Em agosto passado, assisti por uma rede de TV, a retrospectiva dos chamados “anos de chumbo” desde março de 1964 até o período das diretas já. O documentário cinematográfico e fotográfico exibido realçou de forma abundante a reação da classe estudantil brasileira contra o regime militar. Vários depoimentos de líderes estudantis à época, hoje circunspetos e envelhecidos cidadãos, de diferentes camadas sociais, pintaram com tintas negras as prisões, as torturas, os espancamentos, a que foram todos submetidos. Lutaram contra o cerceamento das liberdades individuais, pelo restabelecimento do estado de direito e por eleições livres e democráticas.
Artistas do rádio e da televisão, estudantes, profissionais liberais, políticos como Brizola, Ulisses Guimarães, Miguel Arraes, José Serra e tantos outros escreveram, com gestos e atitudes, muitas páginas de desprendimento e coragem. Mas, foi a UNE (União Nacional dos Estudantes) liderada por Guilherme Palmeira e vários companheiros que travaram nas ruas de São Paulo, do Rio de Janeiro e de Brasília com a polícia e os órgãos repressores, a luta desarmada e desigual por aquilo que mais acreditava: a volta do país ao regime democrático. O universitário brasileiro tornou-se a figura marcante da resistência. Na segunda fase do domínio político militar surgiu o estudante secundarista, os “caras pintadas” para protestar contra o regime e depois contra o trêfego Fernando Collor de Melo.
Deduz-se uma reflexão pontual e elementar de todo esse acervo patriótico: por que a UNE, os “caras pintadas”, a classe universitária brasileira não se levantam para protestar quando o assunto hoje é corrução oficial, impunidade administrativa, degeneração dos costumes políticos e desmoralização do serviço público. Os primeiros anos do novo milênio fase da roubalheira do dinheiro público, lastreado por CPIs, jamais se ouviu um libelo, um grito, um apito, um gemido da UNE ou dos diretórios acadêmicos ou ainda, da maquiagem facial da turma secundarista nacional. Este ano, ninguém bateu ponto na praça dos Três Poderes para pedirem a cassação dos alagoanos Renan Calheiros e Arthur Lira, presidente da Câmara Federal. Mas, o conterrâneo Collor que pecou menos, de lá foi expulso às carreiras.