DA CARONA NO CORONA –

Vou baixar um pouco o nível pra tentar fazer-me, sabe Deus, entendido. Tô de saco cheio. Pensei que não ia ficar, mas estou. Sabe o porquê ? Porque até se chegar a uma vacina (a da AIDS ainda não deu o ar de sua graça) todo o mundo vai estar meio fodido mesmo. A depender de tratamentos farmacológicos sintomáticos com drogas cuja eficácia e segurança ainda não estão plenamente estabelecidas e das técnicas de ressuscitação, invasivas ou não, nas UTIs e corredores de hospitais.

O desespero está propiciando testes aleatórios, até compreensíveis dada a urgência da situação, de muitos fármacos pra deter a evolução ou prevenir o aparecimento da Covid-19. O leque é imenso: antibióticos, antivirais, anticoagulantes, hormônios, antimaláricos, anticoagulantes, plasma de convalescentes. Até remédios que combatem piolhos e lombrigas. E por aí vai. O que reflete o desconhecimento ainda parcial da real fisiopatologia da enfermidade, sua evolução, bem como os eventuais desdobramentos da ação viral.

A escalada da pandemia por aqui continua e as evidências sugerem, e estão a começar me convencer, que sem alguma forma de segregação as coisas tendem a piorar. Difícil de ser implementada na sua plenitude. Por um lado, quem não tem grana não a prática por uma questão pura e simples de sobrevivência. Por outro, quem tem condição financeira suficiente fica confortavelmente, em parte enfurnado em casa, perdido entre o receio, o medo, e o tédio. O fato é que as pessoas contraem doenças, se recuperam ou morrem a depender, em princípio, das suas defesas naturais. O curso de uma epidemia, seja ela pós-moderna ou não, é sempre assim.

A única medida que se mostrou de algum modo eficaz até agora foi o isolamento social, eis a questão. Pra anuviar mais ainda a situação vivenciamos uma assistência hospitalar precária desde sempre. E a ignorância do povo manipulada por gestores oportunistas e apedeutas. Vivemos a fase da expectativa. A era dos iludidos. Das falsas esperanças. Que venham as tantas vacinas ora em fase de pesquisa. Que esses testes medicamentosos de alguma forma funcionem. Afinal, hoje a pandemia no Brasil é primordialmente uma questão política. Infelizmente.

 

 

José Delfino – Médico, poeta e músico
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