“Quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que não sabem voar” (Friedrich Nietzsche, filósofo alemão 1844 / 1900)
A conversa de hoje é um contraponto entre dois temas, contraditórios e imbricados um no outro.
A UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura – http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/), em novembro de 2005, distribuiu um documento (Rumo às Sociedades do Conhecimento), coordenado por Jérôme Bindé, o qual “incita as autoridades governamentais a investir em uma educação de qualidade para todos, a multiplicar os locais de acesso comunitário às tecnologias da informação e da comunicação, e a encorajar o compartilhamento do saber científico entre os países afim de reduzir as diferenças numéricas e cognitivas que separam o Norte do Sul e também abrir o caminho para uma forma “inteligente” de desenvolvimento humano sustentável”.
Para os autores, não deveriam existir excluídos nas sociedades do conhecimento, posto que o conhecimento é um bem público que deveria estar disponível para todos nós.
Desde então, venho assuntando cá no meu canto: como poderemos entender a explosão de revoltas sem causas, sem bandeiras e sem lideranças, envolvendo jovens e adultos, autoconvocadas via redes sociais, e promovendo o vandalismo contra tudo o que representa o poder; movimentos fermentados nas periferias das áreas urbanas degradadas do mundo inteiro? Qual a origem real deste fenômeno?
A propósito dessa questão, um dos principais pensadores norte-americanos, Michael Hardt, considera que, hoje, qualquer país europeu reúne condições para a eclosão de distúrbios similares aos que ocorrem em Los Angeles, no Brasil, no Egito ou no México. Já ocorreram em Paris, em Madrid, em Atenas…
E eu ouso acrescentar que qualquer país reúne as mesmas condições, desde que pratiquem modelos econômicos excludentes e opressores; semelhantes ao que vivenciamos aqui no patropi; sob o PT governo.
A meu sentir, os acontecimentos atuais não são uma luta contra qualquer governo que eventualmente esteja de plantão, mas contra a estrutura de pobreza e exclusão. E acrescento, estrutura sustentada pela manipulação, pela propaganda, pela repetição sistemática de mentiras e ilusões. Em contraste com a realidade.
São os pobres se rebelando contra sua exclusão e subordinação na sociedade.
Sim, há diferenças culturais e étnicas que demarcam a linha dos conflitos nos dois casos. Mas o essencial nos dois casos é a existência de pobreza e exclusão social.
Não é surpresa que esse tipo de conflito chegue na era da globalização e da internet.
Esse tipo de pobreza e exclusão é resultado do modelo econômico, que tem o “deus mercado” (o consumismo) como regulador de todas as questões, igualmente no Rio de Janeiro, na cidade do México, em Paris, Nova Orleans ou São Paulo. Ou, como diria Zé Ninguém, Oropa, França e Bahia.
Para Hardt, nos tempos atuais não há mais sentido em falar apenas em dominação de um Estado nacional sobre o outro, mas, sim, de uma nova forma de soberania: um “poder em rede” formado por instituições supranacionais, grandes corporações capitalistas dominando o mundo inteiro.
Acrescento que o grande capital internacional (volátil) é essencialmente especulativo. Sua estratégia tem um único foco: o lucro máximo. Sem qualquer compromisso com o Desenvolvimento do ser humano.
Face a essa realidade cruel que nos agride perigosamente, e para recarregar as baterias da esperança, é importante conhecer e divulgar o documento da UNESCO “Rumo às Sociedades do Conhecimento”.
Aponta a educação como a única saída para evitar a barbárie.
Ao mesmo tempo em que se deve aumentar os investimentos em pesquisa, é preciso promover novas formas de partilhar o conhecimento. Também é preciso promover a diversidade lingüística e as culturas locais.
Nada assombroso, nem revolucionário. Apenas um dever de casa que todos já deveríamos ter feito.
Doloroso é constatar que, apesar de tudo o que fizemos, e após um rosário de decepções – após 27 anos da Constituição cidadã, o povo brasileiro – traído e enganado pelo lulopetismo – continua prisioneiro do jugo secular. Os sonhos de toda uma geração foram jogados no lixo da história.
Na verdade, a rigor, a maioria do povo brasileiro ainda tem medo de ser livre! Tem medo de voar.
Para entender tudo isso, recomendo a leitura do livro “Mistificação das Massas pela Propaganda Política”, de Serge Tchakhotine, tradução de Miguel Arraes – Ed. Argumento, Brasília-DF.
O caro leitor verá que, definitivamente, está comprovado: “de ilusão também se vive”.
Rinaldo Barros é professor – [email protected]