DA CINTURA PARA CIMA –
Acho que uma das coisas que mais me encantam é ouvir histórias. Quando conheço os personagens, imagino-os naquelas cenas contadas. Quando não os conheço, consigo criá-los com riqueza de detalhes. Hoje, ao ouvir contações, muitas vezes pergunto se tem foto! Geralmente vejo o celular sendo sacado e, de repente, conheço aquela pessoa. Pronto! Já sei qual rosto será pensado diante das frases ouvidas. Se não tenho com quem conversar, abro um livro e viajo por mundos mil!
Entretanto, tem algumas histórias que têm um pouco mais de magia. Elas não contam sobre princesas e príncipes (em segundo plano) com seus cavalos brancos ou Ferrari vermelha. Nem madrastas más, animais falantes, fadas madrinhas.
Amo as histórias de família. Os contos. Os causos. As figuras icônicas, com histórias absurdas, dignas de novelas dos anos 1980. Penso em novelas como Tieta ou Roque Santeiro que tinham um quê de verdade diante de figuras ilustres retratadas caricaturadas. No fundo, acho que existiram em algum lugar escondido de nosso país…
Assim, pertinho do Natal, viajamos para Campina Grande para rever minha família paterna. As conversas regadas a risadas e mesa farta acabam se voltando para nossas origens. Que bom!
Uma tia conta a relação de vovô com seus irmãos. A outra conta os apelidos inusitados que vovô era capaz de colocar. Ouvimos sobre seus namoros, seus inícios de vida e como tudo mudou.
De repente, a irmã de um tio solta a pérola: namoro cuidadoso deve ser da cintura para cima, da cintura para baixo é perigoso. Num tempo tão diferente do que nós vivemos, onde namoro é namoro e a cintura nem importa tanto, penso no conflito geracional diante da liberdade que se tem. Ela continuou contando que namoro “naquela época” era com os familiares ao redor, que segurar na mão era um marco e o beijo… ahhh, como beijar naquelas circunstâncias?
Uma geração diferente!
Tão cheia de coisas para nos ensinar. Tão cheia de memórias para compartilhar.
Tão rica.
Gratidão por essas pequenas coisas que, no fundo, fazem a diferença nas nossas vidas, não importando se ainda temos ou não cintura como registro para por limites…
Bárbara Seabra – Cirurgiã-dentista, autora de “O diário de uma gordinha” e Escritora