarcar o mundo com as mãos”. A situação financeira dele estava “russa”. E, mais uma vez, entregou os pontos.
Como sempre acontecia, tentou convencer a família de todos passarem as festas de fim de ano numa praia. E os costumeiros presentes passariam a ser distribuídos somente nos respectivos aniversários.
A ideia não foi aceita. Todos protestaram, indignados, e terminou havendo a reunião do Natal em sua casa, do mesmo jeito. E a harmonia da família reunida, como sempre acontecia, compensou qualquer preocupação com parcelinhas.
Daí, vale a pena rememorar o antigo ditado: