DE CARONA NO CORONA –
Estava vendo um comentário de Alexandre Garcia. Em meio a explanação ele saiu com esta “pérola”: “… e agora esta vacina que vai estar disponível no país, que funciona 50% pra uns e para a outra metade, não…”. Feita uma pausa de efeito, proposital, ele exibiu aquele ar de desesperança, própria dos leigos no assunto que não entendem ou não captam bem os meandros, os detalhes, e as possibilidades de raciocínio oriundas de uma análise estatística acurada, como vem sendo feita. Vou tentar me fazer entender.
Existem dois métodos basilares em Estatística, o baseado em dados numéricos reais para todas as suas variáveis ( testes paraméricos ). Neles são estabelecidos o universo ,o que se irá pesquisar, as limitações clínicas das pessoas que participarão da amostra, a assinatura do termo de consentimento, e por aí vai. Ao final, os números são tabulados e aplicados a eles cálculos que envolvem a obtenção das modas, médias, significâncias, margens de segurança etc. Eis o método usado nas atuais pesquisas sobre as vacinas contra o “corona”. No outro (os testes não paramétricos) os números a serem analisados estão abaixo da escala de intervalo (não são valores reais) e portanto, não seriam indicados para uso no caso específico das vacinas. Nele são criadas escalas analógicas com impressões subjetivas e a elas alocadas gradações através de números (que não são necessariamente numéricos), letras e símbolos. Até emojis poderiam ser usados. A esses dados seriam aplicados outros tipos de abordagem, como o providenciado pelo teste em U (o de Mann-Whitney, o mais conhecido) onde não são aplicados os cálculos referidos para o teste paramétrico, e sim a distribuição dos scores nas amostras. Faço referência a este detalhe para se saber que existem opções viáveis e seguras para tudo em Estatística. O que Alexandre Garcia não falou é que a maioria dos cientistas que dão entrevistas meio que se enrola pra explicitar em público os achados restantes sobre os outros 50% que não serão totalmente imunizados. Os que, eventualmente irão se contaminar de forma leve, sem graves consequências clínicas. Todas as vacinas funcionam e vão continuar a funcionar. Afinal, a que iremos receber funcionará de maneira idêntica a todas que já tomamos desde criança. A desinformação, de cunho político e ignorância, é abominável. E o status do precário conhecimento, uma pena.
Esses bichos são inimigos invisíveis a olho nu. E a população que na sua maioria não tem leitura como hábito, reage da forma esperada. Convivemos com eles (os bichos) há séculos. Talvez eles, em relação a nós, só queiram casa e comida.  Mas como eles não falam, a rigor não dá pra saber. As evidências disponíveis sugerem que, mais por nossa culpa, eles causam devastações. A verdade é que convivemos com eles bem antes de sermos “Sapiens”. E são duros na queda. Tem bicho pro que der e vier. Sabiam que existe um micro organismo chamado Bacillus infernus que não causa doença alguma e sobrevive até em água fervendo? Sabiam também que, enquanto a gente foge feito o diabo da cruz de substâncias radioativas, existe um bichinho chamado Micrococcus radiophilus que se alimenta de urânio e plutônio? Para eles uma hecatombe nuclear seria o “must. A lista desses patógenos é muito grande. Daí vacinação ser imprescindível. Claro que as medidas profiláticas bastante conhecidas atenuam o processo. Mas não o solucionam, além do que não praticá-las seria uma posição burra e egoísta. Eu vou me vacinar. Se der sopa, eu serei o primeiro da fila. Recomendo a todos que o façam. Não existe outro “way out” eficaz. E mal educado e duro o corolário: quem quiser que se foda. Eu , não!
José Delfino – Médico, poeta e músico
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