DIOGENES DA CUNHA LIMA

Diógenes da Cunha Lima

As flores são efêmeras e os baobás são quase eternos. Um baobá pode viver entre três e seis mil anos. Conta-se em dias a vida de uma flor. Encantam-me igualmente a fragilidade das flores e a fortaleza dos baobás. Há quase duas décadas, venho mantendo o baobá de Natal. Não tem sido fácil, mas afaga o coração. Todos os anos, mando fotografar a sua floração. A flor do baobá é outra maravilha. Começa com um botão verde, abre-se em branco, torna-se creme, marrom e termina aveludado com leve tom violeta.

O baobá domina a paisagem da Rua São José, indiferente aos nossos desvarios, devaneios, amado pelas crianças dos colégios que o visitam, vezes até mal entendido por pessoas grandes.

O Pequeno Príncipe menciona que a sua rosa, ao nascer, poderia ser confundida com um baobá. Aliás, a sua rosa é única no universo e é presença sentida em todo esse livro-fábula, traduzido em 102 línguas, best-seller apenas superado pela Bíblia. A rosa é símbolo espiritual, representante da mulher. Seria Consuelo, a mulher de Saint-Exupéry com seu amor, contradições, separação? Seria Vênus, não inteiramente pura, ou representaria a pureza da Virgem Maria? É rosa-mulher, uma aparição nascida junto com o sol, orgulhosa e exigente, mas que diz escolher cuidadosamente as cores de sua beleza.

Se eu fosse capaz, traduziria assim as flores do bíblico mandamento: Amai as xananas do campo! No asteroide B-612 existem flores muito simples, ornadas de uma só fileira de pétalas. Aparecem de manhã na relva e, à tarde, elas murcham (como as nossas xananas).

O Pequeno Príncipe é livro para ser lido por pessoas de todas as idades. Transmite o essencial invisível, valores de que tanto carece a humanidade: respeito, confiança, doação, amizade, amor, fé, esperança e caridade.

É pouco? São valores muitas vezes esquecidos, mas que continuam a existir como as flores que em nós permanecem e como os baobás que, com sua longa existência, lembram que a vida supera a condição humana.

Diógenes da Cunha LimaEscritor, Poeta e Presidente da Academia de Letras do RN

 

 

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