Da colonização aos dias atuais (I)

Adauto José de Carvalho Filho

Eu estava lembrando dos dias de minha meninice como estudante da rede pública de ensino que, à época, podia ser chamada de “escolas públicas” pelo alto nível de ensino, qualidade dos professores e eficiência do sistema educacional, bem diferente dos dias de hoje onde tudo não passa de peças de marketing e de enganação. O sistema de ensino público, se tivermos sorte com futuros governos estadista, o que é improvável, daqui a cinquenta anos recuperará o desaparelhamento a que foi pensadamente submetido e do desrespeito às crianças que serão educadas para construírem um pais sério. Por enquanto, lamentavelmente, prevalece a falta de prioridade como política pública e sobra exemplos de homens públicos que, com suas condutas não republicanas, transformaram o pais na mais perversa mixórdia.

Relembro os velhos livros de História do Brasil de Borges Ermida e o ufanismo que caracterizava os fundamentos programáticos do sistema educacional e tínhamos como heróis os bravos portugueses que expulsaram os franceses e os holandeses da Terra Brasilis e, alguns fortes construídos para a defesa da costa brasileira, ainda testemunham tamanha sandice. Por que expulsaram os franceses e holandeses e nos ensinaram que isso contribuiu para a formação da nação brasileira? No pouco tempo que passaram por aqui, como invasores, deixaram marcas que os portugueses não conseguiram em desastrosas tentativas de colonização até servir de rota de fuga para um imperador covarde que se tremia de medo do baixinho Napoleão Bonaparte.

Devíamos ter expulsado os portugueses e deixado os franceses e holandeses? A cidade do Recife, no Estado de Pernambuco, seria inimaginável sem a presença dos holandeses. O Conde Maurício de Nassau deixou os alicerces da linda cidade que temos hoje e que dos portugueses não tem nada, nem o idioma, ora pois, pois. Eis a diferença. O Brasil e os Estados Unidos da América foram colonizados no mesmo período de tempo e hoje um é a maior potência econômica do mundo e nós, mesmo gigante pela própria natureza, ainda patinamos no desafio do desenvolvimento social e econômico e nas traves da ética e da moral social. Inteligentemente, os EEUU albergaram, em sua colonização, os fundamentos do iluminismo e tiveram, em seus colonizadores, com realce para os ingleses, a destreza da construção de uma nação grande. E conseguiram.

O Brasil, deitado em berço esplêndido, foi colonizado por saqueadores portugueses, em especial, a família imperial, que só interessava a extração do que significava riqueza na época: pau brasil e o ouro, como exemplos e a cultura do clientelismo começou com a colonização. As capitanias Hereditárias foi o malogrado exemplo e, depois de outras tentativas mais malogradas ainda, como os Governos Gerais, serviu de cativeiro para um Imperador medroso e inútil, que do Brasil se serviu para não enfrentar o Imperador Francês.

Outro desastroso exemplo da famigerada chegada da família real ao Brasil foi o fato do Imperador trazer, no fundo de malas falsas, o então poder judiciário português que exercia os seus poderes vinculados à corte. Não tínhamos poder judiciário. A corte tinha. As provas se acham albergadas nas muitas leis afonsinas, manuelinas e filipinas, subalternas e servis, que compunham o ordenamento jurídico brasileiro até pouco tempo. O nosso Direito Positivo começou negativo servindo a um Imperador pródigo e falido que sustentou sua estada no país vendendo títulos de nobreza aos mercadores, que sem origem nobre, mas com riqueza amealhada com o trabalho fecundo, passaram a compor uma corte sem qualquer objetivo político e construtivista de uma futura grande nação.  Nobres sem dinheiro e mercadores sem nobreza. Assim nasceu os primórdios da nação brasileira.

Os fracassos foram contínuos. Os modelos de colonização fracassaram, os muitos movimentos revolucionários praticados pela elite e em seus interesses, uma independência fajuta, tão breve quanto o grito que atribuem ao imperador, degenerado como sua corte; o dia do fico, outra artimanha do destino desse país que jamais teve na dignidade de seus homens públicos, o respaldo moral para a nação, nem o ético para o Estado. Nascemos órfão e assim continuamos.

Adauto José de Carvalho Filho, AFRFB aposentado, Pedagogo, Contador, Bacharel em Direito, escritor e Poeta.  

As opiniões contidas nos artigos são de responsabilidade dos colaboradores
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